Já ouviu falar em cohousing? Modelo de moradia é alternativa para os 60+
Formato consolidado na Europa une pessoas maduras em busca de companhia e vida ativa
Viver ao lado de amigos que se apoiam no dia a dia, sem depender da ajuda dos filhos. Esse era o ideal da arquiteta Cristiana Carvalho, 69 anos, moradora do Humaitá, para quando envelhecesse. A vontade virou um plano em 2019, quando ela se conectou pelas redes sociais a um grupo interessado no conceito de cohousing.
O termo, cunhado em 1985 pelo americano Charles Durrett, após anos de pesquisa na Dinamarca – país onde o movimento nasceu nos anos 1970 – é a versão atualizada das comunidades nas quais crianças e idosos eram cuidados por todos.
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“O primeiro encontro da turma foi dedicado ao estabelecimento das relações. Com a pandemia, as conversas se tornaram virtuais e o grupo foi diminuindo. Só em 2022 pudemos buscar o terreno e dar sequência ao projeto”, lembra Cristiana, futura habitante da Vila Puri, localizada a duas horas da capital fluminense, na área rural de Brejal, no distrito de Posse, em Petrópolis, região serrana.
O que diferencia o cohousing de outros modelos de moradia é que o bom relacionamento é o ponto central. Por isso, a afinidade é o critério que vai definir se alguém será aceito pelos vizinhos.
Quem compra uma casa em um condomínio, por exemplo, tem direito ao imóvel, à terra que ele ocupa e não precisa dar satisfação. Além disso, nas áreas de lazer em comum, não é necessário se relacionar com os outros para frequentar.
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Já no cohousing, o proprietário compra uma cota individual que dá direito ao uso de uma casa por período indefinido e há um compromisso de participação da comunidade.
“Não há muro nas residências, mas a distância é suficiente para garantir a privacidade”, detalha a psicanalista Ana Cristina Figueiredo, 73, coordenadora da Vila Puri.
Moradora do Cosme Velho, ela conta que, das dezoito casas, dez já estão reservadas, a grande maioria por mulheres. “Não temos corte de idade, mas não apareceu ninguém abaixo dos 50 anos. E evidentemente, não é um asilo, não teremos plantão de enfermagem”, esclarece, acrescentando que dinâmicas coletivas, como cozinhar, fazer refeição juntos, praticar exercícios e assistir a filmes serão incentivadas numa casa comum.
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Compartilhar a rotina e realizar atividades de lazer em comunidade são fundamentais para a longevidade com qualidade de vida. Na terceira idade, o cohousing pode significar uma estratégia de saúde mental. “Trata-se de uma filosofia que nutre a segurança emocional e surge como resposta ao isolamento, conferindo senso de pertencimento e propósito, além de combater a solidão, um dos maiores fatores de risco para a depressão em idosos”, avalia Mariana Simões, psicóloga do Grupo Valsa.
Depois de ficar viúva, em 2019, e passar uma temporada morando sozinha em Itaipava, a psicóloga Vera Vital Brasil, 79, foi procurada por duas amigas que vão morar na Vila Puri. “Sou de uma geração que lutou por uma vida coletiva, solidária, cooperativa e fraterna. Gosto da ideia de ter uma casa privativa, mas de estar entre pessoas conhecidas, vivendo uma experiência coletiva”, explica.
Nesse modelo, grupos de moradores se revezam, em certos períodos, na organização das atividades coletivas, como as festas de aniversário, e até na resolução de problemas.
Em Saquarema, no distrito de Sampaio Corrêa, a 81 quilômetros do Rio, o projeto de moradia coletiva Vilarejo Sênior Vale do Éden depende de investidores para sair do papel.
A proprietária do espaço, Enoe Babiuk, 56, teve a ideia de criar a comunidade após estudar permacultura, expressão originada do inglês permanent agriculture, que trata das ocupações humanas de forma harmoniosa com o ambiente.
“Com esse aprendizado, conheci as ecovilas e desejei ter por perto pessoas que tivessem essa afinidade pela vida rural em comum”, lembra.
“A ideia inicial foi evitar o isolamento, mas o fato de ser rural, em meio à natureza, conta muito. Temos um vizinho que cultiva orgânicos, o que vai garantir comida de qualidade”, exemplifica Ana Cristina, da Vila Puri. “Também teremos uma hortinha. O cohousing retarda envelhecimento porque as pessoas se sentem úteis”, complementa. Estar entre amigos faz bem em qualquer idade.