Perigo sobre duas rodas: alta de acidentes com motos pressiona saúde
Média de 80 ocorrências diárias no Rio expõe urgência de medidas para proteger motociclistas e tornar o trânsito mais seguro

Após onze anos de namoro, o jornalista Marcus Marinho e Luana de Paula enfim subiriam ao altar em outubro e planejavam conhecer o Japão. No início de agosto, a moça, de 34 anos, sofreu um acidente de motocicleta durante uma corrida por aplicativo na Barra. Ela chegou a ser internada, mas não resistiu. “Uma pessoa imprudente no trânsito tirou você de mim”, escreveu o apresentador da TV Record na despedida. Não foi uma tragédia isolada. No primeiro semestre de 2025, os hospitais municipais atenderam 14 497 motociclistas feridos — uma média de oitenta por dia. No Hospital Lourenço Jorge, também na Barra, esses casos representam mais de 90% dos atendimentos ortopédicos. “Já batemos todos os recordes de atendimentos relacionados a traumas neste ano. São fraturas expostas, múltiplas cirurgias e longas internações, ocupando leitos e atrasando cirurgias eletivas”, alerta o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz. Segundo ele, 41% das cirurgias ortopédicas da rede estão relacionadas a acidentes com esses veículos. “As unidades de saúde vivem uma situação crítica”, reforça.

Dados do Sistema de Informações Hospitalares (Datasus) mostram que, em 2024, 66,1% das internações por lesões no trânsito no Brasil foram de motociclistas. Na capital fluminense, o índice foi ainda maior: 66,2%. A CET-Rio afirma que a frota cresce 6% ao ano desde 2019, enquanto o número de internações dos condutores sobe 8%. Não é coincidência que a categoria Uber Moto tenha surgido em 2020 e a 99 tenha acompanhado a concorrente dois anos depois. Além disso, há o crédito facilitado para a compra e o boom do delivery: o iFood tem 360 000 entregadores cadastrados no país. Em 2024, mais de 135 000 motos foram emplacadas e, até junho deste ano, mais 70 000 passaram a circular pela cidade. Para enfrentar o cenário, a prefeitura lançou, em maio, um plano de segurança viária. “O trânsito sofreu grandes transformações, e a participação das motos também mudou. Trabalhar com dados e inteligência é o ponto de partida para ajustes de infraestrutura e construção de mecanismos de controle que levem a um tráfego mais seguro”, afirma Luiz Eduardo Oliveira, presidente da CET-Rio.

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As ações incluem 50 quilômetros de motofaixas, parcerias com aplicativos de entrega que prevê compartilhamento de dados para identificação de motoristas imprudentes, fiscalização eletrônica e campanhas educativas. Após pressão da categoria, no entanto, o prefeito Eduardo Paes desistiu de impor o limite de velocidade de 60 quilômetros por hora e liberou a circulação dos veículos nas pistas centrais das avenidas Brasil, das Américas e Presidente Vargas. Segundo a CET-Rio, os projetos das motofaixas estão prontos e devem ser implantados nas próximas semanas. Em São Paulo, a faixa azul — sinalização exclusiva — reduziu em 47% as mortes nos trechos implantados. A experiência paulistana inspira o governo federal, que estuda tornar a medida obrigatória no país a partir de 2026. Por aqui, a falta de infraes- trutura preocupa especialistas como o arquiteto e professor da Uerj Filipe Ungaro Marino, que defende a adoção urgente das faixas exclusivas, desde que adaptadas à realidade local. “Falta um olhar baseado na hierarquia de vulnerabilidade, que começa com os pedestres”, defende. Mas é preciso também fiscalização, educação e a compreensão de que os motociclistas são parte essencial da mobilidade urbana.
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