Artigo que culpa desfiles por casos de Covid em 2020 gera polêmica

Federação das escolas desafia pneumologista a provar afirmação, ameaçando processá-la. Decisão sobre realização do espetáculo este ano sai dia 24

Por Da Redação
Atualizado em 19 jan 2022, 12h21 - Publicado em 18 jan 2022, 15h23
Visão aérea de um desfile de Carnaval na Sapucaí
Sambódromo: ainda dá tempo de garantir seu ingresso para os desfiles das escolas de samba. (RioTur/Divulgação)
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A menos de uma semana da data marcada para a prefeitura do Rio bater o martelo sobre a realização, ou não, dos desfiles das escolas de samba no Sambódromo – marcada para a próxima segunda-feira, dia 24 -, uma polêmica toma conta do mundo do samba.

Caiu como uma bomba um artigo da pneumologista e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Margareth Dalcomo, publicado pela Folha de São Paulo na sexta-feira passada (14).

No texto, ela escreve: “Lembremos que os primeiros casos de Covid-19 que tratamos — e algumas pessoas faleceram, em 2020 — foram oriundos dos desfiles nos sambódromos”, o que levou a Federação Nacional das Escolas de Samba (Fenasmaba) a emitir no domingo (16) uma nota de repúdio.

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Na nota, assinada pelo presidente da Fenasamba, Kaxitu Ricardo Campos, a federação lamenta que “a pretexto de defender o cancelamento dos desfiles das escolas de samba, (Margareth) utilize argumentos falsos, mentirosos e distorcidos, juntando sua voz àqueles que fazem uma insistente e preconceituosa campanha contra o Carnaval e as escolas de samba”.

E desafia a pneumologista “a apresentar provas concretas, objetivas e científicas que justifiquem sua descabida afirmação”, informando que acionará seu departamento jurídico para processá-la. “Lembramos à ilustre cientista que o Carnaval de 2020 aconteceu entre os dias 21 a 25 de fevereiro, enquanto o primeiro caso de Covid-19 registrado no Brasil foi em 26 de fevereiro de 2020, em São Paulo, em uma pessoa vinda da Itália.

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A primeira  morte ocorreu, também, em São Paulo, no dia 12 de março de 2020, e a transmissão comunitária foi oficialmente declarada no país no dia 20 de março de 2020″.

A Fenasmaba reclama do que chama de “tentativas de criminalizar e responsabilizar o carnaval e as escolas de samba, fechando os olhos para outros eventos, como jogos de futebol, shows de rock e música sertaneja, entre outros, que continuam sendo realizados normalmente”.

E finaliza: “Se for para proibir, que se proíba tudo. Não apenas o Carnaval!”

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O consórcio dos veículos de imprensa especializados na cobertura de carnaval (Apoteose, Carnavalesco, Carnaval Interativo, Mais Carnaval, Rádio Arquibancada e Samba é Paixão) chegou a procurar a Fiocruz questionando a afirmação de Margareth Dalcomo.

Para a professora, escritora e pesquisadora de carnaval Rachel Valença, o fato de a pneumologista ter conquistado grande confiabilidade, “por suas posições corajosas e esclarecedoras” durante a pandemia, “qualquer declaração sua tem um peso muito grande e repercussão enorme”.

“Quando ela se manifesta publicamente contra a realização do desfile das escolas de samba, e dá como um dos motivos o fato de os primeiros casos de Covid serem oriundos dos desfiles de 2020 – o que comprovadamente não é verdade – ela, talvez inadvertidamente, contribui para agravar o preconceito de que as escolas de samba são vítimas desde sua origem”, diz Rachel, lembrando que as agremiações são um importante elemento para a economia da cidade, pois atraem turistas, geram empregos e, principalmente, são a mais autêntica manifestação cultural da cidade.

Este mês, o Carnaval de rua foi oficialmente cancelado pelo município, considerando que não há como fazer um controle sanitário, com adoção de protocolos de testagem ou de exigência de esquema vacinal completo.

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Os desfiles no Sambódromo estão programados para acontecer a partir do dia 25 de fevereiro – dependendo do que ficar decidido pela prefeitura, que ficou de bater o mratelo no próximo dia 24.

Recentemente, o prefeito Eduardo Paes avaliou como viável a realização do espetáculo na Sapucaí, citando o fato de ele ocorrer em “ambiente controlado”: “No ambiente controlado, temos muita convicção de que é possível fazer o carnaval. Mas vamos aguardar o comitê científico”.

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Parte dos integrantes do Grupo Técnico de Assessoramento a Eventos de Saúde Pública da Secretaria de Estado de Saúde (SES), conhecido como comitê científico estadual, já avaliou que, devido à explosão de de novos casos de Covid-19, não há condições de liberar eventos abertos ou fechados que gerem aglomerações, que sejam difíceis de controlar. Mas o comitê é consultivo, e o governador do estado, Claudio Castro, pode decidir em contrário. Segundo entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF), no entanto, caso haja divergência, vale a medida mais restritiva.

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Procurada, Margareth Dalcomo não comentou o caso.

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