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Um teatro em ruínas

Situado numa área valorizada e dono de um passado glorioso, o Princesa Isabel pena com a má conservação

Por Lais Botelho
Atualizado em 2 jun 2017, 13h11 - Publicado em 12 mar 2014, 18h56
FELIPE FITTIPALDI
FELIPE FITTIPALDI (Redação Veja rio/)
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O endereço situa-se em um espaço concorrido da Zona Sul, precisamente numa galeria da movimentada avenida que liga Copacabana a Botafogo. No entanto, o Teatro Princesa Isabel, batizado com o mesmo nome da via, é um retrato nítido do declínio. Ao cruzar as portas de madeira e o gradil na entrada, o público depara com um local castigado, onde predomina o cheiro de mofo, que se acentua na sala de espetáculos. Ali dentro salta aos olhos o precário sistema de som, com duas caixas apoiadas sobre tripés no palco, que costumam causar interferências durante as apresentações. Pelo imóvel há fiação elétrica exposta, interruptores em péssimo estado, paredes descascadas e objetos de decoração carcomidos por ferrugem e rachaduras. Existe ainda o esqueleto de um bar no hall, sem utilidade. Essa estrutura capenga se reflete na programação, carente de qualidade, o que leva a um círculo vicioso. O estabelecimento tem como uma de suas principais receitas financeiras as peças infantis nos fins de semana, quase sempre montagens sem maiores pretensões artísticas. Outra fonte de renda é o aluguel para espetáculos escolares e de academias de dança. Quanto à agenda noturna, não raro o espaço fica mais de duas semanas sem um título em cartaz. Proprietário da casa, Orlando Miranda evita a palavra decadência e atribui o estado atual a uma fase ruim mas passageira. “Toco tudo sozinho e checo cada detalhe, mas erros podem acontecer”, diz ele, que fundou o teatro há quase cinquenta anos, ao lado de dois sócios.

Com 80 anos de idade e cinquenta como produtor, Miranda testemunhou o ocaso de diversos palcos cariocas, vítimas de má administração, obsolescência ou falta de renovação. Em um fenômeno semelhante ao que aconteceu com os cinemas, diversos teatros de rua fecharam as portas ou perderam o vigor, como o Serrador, do Hotel Glória, e o do Copacabana Palace. O próprio Miranda passou adiante, no ano passado, o Teatro Galeria, no Flamengo, que virou uma academia de dança. Por questões de comodidade e segurança, esses pontos perderam terreno para os estabelecimentos em shoppings. “Espaços como o Oi Casa Grande e o Teatro do Leblon são mais convidativos”, reconhece Miranda. “Eles possibilitam um passeio pelo entorno para fazer compras ou comer.”

Fotos Felipe Fittipaldi
Fotos Felipe Fittipaldi ()
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Inaugurado em 28 de janeiro de 1965, o Princesa Isabel fez parte de uma leva de palcos abertos naquele ano festivo. “Ele pretendia marcar lugar nas iniciativas culturais do quarto centenário do Rio”, conta o historiador Orlando de Barros. “Era uma casa bem instalada e moderna, ocupada pelas melhores companhias, diretores e artistas.” Na ocasião, o início das atividades foi celebrado com um luxuoso almoço no Salão de Banquetes do Leme Palace Hotel, no qual estiveram presentes o governador Carlos Lacerda e estrelas como Cacilda Becker, Tônia Carrero e Grande Otelo. O local logo se destacou pela proposta inovadora de ser multifuncional, tornando-se um ponto de encontro para a classe. De início, seu repertório buscava privilegiar autores nacionais, tanto que a montagem de estreia foi A Guerra Mais ou Menos Santa, do carioca Mário Brasini (1921-1997). Depois, estiveram em cena Procópio Ferreira, como O Avarento, de Molière, e Paulo Gracindo, protagonista de O Preço, escrita por Arthur Miller. Naquele palco foi exibido também o musical Gemini 5, da dupla Luiz Carlos Miele e Ronaldo Bôscoli.

Hoje a realidade é outra, e os astros em cartaz ficaram no passado. Embora Miranda não revele dados sobre a frequência de público, sabe-se que, num ótimo dia, são vendidos 150 ingressos para uma sessão. A quantia equivale à metade da capacidade da casa, que pode acolher 200 pessoas na plateia e outras 100 no balcão superior. Para renovar a esperança de que um dia o Princesa Isabel saia da estagnação atual e recupere a vitalidade, há exemplos recentes de teatros de bairro bem-sucedidos em sua revitalização, caso do Gláucio Gill, em Copacabana, e do Ipanema. A seu favor, o Princesa Isabel dispõe de boa localização e arquitetura charmosa. O problema é que Miranda parece refratário a qualquer mudança: não há sequer um site próprio com a programação da casa. “Administrar um teatro é como cuidar de um hospital. Exige muita responsabilidade e atenção”, diz ele. Difícil mesmo é ficar parado no tempo e conseguir sobreviver em meio à profusão de ofertas de entretenimento na cidade.

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