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“Ser branco no rap não é um obstáculo”, diz Filipe Ret

Atração desta quinta (19) e deste sábado (21) no Rock in Rio, rapper falou com VEJA Rio em entrevista exclusiva

Por Kamille Viola
Atualizado em 19 set 2024, 21h46 - Publicado em 19 set 2024, 21h42
Filipe Ret: estreia na edição de 2024 no Sunset
Filipe Ret: estreia na edição de 2024 no Sunset (Diego Padilha/Rock in Rio)
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Um dos grandes nomes do trap nacional hoje, Filipe Ret se apresentou no Rock in Rio nesta quinta (19), no Palco Sunset, ao lado de Caio Luccas, e volta ao evento no sábado (21), abrindo o Palco Mundo com o show Para Sempre Trap, que vai Cabelinho, Filipe Ret, Kayblack, Matuê, Orochi, Ryan SP e Veigh.

Em entrevista exclusiva a VEJA Rio antes de sua estreia na edição de 2024 do festival, ele falou sobre preconceito contra o trap, maturidade, a exposição que vem com a fama, ser branco dentro de uma cultura negra e outros temas.

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O trap está tomando conta da programação de vários festivais, no Rock aqui in Rio tem um monte de artistas também. Como você vê o rap, e, principalmente o trap, ocupando esses espaços?

Eu não sei se vale a pena a gente separar o rap do trap. Eu vejo como uma coisa só. A timbragem musical que é usada no trap foi resgatada lá de trás, era usada no funk, por exemplo. Eu acho que o trap é onde se encontram o funk e o rap, trazendo muito elemento diferenciado de melodia, mais liberdade, a meu ver. E isso fez isso democratizou muito o rap, facilitou muito a entrada de mais artistas.

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O que você acha dessa crítica de que o trap estaria se distanciando das origens do rap, já que muitas vezes o foco é na ostentação?

Acho que tudo isso faz parte. Desde lá de trás, a história do hip hop foi alguém novo chegando e as pessoas criticando, dizendo que isso não é rap de verdade. A história da música também não só do hip-hop, mas na história da música sempre foi assim, então isso faz parte do do processo de aceitação. O lance da ostentação é a medida de como você enxerga o mundo, se você acha que vale a pena colocar mais ou menos é uma decisão individual. Você planta isso e colhe, né? Os que colocam mais isso, colhem uma coisa; os que colocam menos isso, colhem outras, e os que conseguem equilibrar isso colhem de outra forma.

Você é mais velho do que boa parte da galera do trap, tem uma estrada mais longa do que muitos. Acha que fazer sucesso mais velho te ajudou te trouxe maturidade para lidar melhor?

Tenho certeza (risos). Eu vejo todos os moleques aí… Mas até anos atrás também era mais complicado para mim, hoje eu consigo discernir um pouquinho melhor, pela maturidade mesmo da idade, da vivência das das coisas da idade biológica mesmo.

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O que o aconteceu com que hoje você pensa que hoje lida melhor, você se deslumbrou?

Eu acho que é enxergar as coisas de forma um pouco mais simples mesmo, a gente vira pai, você tem outras compromissos também, absorve mais coisa, ganha mais conhecimento, mais experiência, você tem uma bagagem maior. Isso vai fazendo você conduzir as coisas com mais com mais direção, mais frieza, até, de certa forma, no final você percebe que é tudo muito parecido. Porque o mercado em geral é entretenimento, ele é muito semelhante, ele segue muitas regras que são as mesmas regras de muitos anos atrás.

Como essa fama que você alcançou, sua vida pessoal acaba sendo exposta. Como você lida?

É a forma de alguns abutres sobreviverem, eu vou fazer o quê, né? Mas infelizmente pegam alguma coisa e distorcem, para ganhar clique. Acho que não é uma forma muito legal de se viver, mas cada um vai colher o que planta. Se fosse mostrando coisas bacanas, acho legal, mas ficar ali querendo inventar coisas. Eu já sofri muito com coisa de inventada, distorcida, fora de contexto. E nem respondo, porque, se eu responder, eu estou levantando para mais gente ver as distorções, então acabo ficando na minha, prefiro trabalhar.

Você é um artista branco dentro de uma cultura negra, que é o rap. Você tem uma estrada, mas como você encara o seu papel dentro dele? Você sente uma responsabilidade?

Eu acho que tem que ter essa visão de que é um movimento negro. Ao mesmo tempo, eu tive uma vivência de rua, uma morei na subida de favela, quebradinha mesmo, então tenho essa vivência, essa cultura. Isso torna as coisas mais visíveis para mim, eu consigo pegar mais a visão em relação a isso, mas tem que ter sempre isso em mente: é black music, né? Porque, mesmo que fora do país eu não seja branco, aqui eu sou. Mas não vejo isso como obstáculo, eu sei levar, porque eu sempre convivi com isso, sempre vivi no meio de geral, entendeu?

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