“Bravo! Maravilha!”

Assíduo nos concertos do Theatro Municipal, Mariano Gonçalves tornou-se famoso por suas saudações entusiasmadas aos maestros, músicos e cantores

Por Rafael Teixeira
Atualizado em 5 dez 2016, 15h54 - Publicado em 18 nov 2011, 19h29
O advogado na poltrona B10, sua preferida: interjeições disparadas com precisão entre o fim da obra e o início dos aplausos
O advogado na poltrona B10, sua preferida: interjeições disparadas com precisão entre o fim da obra e o início dos aplausos (Tomás Rangel/)
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Quem frequenta os concertos do Theatro Municipal já assistiu à cena. É soar o último acorde da composição para que se ouça, em alto e bom som, uma voz masculina gritar “Maravilha!”, “Bravo!” ou outra exclamação semelhante. Disparada com uma precisão espantosa, a saudação se coloca exatamente naquele hiato de milésimos de segundo entre o fim da execução e os aplausos da plateia. O dono da voz é Mariano Gonçalves, um advogado de 75 anos. Figura já incorporada ao folclore da casa, ele é chamado pelos músicos e pelo público de “Mariano Maravilha” ou “O Bravo” – em referência aos seus elogios mais comuns. O repertório, no entanto, é vasto. “Uso magnífico, sublime, estupendo, esplêndido e até maravilhosíssimo”, conta, sem medo de exageros. Há mais de três décadas ele bate ponto em aproximadamente setenta apresentações por ano, segundo seus cálculos. No Municipal, ele tem até cadeira preferida: a B10, de onde costuma soltar seus brados.

Espontâneas e irrefreáveis, as manifestações de Mariano causam controvérsia. Entre os instrumentistas e o público, a maioria acha graça. Outros veem nos gritos uma virtude didática. “Para quem não conhece música clássica, ele sinaliza em que momento as pessoas podem aplaudir”, diz Heloísa Fischer, editora do Anuário VivaMúsica!, especializado na cena erudita. Mas o próprio Mariano admite que suas exclamações nem sempre são bem-vindas – e que, por vezes, escorrega e grita antes da hora. “Tem uma meia dúzia que não vai com a minha cara”, admite. Ele se lembra, por exemplo, de um concerto regido pelo argentino Daniel Barenboim. Mariano conta que, ao bradar seu indefectível “Maravilha!” (no momento certo, ressalte-se), recebeu um olhar gélido do maestro. “Fico chateado com isso”, lamenta. “Afinal, estou fazendo o que os encabulados não fazem.” E ele garante que não elogia qualquer coisa: “Às vezes eu só bato palmas”.

Maranhense de São Luís, Mariano chegou ao Rio em 1957. A paixão pela música clássica começou dez anos depois, quando assistiu ao balé Giselle – até hoje uma de suas paixões, ao lado de Bach e da ópera Turandot, de Puccini. Desde então, ele se filiou a mais de setenta associações da área. “Até doações para orquestras eu faço”, afirma. Seu prazer tem um preço: neste ano, Mariano gastou pelo menos 2?500 reais em ingressos. Mas há compensações. Ele jura ter conseguido, por exemplo, o telefone do tenor Luciano Pavarotti e até beijos de algumas sopranos. Há quem diga, aliás, que os elogios de Mariano – que é casado e tem dois filhos – são mais entusiasmados quando dirigidos a solistas belas e jovens, o que ele desmente: “Eu aplaudo o talento”. Maravilha, então.

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