“Cazuza me ensinou a compor”, conta Bebel Gilberto
Artista foi a convidada de edição especial em homenagem ao poeta do talk show Me Cante Uma História, de Natália Boere, repórter de VEJA Rio
Amigo por quem era chamado carinhosamente de “maninha”, Cazuza foi mais do que um irmão para Bebel Gilberto. Foi ele quem fez ela acreditar que era capaz de compor e insistiu para ela investir na carreira artística. Lembranças de momentos inesquecíveis que viveram e de músicas que fizeram juntos foram compartilhadas pela artista numa edição em homenagem ao ídolo do talk show Me Cante Uma História, de Natália Boere, repórter de VEJA Rio, realizada nestas sexta (25), na exposição Cazuza Exagerado, no terraço do Shopping Leblon.
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“Quem me ensinou a compor foi o Cazuza. A gente (ela e o sérvio Mitar Subotic, o Suba, morto em 1999 em um incêndio) começou a compor muito por influência dele. Ele pediu muito para que eu continuasse a compor (depois que ele morresse) e a cantar também”, contou Bebel, em referência ao parceiro e produtor musical do seu disco Tanto Tempo, lançado em 2000, que vendeu quase 3 milhões de cópias.
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Ela lembrou, aos risos que estavam compondo a música que dá nome ao disco no estúdio de Suba quando a luz acabou, porque ele tinha esquecido de pagar a conta. O produtor musical teve que descer para tentar resolver o problema com o porteiro e teve uma surpresa ao retornar.
“Quando ele subiu, falei: ‘já estou com a letra e a melodia prontas. Vamos gravar?’. A letra baixou inteira. E olha que eu com letra, principalmente pelo peso do Cazuza, sou meio paranoica. Gosto de escrever, revisitar, tentar melhorar, por causa da minha gramática limitada. Coisa de mudança de língua, de inglês para português e para espanhol”, relatou a filha de João Gilberto e Miúcha, que nasceu em Nova York, onde morou por cerca de 30 anos, e passou um período na infância no México com os pais.
Um dos maiores sucessos de Cazuza, Preciso Dizer que te Amo, foi composto em parceria com Bebel e com Dé Palmeira, primeiro baixista do Barão Vermelho, na casa dos pais do poeta na Fazenda Inglesa, em Petrópolis, região serrana do Rio. A artista recordou que, quando eles estavam sentados à beira da lareira, tomando um vinho, ele pediu: ‘maninha, por favor, puxa aquela melodia’. E ela cantou: ‘quando a gente conversa’.”
“Cazuza ficou com esse rótulo rock and roll, que aliás, abraça maravilhosamente bem. Mas tinha esse lado romântico. Era um príncipe, me protegia muito. E estava lendo a Bíblia, muito obcecado por tentar juntar o amor com a tortura de amar. Nos anos 1980, a gente não falava que gostava, ficava e saia correndo. Era muito maluco isso, era cafona provavelmente”, constatou Bebel.
O refrão original, revelou a artista, tinha influência dessa fase meio bíblica de Cazuza, mas ele acabou acatando a opinião dos parceiros e concordando em mudar a letra.
“Ele levou o cassete, disse que já tinha entendido a melodia e voltou com a letra praticamente pronta. Mas, no refrão, que era “é que eu preciso dizer que te amo”, ele falava “desentalar esse osso da minha garganta”, inspirado na Bíblia. E a gente disse “oi? Caju, não!”. Aí eu vim com “te ganhar ou perder sem engano”. E a gente foi aprimorando, mas ela não deu muito trabalho não”, relatou Bebel.
Para Ramon Nunes Mello, curador da mostra Cazuza Exagerado, o encontro de Natália com Bebel Gilberto “foi histórico e muito emocionante, principalmente por estar no contexto da exposição, onde a memória do Cazuza está muito viva”.
“Foi lindo assistir a Bebel relembrando histórias com Cazuza e cantando os sucessos e poemas pouco conhecidos. Esse projeto Me Cante Uma História é muito bonito, pois traz a possibilidade de as pessoas que são fãs dos artistas, que admiram o trabalho deles, conhecerem um pouco mais em profundidade a história de uma canção”, resumiu Ramon.
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