Deu tudo errado

Defensores da gestão profissional, os dirigentes do Flamengo adotam os métodos da cartolagem e causam uma frustração do tamanho da torcida rubro-negra

Por Felipe Carneiro
Atualizado em 2 jun 2017, 13h03 - Publicado em 30 jul 2014, 15h52
Fernando Lemos
Fernando Lemos (Redação Veja rio/)
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A chegada da Chapa Azul à presidência do Flamengo, no começo do ano passado, foi saudada por muita gente como um marco na modernização do futebol brasileiro. Ela era formada por um grupo de executivos e empresários bem-sucedidos que pregava a profissionalização na gestão do clube, a descentralização do poder e, como regra pétrea, o pagamento de impostos e salários em dia. Depois de décadas de gestões irresponsáveis e desatinos financeiros na Gávea, era um alento. De imediato, grandes ídolos do passado manifestaram seu apoio. Zico e Junior, além de boa parte dos ex-presidentes, se engajaram na campanha. Um ano e meio depois, no entanto, nada saiu como o esperado e a decepção é do tamanho da torcida rubro-negra. Principal razão de ser do clube, o futebol vai muito mal, com o time estacionado na lanterna do Campeonato Brasileiro. Na parte administrativa também não há o que comemorar. Os salários dos jogadores estão atrasados, pois uma dívida de 85 milhões de reais com o Banco Central contraída na década de 90 pôs o clube no Cadin (cadastro informativo de créditos não quitados do setor público federal), o que bloqueou a entrada da verba de patrocínio de instituições públicas. “É o momento mais difícil desde que assumimos, mas estamos no caminho certo. Vamos sair fortalecidos dessa fase”, aposta o presidente Eduardo Bandeira de Mello, ex-diretor do BNDES.

Apesar da retórica progressista, os dirigentes lançam mão de práticas que remetem ao que há de mais arcaico no mundo da bola. Tão decantado no início, o planejamento profissional ficou no terreno das promessas (veja o quadro), como mostra a ciranda de treinadores na Gávea. O recém-chegado técnico Vanderlei Luxemburgo é o sexto nome a ocupar o cargo desde que a administração atual assumiu o poder. Seu antecessor, Ney Franco, foi demitido na quarta passada (23), após sete jogos no comando do time. Outra peça-chave do clube, o diretor executivo de futebol, Felipe Ximenes, foi pivô de um episódio exemplar dos desencontros que marcam o departamento. Na manhã de terça passada (22), o lateral André Santos, que havia sido agredido por um grupo de torcedores após a goleada para o Inter no domingo, deu entrevista dizendo que Ximenes o demitira. Minutos depois, o diretor afirmou que não sabia nada a respeito. No fim da tarde, o clube emitiu um comunicado negando a rescisão. Não seria a primeira demissão atrapalhada desta gestão. Campeão da Copa do Brasil e do Estadual, o treinador Jayme de Almeida soube pelo noticiário que estava desempregado. No fim do ano passado, o próprio André Santos foi protagonista de um episódio que dá bem a dimensão dos erros primários cometidos. Apesar de suspenso, o lateral foi escalado para enfrentar o Cruzeiro na última rodada do Campeonato Brasileiro. Resultado: o clube foi punido com a perda de 4 pontos e só não despencou para a segunda divisão porque a Portuguesa cometera falha semelhante e acabou rebaixada. Em meio à crise, vale a máxima segundo a qual o último a sair que apague a luz. Nada menos que dez dos 24 jogadores atualmente sob contrato estão negociando para deixar o clube. “Gosto do trabalho feito na área financeira, mas eles não entendem bulhufas de futebol e são de uma arrogância incompreensível. Não aceitam conversar com ninguém”, reclama o ex-presidente Marcio Braga.

Arrogância é o termo mais ouvido na sede quando o assunto são os dirigentes rubro-negros. Apesar de propalar uma gestão transparente, embasada na publicação de um balancete detalhado e digno de elogios, a diretoria sofre críticas de membros dos conselhos deliberativo e fiscal, que reclamam não ter seus ofícios e indagações respondidos. Por sua vez, Bandeira de Mello diz que todas as decisões são tomadas em colegiado com seus vices. Aparentemente salutar, o modelo do conselho gestor é outro motivo de revolta. As queixas dão conta de falta de comando. Na última segunda (21), os ex-presidentes distribuíram uma carta aos sócios exigindo mudanças no futebol e entregaram uma cópia nas mãos do titular do cargo. Como último recurso, um impeachment não está descartado. “Eles estão pagando a dívida, é verdade, mas para isso se desfizeram de pelo menos 60 milhões de reais em direitos econômicos de jogadores”, critica Leonardo Ribeiro, porta-voz da oposição. “Negociaram o imóvel no Morro da Viúva e ainda assim atrasam salário porque comprometeram 7 milhões de reais mensais para o pagamento de dívidas, uma soma muito maior do que aquela com que podiam arcar.” Oxalá a novidade trazida pela Chapa Azul não acabe em um inédito rebaixamento.

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