Com a bênção de Deus

Cariocas dominam site de relacionamento para encontros amorosos de evangélicos

Por Lais Botelho
Atualizado em 2 jun 2017, 13h01 - Publicado em 27 ago 2014, 15h54
Selmy Yassuda
Selmy Yassuda (Redação Veja rio/)
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Sites de relacionamento, que facilitam o encontro de pessoas que querem “se conhecer melhor”, existem desde que a internet é internet. No Brasil, eles começaram a fazer sucesso a partir do fim dos anos 90, reunindo públicos cada vez mais específicos. Esse processo de segmentação levou à criação, por exemplo, de salas virtuais destinadas exclusivamente à galera GLS. Pois agora são os evangélicos que estão bombando na rede, atrás de sua cara-metade. Números recentes divulgados pelo site mais famoso do rebanho, o Divino Amor, dizem muito sobre o atual fenômeno, com um detalhe curioso: o Estado do Rio é o campeão, com folga, de usuários ? os internautas fluminenses respondem por 42% da audiência do site no país, ganhando de São Paulo e de Minas Gerais, e superando a soma de todos os outros estados. Ainda mais impressionante é a escalada do Divino Amor no próprio Rio: em 2012, ele reunia 440?000 usuários no estado; atualmente, junta cerca de 800?000. Ou seja, em dois anos, praticamente dobrou de tamanho. Parece haver duas explicações possíveis.

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A primeira diz respeito à assunção ? é no Rio de Janeiro que, segundo o Censo de 2010, mais evangélicos declaram ser evangélicos. O segundo fator relevante é que, aqui, o site é mais bem divulgado. “A parceria com a Rádio Melodia, que põe no ar nossos anúncios, é maior que em qualquer outra cidade no país”, diz Gaël Deheneffe, diretor de produtos do Match.com Latam. A empresa é detentora da marca Divino Amor, lançada em 2009, cria do mesmo grupo responsável pelo conhecido Par Perfeito, espécie de site pioneiro, no Brasil, na seara dos relacionamentos on-­line, com 30 milhões de cadastrados.

Felipe Fittipaldi
Felipe Fittipaldi ()
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Navegar pelo Divino Amor, porém, exige o cumprimento de um código de conduta. O site, inclusive, tem um conselheiro amoroso, o pastor Antônio Júnior. Mineiro, 30 anos, ele possui páginas em diversas redes sociais, com 300?000 seguidores no Facebook. Costuma responder a dezenas de e-mails por dia tirando dúvidas sobre comportamento, sexo, insegurança, além de postar mensagens e dicas na rede ? o site é gratuito, mas tem assinatura paga para quem quer mais possibilidades de navegação. Aliás, ao fazer o cadastro, além de preencher dados como idade, peso e altura, o candidato passa por perguntas sobre linha religiosa e nível de devoção. E há também uma seleção criteriosa de imagens. “Uma pessoa do Divino Amor não pode pôr fotos de biquíni em seu perfil”, diz Gaël. Casados não participam e relacionamentos homossexuais são vetados. Com a conta criada, é possível enviar 500 mensagens diárias, piscar (carinhas para chamar a atenção) e filtrar a busca por idade e endereço. E ainda se tem como certo um empurrãozinho do portal, que, através de cruzamento diário de dados, identifica um usuário com pelo menos 70% de compatibilidade com a pessoa que o busca. Foi assim que Augusto Roberto Martins e a carioca Carinna dos Santos se conheceram. Depois de seis meses de conversa no site evangélico, o rapaz, que trabalhava como padeiro em São Paulo, resolveu se mudar para o Rio a fim de ficar mais perto da amada. “Perguntei sobre tudo, até como ele cortava o cabelo e com que frequência lavava a roupa”, ela conta. O sujeito deve ser mesmo bom de tanque: vão se casar em novembro.

Encurtar distâncias, economizar tempo e dinheiro, facilitar a vida dos tímidos com autoconfiança e dos assanhados queimando etapas. Incontáveis são as explicações para o sucesso das indústrias de relacionamento on-line, mas há quem faça ressalvas. “É preciso lembrar que na rede inexiste a comunicação não verbal, que faz parte de pelo menos 65% do conteúdo de uma conversa, chegando a 93% de importância nos momentos de emoção”, comenta a psicóloga Lídia Weber. Vê-se que os sites, evangélicos ou não, podem realmente dar o primeiro impulso, mas a liga entre duas pessoas se dá mesmo é na vida real. Pois, sem bate-papo frente a frente, não há Deus que abençoe.

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