Tijuca e Barra são os bairros mais procurados para aluguel de casas
A quarentena fez muita gente repensar a opção por apartamentos e ir em busca de imóveis com menos vizinhos e mais espaço, sobretudo dentro dos condomínios
A pandemia elevou o tempo que as pessoas passam dentro de casa como poucas vezes se viu na história – neste caso, em uma situação especial, quarentenadas. Ainda que uma parte das crianças já esteja retornando às suas atividades e uma leva dos adultos tenha voltado ao escritório, a fórmula não é mais a mesma, já que a rotina agora se apoia em sistemas híbridos.
Em resumo, a imensa maioria está saindo menos e isso faz com que preste mais atenção aos confortos do lar. E o espaço, que traz embutido mais ar circulando (condição favorável na cartilha de combate ao novo coronavírus), entrou no rol dos itens supervalorizados.
É nessa toada que, mesmo no meio da crise, a busca por casas no Rio cresce de forma consistente. De acordo com os dados do aplicativo QuintoAndar, ela disparou quase 20% entre abril e junho. Vários contratos foram assinados no atípico período de reclusão, também impulsionados pela procura por mais privacidade. A quarentena, afinal, forçou um convívio intenso entre vizinhos de um mesmo edifício.
“Mudar para uma casa foi a melhor decisão que tomamos. Ninguém reclama mais dos latidos dos nossos cachorros e eles estão felizes da vida, correndo em um quintal só deles”, conta a administradora Aline dos Santos, 32 anos, que mudou-se do apartamento onde morava com o marido, o administrador Felipe Mazzoli, e dois cães (um labrador e um pitbull), na Barra, para uma casa ampla de dois andares com jardim, piscina e churrasqueira no Recreio.
Para uma turma de cariocas, morar em bairros mais longe do Centro deixou de pesar tanto na escolha, uma vez que muitos estão trabalhando a distância e não pretendem mexer nesse arranjo tão cedo. Isso facilita na hora de encontrar uma casa em uma cidade como o Rio, onde elas já não são tão abundantes nos arredores das regiões comerciais ou nas áreas mais valorizadas.
Além da Barra e do Recreio, Tijuca, Jacarepaguá e Botafogo são alguns dos bairros com maior oferta de espaços do tipo – e também mais cobiçados por quem está de mudança (veja o quadro no final da reportagem). “Com a pandemia, muita gente está indo atrás de imóveis maiores para montar um escritório ou ter uma área de lazer reservada, como um jardim ou uma piscina”, explica Arthur Malcon, gerente executivo de estratégia do QuintoAndar.
Nesse movimento, casas localizadas dentro de condomínios saem na frente, principalmente por contar com segurança reforçada. Não à toa, os bairros da Zona Oeste, onde há mais opções, lideram a preferência nas buscas por casas. Na lógica pandêmica, também ganharam valor os espaços com mais cômodos. Explicações: poder ficar isolado em um quarto próprio. Bem-vindo ao admirável mundo pós-vírus.
“Morar em casa deixou de ser algo restrito. Se você abre o leque dos bairros, há todo tipo de preço no mercado. Observo que muita gente que nunca teve a experiência hoje, com essa nova rotina, considera a possibilidade”, diz a economista Deborah Seabra, do Grupo ZAP. Trocar a varandinha espremida do apartamento por um quintalzão arborizado é convidativo, claro, mas envolve desafios que só quem já habitou uma casa sabe descrever. Em primeiro lugar, esqueça o síndico para resolver imbróglios cotidianos.
Se a grama do jardim cresce demais, se a piscina está coberta de folhas ou se aparece uma infiltração no banheiro, não dá para pedir aquela ajuda ao zelador – muito menos culpar o vizinho. Também a manutenção é mais trabalhosa. A lista de possíveis dores de cabeça, porém, não espanta quem ambiciona uma vida mais espaçosa e saudável. “Cuidar de uma casa exige, sem dúvida, mais energia e comprometimento. Mesmo assim, as vantagens compensam. Aqui, conseguimos separar um dos quartos para a minha enteada, que nos visita com frequência”, avalia Aline, a recém-ingressa no clube, que agora aproveita sua casa no Recreio. “Tem de ter pique para cuidar de tudo, mas vale a pena”, acrescenta.
Uma pergunta se impõe numa cidade tão densamente povoada como o Rio: se a onda de viver em casas se alastrar, onde elas serão construídas? A tendência natural, segundo os especialistas, é a emergência de bairros menos populosos e afastados dos centros comerciais ou até mesmo uma expansão para municípios nos arredores. Esse modelo, tão comum nos Estados Unidos a partir da década de 60, serviu justamente de inspiração para a urbanização da Barra e do Recreio nos anos 80 e 90.
Foi quando se deu ali a inauguração de condomínios de casas com segurança 24 horas, amplas áreas de lazer e outras facilidades. Após altos e baixos, é possível que esse formato ganhe fôlego extra e avance para bairros mais distantes. Está aí, quem sabe, mais uma mudança no modo de viver que a pandemia deixará.
Efeitos colaterais
As tendências para o mercado imobiliário carioca no pós-pandemia