Sem tabu: compartilhando experiências, mulheres escancaram a menopausa
O aumento da expectativa de vida, o acesso a tratamentos e a possibilidade de trocar informações e vivências diminuem as agruras dessa fase
Baseando-se no exemplo da mãe, a empresária Viviane Silveira, de Niterói, encarou a pré-menopausa de forma silenciosa. Ela tinha 38 anos quando passou a conviver com ondas de calor noturnas, menstruação com intervalos irregulares, cansaço físico e perda de memória. Sem referências, procurou um endocrinologista. “Lembro de, na adolescência, ver minha mãe irritada sem muita explicação. Isso ainda é um tabu para ela”, conta.
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Hoje, quase uma década depois dos primeiros sintomas, Viviane faz terapia de reposição hormonal sob orientação médica, consome caldo de ossos para prevenir osteoporose, pratica musculação cinco vezes por semana e dorme e acorda religiosamente nos mesmos horários.
Ela também perdeu o pudor de escancarar o assunto, fazendo questão de compartilhar conhecimento, seja conversando com as clientes do seu salão de beleza ou através de postagens nas redes sociais. “Eu me sinto uma adolescente sem hormônios e dividir tudo isso com as amigas e clientes me trouxe uma sensação de pertencimento”, afirma.
A menopausa é caracterizada pela queda dos hormônios estrogênio e progesterona, e geralmente acontece entre os 45 e 55 anos, indicando o fim da fase reprodutiva feminina. O aumento da expectativa de vida, o acesso a tratamentos e a possibilidade de trocar experiências pela internet vêm ajudando as mulheres a passar por essa fase com menos agruras.
No ano passado, a apresentadora Fernanda Lima, 48, lançou o podcast Zen Vergonha, falando francamente sobre o tema. Em outubro, Cláudia Raia, 58, chega ao Rio com a peça Cenas da Menopausa, em que divide o palco com o marido, Jarbas Homem de Mello. No encerramento de cada sessão, eles comandam uma roda de conversa com os espectadores.
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“É uma catarse, todos querem falar. O espetáculo trata com humor esse momento delicado, no qual a mulher precisa de escuta e acolhimento” define a artista, que engravidou aos 55 anos já em meio aos sintomas do climatério. “Se vamos viver até os 95, temos pelo menos mais quarenta de potência pela frente. Eu não quero ser invisível, pretendo me tornar um farol para que outras mulheres se vejam em mim”, orgulha-se a atriz.
Para amenizar uma etapa dolorosa, de muitas mudanças no corpo e nas relações, a medicina vem evoluindo. Medicamentos como o fezolinetant e o clinzanetant são livres de hormônio e atuam no sistema nervoso central, mas ainda não estão disponíveis no Brasil.
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Por aqui, a terapia de reposição hormonal é a forma mais eficaz de aliviar os sintomas. Para os casos em que há contraindicação, as alternativas incluem atividade física e higiene do sono, com ambiente escuro sem tela de TV ou celular, além de fitoterápicos.
“É importante manter uma alimentação equilibrada e evitar álcool, cafeína e alimentos ultraprocessados. Também recomendo incluir a terapia cognitivo-comportamental, técnicas de respiração e yoga”, explica a ginecologista Eliane Chaves.
O ressecamento vaginal também pode ser combatido com cremes e lubrificantes com ácido hialurônico, radiofrequência e laser. “Menopausa não é o fim, é uma transição. Orientação é fundamental”, ressalta a especialista.
Ignorar os sinais do organismo é um grande erro, alertam os médicos. A comediante Maria Clara Gueiros, 60, chegou a acreditar que a irritabilidade e a fase mais sensível indicavam depressão. Lá se vai uma década desde que ela começou a dormir mal, acometida por calores noturnos, incomodando-se com dor na lombar e notando ganho de peso.
“Àquela altura, achei que se tratava do curso natural da vida. Depois de enfrentar na cara e na coragem os sintomas por nove anos, comecei a pesquisar e percebi que os tratamentos avançaram bastante”, observa. “A menopausa me trouxe serenidade e a descoberta de que posso ser do jeito que sou. Não preciso mais agradar aos outros”, arremata.
“A maturidade não é decadência, é elevação”, diz Cláudia Raia, fazendo coro. A menopausa é inevitável e tampouco uma opção. Passar por ela com informação e um bom suporte profissional traz tranquilidade e segurança, algo que, na juventude, não se alcança com facilidade.
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