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Daniela Alvarenga

Por Daniela Alvarenga, médica, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

É dos carecas que elas gostam mais?

A evolução do transplante capilar e dos tratamentos para calvície

Por Daniela Alvarenga
Atualizado em 31 jul 2020, 10h01 - Publicado em 29 jul 2020, 19h00
 (Instagram/Reprodução)
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Muito se tem falado em queda de cabelo este ano, entre outros motivos, pelo estresse emocional. Mas esta diminuição sazonal dos fios é diferente da alopécia androgenética, que leva a calvície total ou parcial. Como o próprio nome diz, está relacionada à causa genética. Talvez seja a questão dermatológica que mais assombra os homens, embora também atinja um percentual menor de mulheres. A adesão dos pacientes nem sempre é satisfatória, pois é preciso tratar a vida inteira e muitos homens ainda têm medo de tomar a medicação oral mais conhecida e com grandes resultados, que é a finasterida. 

O fato é que os tratamentos para calvície evoluíram muito nos últimos anos, não apenas em relação aos medicamentos mas também nos procedimentos clínicos e cirúrgicos. Hoje em dia é possível, inclusive, fazer exame genético para saber a propensão do paciente para a doença. 

Para evitar, é preciso atuar em frentes como prevenção, controle da queda e recuperação. Os primeiros sintomas podem começar a aparecer já na adolescência, a partir dos 17 anos, quando podem começar a surgir as famosas entradas. O tratamento, que tem o objetivo de estacionar o processo de queda e recuperar parte da perda, se baseia no uso de xampus estimulantes, loções com minoxidil, fatores de crescimento e o trichoxidil – como grande novidade –, vitaminas e medicações orais como a  finasterida e mais recentemente o minoxidil.  Entre os procedimentos de consultório os que mais usamos são os lasers fracionados, o microagulhamento robótico com drug delivery,  a intradermoterapia e mais recentemente o Jet Volumetric Remodeling associado ao Skinsaver. 

A calvície tem um impacto muito importante na autoestima. Quando a extensão da alopécia incomoda o paciente, ele hoje pode contar com modernas técnicas de transplante capilar que já alcançam um resultado estético muito natural. Há  inclusive pacientes que são orientados a fazer a cirurgia por indicação psiquiátrica, em casos de depressão e até tentativa de suicídio por problemas relacionados à queda do cabelo.

Se você ainda tem a ideia de que transplante capilar fica com aquela aparência de cabelo de boneca, esqueça. Nos últimos anos a técnica avançou tanto e alcançou um resultado tão natural que tem gente fazendo a cirurgia até mesmo uma semana antes de se casar, acredite se quiser. São muitos os homens que já falam abertamente sobre o assunto na internet, como Rodrigo Faro, Sidney Sampaio, Bruno Gagliasso e Paulo Vilhena. Há três semanas, o cantor Lucas Lucco apareceu de cabeça raspada nas redes sociais para mostrar o transplante que ele tinha acabado de fazer.

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Até o início dos anos 2000, o transplante era feito com tufos, e isso criava uma aparência muita falsa. “Antigamente era melhor nem fazer, porque neste aspecto, criava uma aparência não natural, cafona até. Nos últimos dez anos, o tema evoluiu muito, praticamente todos os médicos aplicam as técnicas FUE e FUT”, observa o cirurgião plástico Ricardo Lemos, da Natural Hair, clínica de microtransplante capilar em São Paulo. Hoje o transplante é do folículo capilar, e não do tufo. As duas técnicas principais são FUE (Follicular Unit Excision) e FUT (Follicular Unit Transplantation). Ambas implantam na área calva folículos retirados de uma área doadora mais densa do próprio paciente, em geral das laterais e da parte de trás da cabeça, regiões que não sofrem tanto a ação do hormônio DHT (diidrotestosterona), responsável por promover a calvície. 

