Artista. Não (necessariamente) produtor de conteúdo
Quem vê os corações que chegam pela Live no Instagram por minuto, não vê a solidão que é cantar sozinha num quarto à noite sem receber aplausos no final
Na falta de palco, teve Live. Ô se teve. Mas é que teve tanta Live que, uma hora, nem mesmo o público aguentou e a audiência das mesmas foi caindo com o passar dos meses. De março pra cá, cantore(a)s, dançarino(a)s, atrizes, atores, músicos, musicistas, percussionistas, artistas plásticos, pintore(a)s, entre outras diversas segmentações desse rico universo cultural que a arte nos proporciona foram diretamente afetados pela pandemia e viram todo o seu ano profissional ir por água abaixo. Sem previsão de retorno, com a necessidade urgente de se comunicar com o público e gerar renda, a solução foi tentar adaptar para a internet aquilo que antes era uma experiência presencial incomparável.
Rodas de samba gravadas à distância, cenas de teatro transmitidas para uma câmera, shows de fantoches gravados pelo celular, entre tantos outros formatos de apresentações que surgiram neste contexto pandêmico e tentaram driblar a completa falta de perspectiva de eventos com aglomerações, o apogeu do trabalho artístico. Mas quem vê os milhares de corações que chegam pela Live no Instagram por minuto, não vê a solidão que é cantar sozinha num quarto à noite sem receber aplausos no final. Quem vê as imagens de divulgação do festival organizado à distância, não vê o sufoco que é pingar algum dinheiro no crowdfunding para torná-lo viável. Está sendo árdua a missão dos artistas de se reinventarem neste momento e hoje a coluna é empaticamente em solidariedade a eles.
Artistas de todos os tipos tiveram que aprender, do dia para a noite, como produzir conteúdo nas redes sociais para continuar relevantes e descobrir rapidamente que a tarefa é muito mais difícil do que parece. A readequação de mundo que o Coronavírus nos trouxe fez com que as redes sociais fossem exploradas em velocidade máxima por pessoas que não tinham nenhuma intimidade com as palavras “engajamento” e “algoritmo” e precisaram aprender a usa-las como ferramenta de trabalho. Neste ínterim, o palco virou transmissão ao vivo, a audiência digital um controverso validador de sucesso e a equação de como monetizar toda essa presença digital passou a ser a pergunta de ouro.
Por outro lado, é preciso enxergar as oportunidades que essa grande crise trouxe para o setor. Quem tomou para si a tarefa de vir pra frente da câmera e vestir o personagem do criador de conteúdo descobriu um mar de oportunidades que serão incorporadas às habilidades artísticas para quando a pandemia passar. Em vez de cantar apenas para a bolha do seu público cativo na casa de shows de sempre, abriram-se as portas de todos os palcos do mundo. No lugar de uma comunicação digital pautada apenas na sua agenda de apresentações, descobriu-se a proximidade com o público conquistada por muito bate-papo ao vivo e respostas imediatas. Que a vacina venha e os novos criadores de conteúdo possam, assim como toda a população, voltar a dar seus shows.
Carla Knoplech é jornalista, fundadora da agência Forrest, de conteúdo e influência digital, consultora e professora