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Mordomia no escurinho

Duas novas salas com poltronas reclináveis e serviço de primeira mostram que o cinema de luxo caiu de vez no gosto dos cariocas

Por Carla Knoplech
Atualizado em 5 dez 2016, 15h55 - Publicado em 14 nov 2011, 11h22
O novo De Lux: assentos semelhantes aos da primeira classe dos aviões
O novo De Lux: assentos semelhantes aos da primeira classe dos aviões (Selmy Yassuda/)
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Já na bilheteria se percebe a diferença entre os cinemas convencionais e o novo De Lux, recém-inaugurado no New York City Center, na Barra da Tijuca. A compra dos ingressos é feita em um elegante balcão lateral, e não nos coloridos guichês cercados por longas filas. O atendimento, ágil, impressiona, assim como o preço, que varia de 38 a 50 reais (nas outras salas vai de 7 a 20 reais). Com o bilhete na mão, é só tomar o elevador privativo em direção ao foyer, cuja decoração lembra a da entrada de um hotel bacana. Uma recepcionista indica aos neó­fitos nesse tipo de experiência as confortáveis poltronas e sofás cercados por mesas baixas. É a vez de o garçom se aproximar e tirar os pedidos de bebidas e petiscos, que podem ser consumidos ali mesmo ou enquanto se assiste à projeção (nesse caso, são entregues durante os trailers e comerciais, que é para não atrapalhar). Na sala de exibição propriamente dita, a atração fica por conta dos assentos espaçosos, em que se vê o filme praticamente deitado. “Com todo esse conforto, sair de casa para ver um filme virou um programão”, diz o comerciante Raphael Marge, de 22 anos, que garantiu seu lugar na sessão inaugural, ao lado da namorada, Liliane Ramos, 25 anos.

Com seus ambientes classudos e silenciosos, o De Lux é uma espécie de oásis em meio à balbúrdia adolescente da maioria dos cinemas de shoppings. Pródigo na oferta de mordomias, segue uma tendência que teve início no país há três anos, começando por São Paulo. Por aqui, um empreendimento semelhante funciona desde janeiro no Rio Design Barra, com 58 lugares. O recém-chegado, no entanto, exibe atributos poderosos em relação ao concorrente. Com duas salas de exibição, tem capacidade três vezes maior (juntas, elas somam 180 lugares). As poltronas são 7 centímetros mais largas e oferecem duas configurações. A primeira, instalada mais próximo da tela, é do tipo chaise longue, com regulagem na altura do encosto para a cabeça. A segunda, localizada na parte posterior, tem a inclinação do suporte para as pernas e do encosto variável, chegando a quase 180 graus. O cardápio da bonbonnière é bem mais robusto, com opções como sanduíche de presunto de Parma e queijo de cabra, wrap de frango com batata frita e bolinhos de feijoada. Para beber, há vinhos e drinques. A conta do programa, como seria de imaginar, costuma ser salgada. Um casal que decida ver um filme e pedir duas minigarrafas de espumante nacional Chandon e pipoca aromatizada com azeite trufado gastará cerca de 150 reais.

Para oferecer tantos agrados a seus clientes, a rede americana UCI, a responsável pelas salas, investiu 2,5 milhões de reais nas novas instalações. Com dezesseis complexos espalhados por oito cidades brasileiras, a exibidora escolheu o mercado carioca para estrear a novidade. “No ano passado, nosso público na Barra aumentou em 30% e, por meio de pesquisas, percebemos que havia a possibilidade de oferecer uma experiência mais luxuosa”, conta Monica Portella, diretora de marketing da rede, dona de dezoito unidades no New York City Center e outras dez no NorteShopping. “Acreditamos que a cidade tem um vasto potencial a ser explorado nessa área.”

Os primeiros cinemas de luxo, com poltronas reclináveis, plateia reduzida e serviços de primeira linha, surgiram em Bangcoc, na Tailândia, no fim dos anos 90. Atualmente, todas as grandes redes exibidoras de lá mantêm sua divisão voltada para espaços de altíssima categoria. Batizados de Gold Class, Star e Emperor, abusam das mordomias. Uma das maiores, a SF, inaugurou em 2008 sua suntuosa grife SFX. Nessas salas, com ar condicionado glacial (o país é um forno), são oferecidos cobertores, travesseiros, lanches grátis e até massagens nos pés dos espectadores. O ambiente coruscante lembra os cassinos de Las Vegas, com espelhos, colunas greco-romanas, cúpulas e vitrais multicoloridos. Duas horas de diversão nesses templos do entretenimento custam, em nossa moeda, o equivalente a 6 a 28 reais. Em escala menor, exibidores do Canadá, da Espanha e da Inglaterra também têm investido nesse tipo de estabelecimento. “No exterior esse movimento já está maduro, enquanto aqui estamos apenas começando”, diz o arquiteto Mauro Portela, responsável pela obra da UCI De Lux.

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No Rio, além dos três cinemas vips em funcionamento, outros quatro devem ser abertos até o fim de 2012. Administrados pela rede Cinemark, arquiconcorrente da UCI, eles ficarão no novo shopping de alto luxo Village Mall, praticamente vizinho ao New York City Center. Juntos, oferecerão assombrosos 396 lugares. Um sinal de que, definitivamente, as mordomias no escurinho caíram no gosto dos cariocas.

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