A floresta de Itaboraí

Ao redor de polo industrial em construção nasce uma área verde maior que o Parque da Tijuca

Por Ernesto Neves
Atualizado em 5 jun 2017, 14h04 - Publicado em 17 abr 2013, 17h56
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divulgação (Redação Veja rio/)
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Cortado por estradas que dão acesso à Serra Fluminense e à Região dos Lagos, o município de Itaboraí, a 50 quilômetros do Rio, passava despercebido aos viajantes. Em 2006, no entanto, teve início uma reviravolta, com o anúncio da construção do complexo petroquímico do Comperj. Orçado em 36 bi­lhões de reais, o empreendimento capitaneado pela Petrobras já desponta na paisagem com suas enormes chaminés, mas outra transformação, ainda pouco visível, está em pleno andamento. Trata-se do plantio de 4 milhões de mudas, englobando 84 espécies da Mata Atlântica, para formar um gigantesco cinturão paisagístico em torno do parque fabril. Quando a operação estiver concluída, em 2020, a área verde deverá ocupar cerca de 4?500 hectares, espaço superior ao de um dos maiores símbolos cariocas, a Floresta da Tijuca, com seus 3?900 hectares. É tão grande que, se fosse transplantada para o Rio, a vegetação encobriria uma extensão que vai de São Conrado até o Centro, passando pelos bairros litorâneos. Iniciado em outubro de 2011, o reflorestamento já ocupa uma área equivalente a 780 campos de futebol. Entre as espécies escolhidas estão exemplares ameaçados da flora brasileira, como o pau-brasil e o jacarandá. “Traremos de volta uma diversidade de plantas e animais que há décadas deixou de existir”, acredita Sérgio Valle, gerente de implantação do Comperj.

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Para viabilizar a iniciativa, foi preciso construir um viveiro florestal de 11?000 metros quadrados, onde a cada seis meses são cultivadas 300?000 mudas. Cerca de 170 trabalhadores se revezam para garantir a dosagem correta de sol, água e nutrientes necessários ao crescimento das várias espécies, assim como o controle de pragas. Entre os profissionais da equipe há biólogos, engenheiros florestais, agrônomos e veterinários. Apesar de a iniciativa ainda estar no começo, ela já faz efeito no ecossistema local. Após o crescimento das primeiras árvores, animais selvagens desaparecidos havia tempos voltaram a Itaboraí. É comum observar agora a presença de seriemas, cachorros-do-mato, jacarés e cobras. O terreno também teve de ser recuperado. Ocupada ao longo de décadas por fazendas produtoras de gado, coco e laranja, a região apresentava solo empobrecido devido às constantes queimadas. O projeto contempla ainda o plantio em terras protegidas por lei, como as margens de rio e os topos de morro. Dessa forma, devem surgir verdadeiros corredores verdes ao longo dos leitos dos rios Macacu e Caceribu, conectando diversas reservas ambientais. “Vamos acompanhar o desenvolvimento das mudas até que atinjam três anos, tempo considerado suficiente para a floresta se desenvolver sozinha”, explica Júlia Bastos, consultora do projeto.

Criar cinturões de natureza em torno de grandes fábricas é uma tendência mundial, como forma de atenuar os danos ambientais, com impacto circunscrito à região. No caso do Comperj, a inspiração veio da cidade indiana de Jamnagar, onde nos anos 90 se instalou a terceira maior refinaria de petróleo do mundo. Ao redor do complexo, um projeto pioneiro criou o maior cinturão industrial verde do planeta, somando atualmente 650?000 hectares. Credita-se ao parque, que abriga a maior plantação de manga da Ásia, a redução de 2 graus em média na temperatura local. Esse tipo de cerco traz ainda outro benefício, que é a filtragem dos poluentes emitidos. Ao realizarem a fotossíntese, as plantas transformam o gás carbônico, principal responsável pelo aquecimento global, em oxigênio puro. O mutirão ecológico de Itaboraí também tem um paralelo na história carioca. Assim como o município fluminense, o Maciço da Tijuca encontrava-se em elevado grau de deterioração no século XIX. Com as terras exauridas pelo plantio intensivo de café e açúcar, as montanhas enfrentavam acelerado processo de erosão, enquanto a população do Rio via escassear suas fontes de água potável. Preocupado com a iminente crise de abastecimento na capital do país, o imperador dom Pedro II ordenou que a área fosse recuperada. Sob o comando do major Manoel Gomes Archer, o trabalho, iniciado em 1862, só terminou doze anos depois, período em que foram plantadas 80?000 mudas de espécies nativas.

Com início de funcionamento previsto para 2015, o Comperj é uma das maiores obras em curso no país. A expectativa é que ele impulsione a economia fluminense com a criação de até 168?000 empregos diretos e indiretos. Composto de fábricas geradoras de derivados do petróleo, como querosene e gasolina, o parque industrial será capaz de refinar até 165?000 barris do produto diariamente. Também vai processar o gás natural extraído das camadas submarinas do pré-sal. Com a urgência das questões ambientais e a preocupação com a sustentabilidade na ordem do dia do setor econômico, o cinturão verde mostra que é possível conciliar desenvolvimento e proteção ao meio ambiente de forma equilibrada.

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