“Os racistas não conseguem aceitar que cheguei ao topo”, diz Ludmilla

Em entrevista a VEJA RIO, Ludmilla abre o jogo sobre carreira, música, maternidade, religião e preconceito. “A fama não aliviou em nada a discriminação"

Por Marcela Capobianco
Atualizado em 16 jul 2021, 16h03 - Publicado em 16 jul 2021, 06h00
Ludmilla -
Ludmilla: planos para carreira internacional ganharam força durante o período de isolamento social (Pedrita/Divulgação)

Primeira mulher negra e latina a cravar 1 bilhão de execuções no Spotify, a cantora Ludmilla, de 26 anos, aproveitou o recesso de shows e lançamentos na pandemia — quando a marca foi batida — para amadurecer planos internacionais. “Antes era tanta correria que eu não conseguia focar isso”, diz a cantora que em junho se apresentou durante um jogo da NBA, a poderosa liga de basquete dos Estados Unidos. No topo da carreira, com presença marcante nos palcos, extensa lista de hits e números superlativos nas redes sociais (mais de 24 milhões de seguidores só no Instagram), ela conta que é alvo de seguidos e virulentos ataques racistas e homofóbicos — está casada com a bailarina Brunna Gonçalves desde 2019. “As redes viraram terra de ninguém. Qualquer um pode criar um perfil falso e destilar ódio, certo de que ficará impune”, dispara. Em entrevista a VEJA RIO por videoconferência, de sua casa na Ilha do Governador, Ludmilla abre o jogo sobre carreira, música, maternidade, religião e preconceito. “A fama não aliviou em nada a discriminação, muito pelo contrário”, desabafa.

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No fim de 2020 você saiu das redes sociais após receber uma série de ofensas racistas. Levou o caso à Justiça? Sim, entrei com as medidas cabíveis. Racismo é crime. Não podemos aceitar, deixar passar, não importa de que forma ou onde se manifeste. E hoje as redes sociais se tornaram terra de ninguém, um prato cheio. Qualquer um pode comprar um chip de 5 reais, criar um perfil falso e sair destilando ódio.

Acredita que deveria existir maior controle dos usuários? Claro. Na hora de criar um perfil, deveria ser obrigatório, por exemplo, cadastrar o CPF. Muita gente deixa de cometer crimes porque sabe que pode ser preso. Já na internet, quem ataca os outros tem certeza de que seguirá impune.

Seu comportamento nas redes mudou? Aprendi a duras penas a ser mais reservada, a não expor o cotidiano da minha família. Até uns anos atrás, eu mostrava minha vida toda ali. Agora, pensando na minha saúde mental, exponho o mínimo possível.

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A fama diminuiu ou aumentou a discriminação? Aumentou. Através da música, conquistei um espaço que é, ao mesmo tempo, maravilhoso e problemático. Muita gente não aceita que uma mulher negra e pobre chegue a um lugar de destaque.

Como você reage? A sensação é de que eu tenho que ser três vezes melhor que uma pessoa branca para ter o meu talento reconhecido. É uma realidade bem triste, mas a minha arma é o microfone. Já vi gente que me xinga no Instagram, mas grava vídeo dançando a minha música.

Você perdeu uma ação por injúria racial contra a socialite paulista Val Marchiori, que comparou seu cabelo a uma esponja de aço. Foi um baque muito grande? Não posso falar sobre esse processo porque ele ainda corre em segredo de Justiça, mas a decisão não me desmotivou em nada. Jamais vou parar de lutar contra os racistas e homofóbicos.

Pensa em ter filhos? Se você publicar que sim, os fãs vão achar que o bebê é para agora. Todo casal que se ama quer construir uma família. Engravidar está nos nossos planos, mas não agora. Ainda queremos viajar muito antes de ter um bebê.

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“A fama não aliviou em nada a discriminação, pelo contrário. Muita gente não aceita que uma mulher negra e pobre chegue a um lugar de destaque”

A pandemia atrapalhou a carreira internacional? Pelo contrário. Meu planejamento começou justamente durante o período de isolamento. Já havia sido procurada por produtores americanos, mas a correria dos shows no Brasil me impedia de ter conversas mais sérias. Na pandemia tive tempo para me organizar.

Planeja cantar em outro idioma? É mais fácil, porque as pessoas entendem melhor a letra, o recado. Mas também acho maravilhoso levar o português, junto com a batida do funk e esse suingue brasileiro, lá para fora.

O que falta para o funk alcançar um reconhecimento maior? Acho até engraçado falar disso. Antes da pandemia, eu dancei funk nas melhores baladas de Paris e Miami. Mas aqui no Brasil continua a ser um ritmo criminalizado, porque surgiu na favela. O funk já quebrou barreiras, mudou a vida de muita gente e é respeitado lá fora, apesar de parte dos brasileiros ainda torcer o nariz.

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Seu disco de pagode foi muito elogiado. Pensa em repetir a dose? Eu agora tenho duas carreiras, a Ludmilla do pop e a pagodeira. Estou até pensando em usar um pseudônimo nos próximos lançamentos nessa pegada mais romântica, porque a repercussão foi muito bacana. Sinto que abri caminhos para outras mulheres, já que o pagode é, tradicionalmente, masculino.

Tem vontade de experimentar outros ritmos? Ainda não existe um projeto concreto, mas gostaria de fazer algo para homenagear Jesus. Quem me conhece sabe quanto sou grata a Deus, mas o público não conhece essa minha devoção. E acredito que cantar seja a melhor forma de prestar uma homenagem, né?

Você sempre foi religiosa? Sempre acreditei em Deus, mas me aprofundei na palavra há dois anos, quando tive um problema na coluna. Sentia muita dor, não conseguia ficar de pé e a oração me salvou. Desde então, convido meus amigos a conhecer as palavras do Salvador.

Segue os preceitos de alguma igreja específica? Não. Eu organizo células, grupos de estudos da Bíblia. E lá está escrito que a igreja somos nós. Não existe uma doutrina, a gente só prega a palavra de Deus.

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Tem vontade de virar pastora? Acho que não. Sou muito pecadora para isso.

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