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Fábio Barbirato

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Psiquiatra infantil

Covid 19: a sensação de superpoder dos jovens

O que passa na cabeça da juventude que se aglomera nas portas de bares e em festas?

Por Fabio Barbirato
Atualizado em 5 mar 2021, 16h36 - Publicado em 4 mar 2021, 09h40
Jovens nas ruas do Leblon
Aglomeração de jovens nas ruas durante o Carnaval é um desafio ao pacto social. (Internet/Reprodução)
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O Brasil atingiu esta semana tristes recordes de mortos durante a pandemia, quase 2 mil óbitos a cada 24 horas. É como se três aviões Boeing caíssem em solo brasileiro diariamente. Especialistas em saúde afirmam que estamos vivendo a pior fase desde que o coronavírus se impôs em nossas vidas. Essa pedra foi cantada por quem acompanha a evolução da propagação da doença: não manter as rédeas curtas durante as festas de fim de ano e o Carnaval seria uma catástrofe. A conta está se apresentando agora.

Apesar de haver negacionistas de todas as idades e em todas as classes sociais, profissionais de saúde que estão no front do atendimento nas emergências dos hospitais são unânimes em afirmar que o vírus tem circulado em maior número entre os jovens. A razão para isso é bastante clara: são eles, os jovens entre 18 e 20 e poucos anos, que estão na porta dos bares, nos eventos e nas festas clandestinas. Em ambientes fechados, como academias, não é raro estarem sem máscara. 

Os jovens foram fortemente impactados pelo isolamento em seu estilo de vida em uma idade que tudo que se quer é interação e sociabilidade. Isso explica terem sido os primeiros a se atirarem em aglomerações. Mas algumas dúvidas ficam no ar. O que os leva a acreditarem na sensação de superpoderes? Por que eles estariam acima do bem e do mal e imunes ao risco de contraírem a doença? E ainda que os jovens tivessem sintomas mais leves, o que os faz desprezarem que levarão a doença para dentro de casa – para contato direto com pais, tios e avós? 

Acredito que há um fator fundamental a ser considerado: educação. Num país que aceitou a rotina de desconfianças absurdas sobre ciência e medicina, a educação também foi relegada de patamar. Não me refiro apenas à educação formal, que se aprende na escola. Refiro-me, isso sim, aos valores e posturas transmitidos em casa são os que mais pesam – ou fazem falta – em situações de crise como a que estamos enfrentando. “Não vai sair”, “não pode aglomerar”, “não é hora de se expor”. Talvez o maior ensinamento que um pai ou uma mãe possa dar a um filho neste momento seja a importância do “não”.

Não, jovens não tem superpoderes. Tampouco estão imunes ao coronavírus. Cabe aos pais transmitir as noções de civilidade que nos permitem conviver. Fizemos um pacto social pela nossa sobrevivência. Os jovens – apesar de toda a restrição a que foram impostos e as consequências mentais que ela acarreta – não estão excluídos deste pacto.

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Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM  e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na Pós Graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).

 

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