“Meu filho nunca será esquecido”, diz o pai do menino Henry Borel

Depois do assassinato do filho, aos 4 anos, o engenheiro Leniel Borel batalha por uma lei que endureça a pena para crimes contra crianças

Por Luiza Maia
Atualizado em 18 jun 2021, 16h09 - Publicado em 18 jun 2021, 06h00
Liniel Borel
Leniel Borel: "Se for para salvar uma vida sequer, eu e Henry estaremos juntos nessa causa" (Reprodução/Instagram)
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Desde que o meu filho morreu, venho martelando a pergunta: o que eu posso fazer para que a morte de Henry não seja em vão? Um menino educado, alegre, carinhoso, tranquilo, que não fazia mal a ninguém e se divertia com qualquer pessoa que quisesse brincar com ele. Meu menino teve seu futuro interrompido brutalmente. Não desejo vingança a Monique nem a Jairo (a mãe da criança e seu namorado, o ex-vereador Dr. Jairinho, ambos denunciados por homicídio triplamente qualificado), mesmo com todo o mal e a dor que causaram. Mas quero, sim, justiça e vou brigar por isso.

O problema é que, com as leis que temos no país, sabemos que logo eles podem estar soltos. Hoje, de acordo com o Código Penal e o Estatuto do Idoso, a pena de reclusão por abandono ou maus-tratos que resultem em morte é de apenas quatro anos. Isso mesmo: quatro anos, podendo chegar a doze. Um absurdo.

Tempos atrás, o Brasil se chocou com o assassinato de Isabella Nardoni (também assassinada, aos 5 anos, em 2008), e nada mudou desde então. Nenhuma lei foi criada com foco nas crianças e na proteção da vida delas. Acredito que meu filho não morreu apenas para pôr a mãe e o padrasto na cadeia. Meu desejo é que, com o caso dele, que me toma de uma dor profunda, de longe a maior que já senti, outras vidas inocentes possam ser salvas.

Esse propósito ficou muito claro quando recebi a carta do papa Francisco. Lá ele dizia: “Não se deixem contaminar pelo ódio transformando-se à sua imagem e semelhança. Deste modo ajudarão a parar o mal”. Foi muito emocionante ler aquela mensagem. Ela me deu forças para batalhar por uma punição justa para assassinatos cometidos justamente por quem deveria ser o primeiro a zelar pela proteção das crianças: pais e mães, madrastas e padrastos, pessoas que fazem parte da família.

Hoje, está muito claro para mim que Jairo acreditava piamente na impunidade. Talvez pelo dinheiro, ou pelo poder, não sei dizer. Mas se ele soubesse que permaneceria trinta, quarenta anos na cadeia após cometer um crime, será que ainda assim teria agredido meu filho a ponto de matá-lo?

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Quando entreguei Henry à Monique naquele dia, jamais poderia imaginar que a mãe não seria capaz de mantê-lo seguro. O exemplo que eu recebi da minha própria mãe foi de acolhimento e amor, alguém capaz de dar o sangue para me proteger — nunca alguém capaz de esconder que o filho sofria agressões do namorado, um criminoso. Pela indignação que isso me traz, eu pedi para entrar como assistente de acusação no processo contra Jairo e Monique.

Meu coração se aperta com a sensação de culpa quando penso que não dei a devida atenção aos sinais de socorro emitidos pelo Henry. Aconteceu o pior, e eu nunca mais poderei ver meu filho. Todas as semanas têm sido de choro e luto desde sua partida. Seu sorriso aparece constantemente em cada memória. Seus primeiros passos, o primeiro sorriso, as primeiras vezes que falou “papai”, “mamãe”, “vovó”, a primeira vez que ele escreveu seu nome — tudo ficará para sempre comigo, mas isso também dói demais.

É difícil enfrentar os dias. Sempre lutei para que ele tivesse uma base para conquistar tudo o que quisesse — ser médico, engenheiro, advogado, em qualquer escolha eu o apoiaria. Trabalhava incansavelmente para isso. Agora, estou de licença, recebendo suporte psicológico e psiquiátrico, de duas a três vezes por semana, e tomando medicamentos para aguentar a dor.

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Tento buscar forças diariamente para sair da cama, quebrar a inércia que me consome. Por enquanto, consigo apenas acompanhar a investigação, sempre em busca da verdade para que se faça justiça. Tenho certeza de que meu filho faria o mesmo por mim. Uma lei estadual com o nome do Henry, que prevê prioridade nas investigações de crimes hediondos que resultem em morte de crianças e adolescentes, foi sancionada em maio pelo governador.

Mas nós vamos brigar por uma lei federal. Já alcançamos mais de 500 000 assinaturas no abaixo-­assinado para pedir apoio da sociedade e passarmos pelo crivo da Câmara dos Deputados, e a meta é chegar a 1 milhão. Este é só um começo — um recomeço. Se for para salvar uma vida sequer, eu e Henry estaremos juntos nessa causa. Meu filho nunca será esquecido. Isso é o que me dá força. Em depoimento a Luiza Maia.

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Acesse o link do abaixo-assinado em https://www.change.org

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