A luta de Zumbi, a escrita de Bernardine Evaristo e o Grammy Latino
Diminuir a segregação racial do Brasil precisa ser nossa prioridade
Dia de celebrar Zumbi, homem negro que lutou por liberdade e fundou um dos maiores refúgios de escravos do Brasil. Quem pensa que nosso terrível “passado” escravagista não nos assombra, não entende que vivemos num apartheid. Ontem, José Alberto Silveira Freitas, um homem negro, foi espancado até a morte por dois seguranças brancos dentro do Carrefour, em Porto Alegre. José não foi o único. Dentro da rede Carrefour já houve casos semelhantes. E o que a gente faz? NADA. Nos “revoltamos” dentro de nossas confortáveis casas e olhe lá.
“Garota, Mulher, Outras”, da Companhia das Letras, é o oitavo livro de Bernardine Evaristo, escritora premiada anglo-nigeriana. Uma mulher negra cuja escrita impressiona pelo vigor e sensibilidade. As histórias se passam em Londres mas poderiam se passar no Rio de Janeiro ou em qualquer grande capital do Brasil. Os problemas enfrentados pelas mulheres negras são semelhantes em todo mundo e independem de idade, orientação sexual e classe social. O racismo entranhado adoece a todas em menor ou maior grau.
Ontem à noite rolou a 21ª edição do Grammy Latino. O evento ocorreu de forma virtual pela primeira vez, por conta das restrições impostas pela pandemia. A boa notícia é que há muitos brasileiros entre os vencedores. O rapper Emicida levou o prêmio de “Melhor álbum de rock ou de música alternativa em língua portuguesa”, pelo disco “AmarElo”. A contribuição dos homens e das mulheres pretas para a música brasileira é imensa. Eu diria, inclusive, que sem eles, a nossa música jamais seria o que é. Viva Emicida e tantos outros que seguem o legado de Brown, Tim, Elza, Itamar, Simonal…
Nessa sexta chuvosa, vou me apegar a escrita de Bernardine, rezar pela alma de José, ouvir a playlist que disponibilizei no Spotify (Viva Zumbi! by Papo de Música) e tentar fazer alguma coisa efetiva pra diminuir o apartheid social deste país.