“Meu filho estava em casa de família”, dizem pais de João Pedro
Em depoimento emocionante, Rafaela e Neilton falam sobre a perda do menino, de 14 anos, morto durante uma operação policial em São Gonçalo
Os pais do jovem João Pedro Mattos Pinto, de 14 anos, morto durante uma operação das polícias Federal e Civil no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, na última segunda (18), se pronunciaram sobre a dor de perder o filho. Na tarde de terça (17), amigos e parentes do menino fizeram um protesto antes do enterro do adolescente. Em um depoimento emocionante, Rafaela e Neilton contaram, no Encontro com Fátima Bernardes desta quarta (19), como toda a tragédia, que causou comoção geral, desenrolou-se.
“Estamos péssimos. É um sentimento que não desejo para o meu pior inimigo. Perder um filho é como arrancar algo de dentro. Não tem explicação você perder uma criança que você cuidou, amou fez planos para o futuro… Em minutos, horas, vi esse sonho ir por água abaixo. Tiraram o meu sonho, o sonho do meu filho, da minha família. Acabaram com a minha família, não só dele tiraram a vida, mas destruíram a minha família cruelmente. Ele estava numa casa junto com seu primo, com outros amigos, jogando no celular e a polícia entrou lá de forma brutal”, relatou Neilton, o pai, que trabalhava num quiosque quando ocorreu a operação.
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Na atração matinal, ele contou ainda sobre a via-crúcis até encontrar o corpo de João Pedro. “Chegamos lá e encontramos os adolescentes fora da casa, no chão, como bandidos, como porcos, lixo. Coisa que eles não são. Cinco adolescentes, mas o total era seis. Faltava um. E esse era o meu filho, que já estava baleado. Botaram ele num blindado e socorreram. E eu perguntando: ‘o que aconteceu?’… Não me deram resposta. Desesperado, decidi ir para casa. Tomei banho, peguei um carro emprestado e fomos em busca. Encontramos o meu filho depois de 17 horas no IML (Instituto Médico Legal) com um tiro de fuzil, morto”, continuou o patriarca.
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De acordo com Neilton, o pior foi saber que seu filho foi atingido dentro do confinamento de um lar. “Sabemos que morar em comunidade não é fácil. Tomávamos todas as preocupações. O que tirou a vida do meu filho foi a polícia. Ele não estava na rua, numa troca de tiro. Meu filho estava dentro de uma casa de família. Isso é o mais triste. Se ele estivesse num confronto…. Mas estava dentro de um lar. Acho que ninguém tem esse direito de invadir a sua casa e tirar a vida de um jovem de 14 anos, que tinha sonhos, projetos”, lamentou.
Sobre o desfecho da tragédia, Rafaela, a mãe, tentou prosseguir aos prantos: “Fica um sentimento muito ruim, de impunidade. Ele pedia para ir para a rua e eu ficava com medo de ter operação. Falava: ‘não, não vai’. Ele dizia: ‘mãe, você me prende muito’. Nesse dia que ele foi para casa do primo, eu deixei ele ir, mas disse que ele voltaria para dormir em casa. Eu não vi o meu filho, não pude dar um abraço nele. Tinha tanta esperança de encontrá-lo com vida”.