Cultura: Angela Mascelani, do Museu do Pontal, é eleita carioca do ano

A antropóloga pôs a mão na massa e reergueu o espaço cultural em novo endereço, após uma série de alagamentos que ameaçou o precioso acervo de arte popular

Por Kamille Viola
Atualizado em 17 dez 2021, 09h53 - Publicado em 17 dez 2021, 06h00
Angela Mascelani
Angela Mascelani: à frente do Museu do Pontal (Rogerio Von Kruger/Museu do Pontal/Divulgação)
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Bastava ter início o período de chuvas na cidade para que as instalações do Museu do Pontal sofressem com inundações, pondo em risco o maior acervo de arte popular do Brasil. Obras de Mestre Vitalino, Zé Caboclo, Manoel Galdino e outros artistas de diferentes regiões eram retiradas às pressas do local toda vez que a água subia. A situação se repetiu por dez anos consecutivos, até a história desembocar em um fecho feliz.

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Em outubro, após a realização de campanhas de financiamento coletivo pela internet que amealharam quase 300 000 reais, a instituição e suas 9 000 peças ganharam nova morada: um moderno edifício de concreto na Barra projetado pelos mesmos arquitetos que assinam algumas galerias do Instituto Inhotim, em Minas Gerais.

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O imóvel possui amplas janelas, iluminação natural, jardins assinados pelo Escritório Burle Marx e soluções sustentáveis, como um sistema de reúso da água da chuva, que deixou de ser uma ameaça. “Após tantos anos, é um sonho realizado”, resume, aliviada, a antropóloga Angela Mascelani, que é a guardiã das obras há 25 anos.

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“Após tantos anos vendo o trabalho de uma vida ameaçado, reabrir o Museu do Pontal é um sonho realizado.”

Paulista de Marília, Angela veio morar no Rio aos 19 anos para estudar na Escola de Teatro Martins Penna. Foi lá que, logo ao chegar, em 1976, conheceu o marido, Guy van de Beuque, artista com múltiplos interesses e filho do colecionador francês Jacques van de Beuque, que garimpava peças de arte popular em suas viagens pelos rincões do país. Foi ele que fundou o Museu do Pontal, criado inicialmente para abrigar sua coleção.

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A instituição abriu as portas ao público em 1992 e, quatro anos mais tarde, passou a ser administrada por Angela e Guy. “A gente implantou todas as áreas ali, de museologia, restauro, conservação e pesquisa até comunicação, administração e receptivo”, lembra Angela, que perdeu o marido, precocemente, em 2004, quando ele tinha 51 anos. “A gente estava na Índia montando uma exposição quando ele morreu. Foi desestruturante”, desabafa.

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Àquela altura, o filho mais velho do casal, Lucas van Beuque, formado em economia e cinema, já vinha trabalhando com os pais e abraçou, junto com a mãe, a missão de reerguer o novo Museu do Pontal, uma preciosidade para cariocas e turistas que agora podem mergulhar sem medo nesse rico acervo de arte popular brasileira.

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