Chefe do CV pagou ao menos 24 000 reais para fazer cirurgia no Samaritano
Justiça pede explicações sobre quadro de saúde do detento, considerado de alta periculosidade, e expede mandado de busca e apreensão para apurar o caso

Chefe do tráfico da comunidade de Manguinhos, na Zona Norte, Alexander de Jesus Carlos, 51, conhecido como Choque, fez uma cirurgia no Hospital Samaritano, em Botafogo, com valor estimado de pelo menos 24 000 reais. Atualmente preso no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, o líder do Comando Vermelho passou por um procedimento de colecistectomia na vesícula, realizado por vídeo, e permanece internado.
+ Para receber VEJA RIO em casa, clique aqui
+ No Rio, um celular é furtado ou roubado a cada sete minutos
O procedimento fora do sistema prisional foi realizado mediante um pedido de autorização da justiça. Segundo especialistas em Direito Penal, a medida é prevista em lei desde que não haja alternativa adequada no respectivo sistema. O caso, entretanto, abriu o debate sobre o uso de hospitais particulares por detentos e a interpretação da Lei de Execuções Penais.
Antes de efetuar a cirurgia no Samaritano, na Zona Sul carioca, o chefe do tráfico foi atendido no ambulatório do Presídio Gabriel Ferreira Castilho. Em maio, foi encaminhado quatro vezes para uma UPA com sintomas como dores no abdômen e ao urinar. Através de um ofício enviado para a Secretaria Municipal de Saúde, a enfermeira do presídio solicitou a realização de exames complementares para melhor avaliação do quadro clínico.
No mês seguinte, em junho, o juiz do Gabinete de Execuções Penais emitiu um despacho em que foi o preso foi diagnosticado com pedra na vesícula e foi apontada a necessidade de cirurgia. Neste momento, foi feito o pedido para realizar o procedimento em uma unidade particular, conforme informou a defesa dos autos. O juiz intimou a defesa a informar nome do hospital, data e horário de consulta com a finalidade de que “o pleito de saída possa ser apreciado”.
O procedimento foi agendado com o aval do juiz e com a informação de que o Ministério Público seria favorável à saída de Choque. Foi então solicitado que Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) gerenciasse a saída do traficante para realizar os procedimentos necessários. O traficante foi liberado para a cirurgia, agendada para 8 de agosto. “Deverão ser adotadas as cautelas de praxe, mantendo-se escolta durante todo o percurso e permanência, até o seu retorno à unidade prisional”, orientou o juiz.
Conhecido de alto padrão, o Samaritano dispõe de 130 leitos, com serviço de camareira, enxoval e poltronas de massagem. Os quartos são equipados com televisão, ar-condicionado, frigobar, cofre, persianas e iluminação — com controle automatizado. Conforme parecer médico, a previsão de internação teria duração de um dia. Após a cirurgia, o juiz titular da vara assumiu a responsabilidade do processo e intimou a defesa a apresentar um relatório médico para apresentar a previsão de alta — estimada em um dia. “Considerando tratar-se de apenado que ostenta altíssima periculosidade que aguarda transferência para unidade peniten federal, cujo relatório médico detinha estimativa para um dia de internação, avoco o processo”, informou o representante.
Entretanto, a falta de informações sobre a situação clínica do detento resultou na expedição de um mandado de busca e apreensão ao diretor do hospital para obter dados sobre o traficante. A decisão foi proferida na última quarta (13). Advogado de defesa de Choque, Daniel Sanchez Borges, informou que a vesícula do paciente continha pus e ele precisou passar por tratamento com antibiótico e um segundo procedimento cirúrgico. “Ele tem esse problema há cinco anos. Como disseram que a cirurgia para retirada de pedra na vesícula é eletiva, quando ele contou ao juiz que estava com dores, o magistrado afirmou que poderia realizar o procedimento de forma particular, desde que encontrasse um hospital em área fora de risco. O Samaritano é um lugar ideal para isso. É próximo de uma delegacia e conta com aparato de segurança pública — explicou. O detento segue em observação clínica.