Com projetos arrojados, Ruy Rezende vira uma grife da área corporativa
O arquiteto, conhecido por unir fachadas originais e recursos tecnológicos de ponta, já tem 21 edifícios comerciais com a sua assinatura no Rio
Durante os anos de faculdade, é comum um futuro arquiteto nutrir o desejo de ver grandes obras construídas com a sua assinatura. Com Ruy Rezende não foi diferente. Desde o princípio ele já sonhava alto, literalmente, com edifícios inovadores que fugissem ao padrão do caixote de concreto armado e incorporassem tecnologia de ponta. Com 65 anos de idade e quarenta de profissão, o arquiteto é hoje o principal nome do Rio na área de prédios corporativos, com 21 empreendimentos concebidos em seus computadores. Um passeio pelo Centro e por trechos antes degradados, como a Zona Portuária e a Cidade Nova, comprova a primazia de seu escritório. Só na região do Porto Maravilha, Rezende implanta uma dezena de espigões comerciais. Entre os maiores destaques está a nova sede da L’Oréal, na Avenida Barão de Tefé, em fase final de obras. Com 22 pavimentos, ela tem fachada irregular, composta de vários prismas cobertos por vidro cinza. De acordo com a incidência dos raios de sol, a construção ganha tons diferentes. A poucos quarteirões dali, outro monumento envidraçado a ser erguido, a Torre Olímpica, é um de seus xodós. Embora ainda esteja na etapa de fundação, o projeto, que chama atenção pela volumetria irregular, já abocanhou em Londres o Prêmio Innovative City of the Future na categoria de melhor design. “Tenho fixação pela luz do dia, pois ela reduz a sensação de confinamento nos locais de trabalho. Isso explica por que os imóveis que faço têm grandes vãos cobertos por vidro”, diz.
Com o foco no mercado empresarial, os prédios de Rezende ajudam a delinear a nova arquitetura do Centro do Rio. À frente de uma equipe de trinta profissionais, o arquiteto fez sua estreia na região, em 2006, com a Universidade Petrobras, em meio à Cidade Nova. Erguida com duas fachadas de vidro sobrepostas, que reduzem a incidência de calor e aumentam a eficiência do sistema de refrigeração, a obra foi a primeira do país a ter a certificação de sustentável do U.S. Green Building Council. Preocupado em unir funcionalidade, tecnologia e menor consumo de energia, seu escritório aplicou conceitos de sustentabilidade nos edifícios da BR Distribuidora, da Organização Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e no Eco Sapucaí, no local da antiga fábrica da Brahma. O último arranha-céu foi feito em parceria com o escritório de Oscar Niemeyer (1907-2012). Para serem postas em pé estruturas desse porte, não se consomem menos de 100 milhões de reais. “Gosto de desafios. Na área corporativa é preciso entender como funciona a empresa que ocupará o imóvel”, comenta. A única criação que leva seu nome e lhe desagrada por ali é a sede da Cedae. O projeto, diz ele, foi muito alterado. “Sempre pergunto quanto o cliente está disposto a perder de espaço. Às vezes é preciso abrir mão de parte da área disponível para ter um prédio diferente”, frisa o arquiteto, que nasceu em São Paulo mas se define como carioca.
Com uma marca que prolifera até mesmo em construções alheias, ele assina ainda retrofits de edifícios antigos — só no entorno da Candelária são quatro.Com um traço arrojado, Rezende beneficiou-se da eclosão de obras pela cidade no período pré-olímpico. Um de seus projetos mais icônicos é o Parque Madureira, de 2012, com pista de skate, concha acústica e chafarizes. “Como nas praias, eu quis criar um espaço democrático”, explica. Casado, com três filhos e cinco netos, ele também atua na área residencial — é famosa a mansão colossal que ergueu no Jardim Botânico, com 7 000 metros quadrados de área construída, alugada pelo emir do Catar durante a Olimpíada. Embora não revele detalhes, sabe-se que está atuando na remodelação do Armazém 1, no Píer Mauá, onde (especula-se) ficará o YouTube Space, do Google, com estúdios de última geração. “O sucesso de um projeto está diretamente ligado à sensibilidade do cliente”, avalia. Mas talento, o que Rezende tem de sobra, também é fundamental.