“A vida é para ser gozada”, diz Drica Moraes
Em cartaz com a segunda temporada de Férias, a atriz fala sobre sexualidade depois dos 50 e relembra o transplante de medula que salvou sua vida, há 15 anos

Comemorando as bodas de prata, um homem e uma mulher são convidados a se retirar de um cruzeiro depois de serem flagrados fazendo sexo por todo o navio. Essa é a premissa da comédia Férias, que reestreou no Teatro Claro Mais e segue em cartaz até 28 de setembro.
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Desta vez, Drica Moraes está acompanhada por Enrique Diaz ó que assina a direção junto a Debora Lamm e entra em cena no papel antes vivido por Fabio Assunção. A química entre os dois foi construída há muitas décadas: eles já foram um casal de verdade, assim como também fundaram juntos a incensada Cia dos Atores, no final dos anos 1980.
Em conversa com VEJA RIO, a atriz de 56 anos de idade e 40 de carreira quer quebrar o tabu acerca da sexualidade nessa faixa etária. Cheia de vivacidade, ela, que mora na Gávea e costuma caminhar até Botafogo para visitar a mãe, diz estar vivendo o seu auge, critica a falta de representatividade no audiovisual e celebra a cura da leucemia que a acometeu em 2010.
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Como é viver cenas tão íntimas com Enrique, seu ex-namorado? Não tem muito mistério. A direção optou por uma encenação menos literal: o figurino é um avental com o desenho dos corpos nus. As transas acontecem sem toque, o que é uma inovação enorme. Seria mais do mesmo fazer uma pegação e isso poderia afastar o público, que não se sente acuado em nenhum momento apesar do calor da história.
O texto foi uma encomenda sua ao Jô Bilac. O que buscava comunicar? Queria voltar aos palcos com uma comédia, pois vinha fazendo personagens muito densas, mães sofridas ou abandonadas. As pessoas estão precisando de alívio cômico, a vida está muito dura. Tinha o desejo de falar dessa mulher na faixa dos 50 anos, mas para mostrar a sua potência. É muito cafona estigmatizar essa fase apenas à menopausa.
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Os cinquenta são os novos quarenta? Cada idade tem sua beleza, mas as pesquisas indicam que seremos mais longevos e estamos mais preparados para isso. Fazemos ginástica, comemos melhor, tomamos vitaminas… tudo para conseguir carregar a nossa carcaça por mais tempo. Ainda temos tesão e estamos para jogo. Já foi essa história de tabu com as mulheres 50+. Estamos úmidas!
Acha que a sexualidade nessa faixa etária é discutida o suficiente? A peça fala bastante disso e vejo que bate no público num lugar que talvez precise mesmo ser mais falado. No audiovisual, o assunto é trabalhado na cota: temos a Odete Roitman que transa, mas a Tia Celina está lá sentada na poltrona em Vale Tudo. Falta corpo, falta libido. Para mim, é algo absolutamente dominado, pois entrei na menopausa aos 39 anos por causa da minha doença. Já reconstruí toda a capacidade do meu corpo, recuperei minhas ferramentas. Estou no auge da minha sexualidade e tenho tido muito prazer.
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Como foi passar por isso tão cedo? Foi uma pancada. Quando vieram falar comigo sobre climatério precoce, mandei saírem do quarto, pois só estava preocupada em saber se iria viver ou morrer. O curioso é que passei pelo processo de cura e fui ficando mais forte, ao mesmo tempo em que a menopausa acabou com a minha energia. Foram processos antagônicos muito fortes.
Em 2025, completam-se 15 anos do transplante. É difícil relembrar esse momento? Cada ano é uma celebração. Tenho enorme gratidão por esse grupo de pessoas que me salvaram, médicos, família e meu doador, que virou um sétimo irmão. Ficar cara a cara com a morte te coloca nos trilhos. Você passa a valorizar somente o essencial. Virei uma mãe melhor, uma filha melhor, uma amiga melhor, uma atriz melhor… Em todos os sentidos, foi só cura mesmo.
Acabamos de acompanhar a luta de Preta Gil. Passar por essa situação sendo uma pessoa pública torna as coisas mais difíceis? É uma escolha pessoal. Na época em que vivi tudo isso, as redes sociais não eram tão fortes e eu tive muita vontade de me isolar, até por estar com um filho pequeno. Cada um sabe o que é melhor para si e compartilhar aquilo certamente alimentava a Preta, criava alguma conexão espiritual. Isso não é passível de qualquer crítica.
Na peça, vocês vivem outro casal que produz vídeos adultos para a internet. Consumiria esse tipo de conteúdo? Tenho muita preguiça do virtual. Sou das antigas, prefiro o cara a cara, a piscadinha, o “vamos lá”. Tentei entrar no Tinder e não podia colocar uma foto minha, então coloquei do meu pé. Ganhei milhares de curtidas (risos). Só descobri o que é OnlyFans com o espetáculo, que acabou sendo um estudo desse algoritmo sexual.
Férias também é sobre o amor? É uma comédia muito bem escrita, que tem verticalidade sem trazer peso. Ela fala sobre um amor mais maduro, de quem escolheu ficar junto sem tirar o brilho um do outro. Aquela relação que é ressignificada todos os dias. Está valendo a pena? Estou feliz? Estou escutando e sendo escutada? Tive dois casamentos longos e sei que eles podem ser uma bênção ou uma armadilha. A gente vale muito e nossa vida é para ser gozada.
A instituição do casamento está acabando ou só mudando de forma? Não há veredito. As pessoas ainda podem ser muito felizes casadas, mas também podem descobrir novas formas de serem duplas. O importante é ser responsável consigo mesmo e com o outro. Meu melhor casamento foi com o pai do meu filho — adotei sozinha e comecei a namorar o Fernando (Pitanga, médico) na mesma época, e logo depois fiquei doente. Ele assumiu esse papel, de uma forma não tradicional. Nunca nem moramos na mesma casa. Foi a melhor relação que tive.
Tem vontade de casar de novo? Não, casamento não é muito para mim. Claro que estou aberta a tudo e às vezes somos atravessados por algo que não estamos esperando, mas tenho curtido ter encontros, ficar, namorar… Me doo e tudo é profundo, mas passageiro — o que tem me feito muito bem.
Está apaixonada? Que perguntinha difícil… Só respondo na presença do meu advogado.