Continua após publicidade

Luciano Szafir e as sequelas da Covid:“Luto para não cair em depressão”

O ator de 52 anos fala sobre o lento e doloroso processo de recuperação após ficar mais de um mês internado

Por Marcela Capobianco
Atualizado em 24 ago 2021, 13h29 - Publicado em 20 ago 2021, 06h00
Luciano Szafir sorrindo em foto preto e branco
Luciano Szafir: "Virei o cara mais medroso do mundo, mas aprendi que a felicidade está nas pequenas vitórias" (./Arquivo pessoal)
Continua após publicidade

Tive alta do hospital em um sábado, 24 de julho, após 32 dias de internação, uma embolia pulmonar, uma cirurgia de emergência no intestino e, para completar, uma colostomia. Venci a Covid-19, mas a doença me deixou como herança um monte de encrencas.

A principal delas é a luta para não cair em depressão. Agradeço a cada minuto por ter saído dessa. Por ter tido a sorte de sobreviver e voltar para casa, enquanto mais de meio milhão de brasileiros tiveram a vida interrompida pelo novo coronavírus.

Mas a recuperação é lenta, exige muita paciência, e não só a minha, mas a de todos à minha volta. Mesmo fora do hospital, ainda sinto muito medo por tudo que venho passando para me recuperar.

As noites são sempre difíceis. Eu me deito e não consigo pegar no sono. Logo vêm à cabeça lembranças do momento em que fui intubado, a pior experiência da minha vida. Não conseguia respirar e tive a certeza de que morreria.

Aos 52 anos, estou fazendo terapia pela primeira vez. Também me apeguei à meditação e à fé. Ainda no hospital, me reaproximei da religião judaica, e a conexão com Deus tem me ajudado muito a superar as dificuldades diárias.

Continua após a publicidade

Eu sempre fui muito ativo, destemido, mas hoje preciso de ajuda para coisas simples, como secar as pernas após o banho, já que não consigo me abaixar. Perdi 17 quilos e meus músculos foram embora. É duro olhar no espelho e não me reconhecer. A impressão que tenho é de que envelheci vários anos em poucos dias.

A Covid tomou metade dos meus pulmões e ainda sinto um cansaço tremendo. Faço uma hora de fisioterapia todos os dias e, quando a sessão termina, parece que corri uma maratona. A endorfina é uma recompensa. Antes de ficar doente, eu levantava halteres de 20 quilos na academia. Hoje, com muito esforço, encaro 2 quilos.

Outro dia, estava exausto após me exercitar, não conseguia nem me mexer. As crianças estavam brincando e eu comentei com a minha esposa (a cantora Luhanna Szafir) que, mesmo sem perceber uma melhora clara, já valia a pena estar ali, observando a movimentação e a alegria dos meninos.

Continua após a publicidade

Ainda terei de voltar ao hospital, para uma cirurgia de reconstrução intestinal em outubro, mas, depois, não vejo a hora de poder tirar férias em família, em um lugar calmo, sem celular, só aproveitando o tempo com meus três filhos.

+ Para receber VEJA Rio em casa, clique aqui

A verdade é que virei o cara mais medroso do mundo. Estou viciado no oxímetro (aparelho que mede a saturação de oxigênio no sangue). Criei um grupo de Whats­App com a junta médica que me acompanhou no hospital e toda hora coloco na roda uma pergunta, uma dúvida. Sou o chato de plantão, eu sei. Só que, neste momento, prefiro pecar pelo excesso.

Continua após a publicidade

A cada manhã, me sinto melhor, mas não me descuido. Envio um relatório completo para os doutores: meço pressão arterial, batimentos cardíacos, tudo. Pode soar clichê, mas tive realmente de chegar muito perto da morte para entender que é preciso pouco para ser feliz.

Quando estava na cama do hospital, eu só queria sentir o cheiro dos meus filhos, abraçá-los, tive pavor de não vê-los novamente. Poder estar ao lado deles é uma dádiva. A frustração e a depressão estão à espreita, e sei que a minha força vem da mente.

As pequenas vitórias, seja tomando um copo de água, seja caminhando alguns metros sem perder o fôlego, significam muito para mim, é uma superação. Nesta luta, estou certo de que é um degrau de cada vez.

Continua após a publicidade

Luciano Szafir em depoimento a Marcela Capobianco

Publicidade

Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

Impressa + Digital no App
Impressa + Digital
Impressa + Digital no App

Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

Assinando Veja você recebe mensalmente Veja Rio* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
*Para assinantes da cidade de Rio de Janeiro

a partir de 39,96/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.