A FUE, a mais popular nas redes sociais, consiste na retirada das unidades foliculares uma a uma da região doadora, que deve ser raspada. Já a FUT com fio longo, que é uma evolução da técnica de transplante folicular e foi idealizada pelo médico brasileiro Marcelo Pitchon, é feita a partir do fio longo, ou seja, não é preciso raspar a área doadora, muito menos toda a cabeça. Chamada também de Preview Long Hair, a FUT retira uma faixa estreita e mais longa do couro cabeludo da área doadora numa determinada altura da cabeça, respeitando as características de elasticidade. Esta faixa depois é analisada em microscópios e fatiada, e as unidades foliculares confeccionadas são distribuídas pelo cirurgião plástico na área calva. “Na técnica de transplante com fio longo (FUT) você retira, por exemplo, 3 mil unidades foliculares, que representam 7 mil fios. Durante o próprio ato cirúrgico, através da visualização imediata, o médico consegue construir o resultado, com um controle muito perfeito da angulação e curvatura do fio. O paciente já consegue se ver com o cabelo no pós-operatório, o que tem impacto enorme na autoestima e na ansiedade dele”, explica Dr. Ricardo Lemos.

A técnica do fio longo é mais recente e exige uma equipe maior durante a cirurgia, de 6 a 7 pessoas, e uma estrutura tecnológica (microscópios) de alto investimento. Portanto, muitos médicos fazem apenas a FUE por exigir uma estrutura mais enxuta, com médico, instrumentador e um aparelho mais acessível – e por isso acaba sendo mais popular nas redes sociais.

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Segundo o Dr. Ricardo Lemos, o tema ganhou muita popularidade nas redes sociais nos últimos anos e, por este mesmo motivo, é preciso estar alerta às promessas milagrosas. Mesmo o transplante capilar tendo evoluído muito, é fundamental procurar um médico de excelência para entender as diferenças entre as técnicas, suas consequências e se o paciente é caso de cirurgia ou não. “O aumento da procura de homens mais jovens por transplante se deve à popularização do FUE nas redes sociais, muitas vezes apresentada como técnica não invasiva. Mas não é bem assim, ambas as técnicas são cirúrgicas e deixam diferentes cicatrizes, que quando bem executadas, podem ser quase imperceptíveis”, explica o médico, que tem 95% de pacientes homens e 5% de mulheres. A diferença entre os dois gêneros de pacientes, ele diz, está no fato de que em geral os homens são mais medrosos e conservadores e na ideia de que as mulheres costumam ter uma expectativa às vezes irreal para o resultado da cirurgia – desejando, muitas vezes, voltar a ter a cabeleira da adolescência. Para ele, a técnica do fio longo é a mais adequada para mulheres.  

O transplante do folículo capilar não tem contraindicação, a não ser que o paciente não tenha boa elasticidade do couro cabeludo e determinada densidade capilar na área doadora. O pós-operatório, em geral, não é muito doloroso. No local onde foi feito o implante ocorre a formação de uma crosta, uma casquinha. No caso da FUE, o cabelo começa a crescer a partir de três meses. E na FUT, o fio longo cai progressivamente a partir de 15 dias, começando a crescer os fios novos também a partir de três meses. O resultado final das duas modalidades se consolida de 9 meses a um ano depois da cirurgia.

A manutenção depende caso a caso. Há pacientes que não sentem necessidade de passar por nova cirurgia enquanto outros podem apresentar novas áreas calvas nos anos seguintes, devendo passar por novo transplante. É recomendado fazer tratamento clínico pré-operatório para estimular e manter a saúde do couro cabeludo e dos fios. Após a cirurgia, é fundamental dar continuidade ao tratamento clínico para cuidar especialmente das áreas sem implante, evitando ou retardando o surgimento de novas regiões de calvície. Os folículos implantados não caem, mas é provável que a queda continue ocorrendo nas outras áreas.

Muitos pacientes optam inicialmente pelo tratamento clínico mas em alguma época da vida migram para o transplante capilar.  A abordagem clínica e cirúrgica se complementam e conseguem oferecer juntas os melhores resultados. O importante é entender que o estímulo genético continua e por isso o tratamento precisa ser continuado pela vida toda. 

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