Guerra em Seropédica: entenda a disputa entre milícias que domina a cidade
Há quatro anos, três grupos de paramilitares brigam pelo território, considerado estratégico pela proximidade com a Rodovia Rio-Santos e o Porto de Itaguaí
O tiroteio da última segunda (8) – que levou à morte um estudante da Universidade Federal Rural do Rio (URFFJ) – chamou a atenção para guerra que está sendo travada na outrora pequena e pacata cidade de Seropédica, na Baixada Fluminense. Três grupos de milicianos há cerca de quatro anos travam uma disputa pelo território, considerado estratégico pela proximidade com a Rodovia Rio-Santos e o Porto de Itaguaí. Os criminosos rivais atuam ao longo da BR-465, antiga Rodovia Rio-São Paulo, que liga a Av. Brasil, corta a cidade de Nova Iguaçu e chega em Seropédica.
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Atualmente, a disputa envolve as milícias comandadas por Juninho Varão, Zinho e Chica, que recentemente se aliou aos traficantes do Terceiro Comando Puro (TCP). Chica e Juninho eram aliados, mas se dividiram. Percebendo a falta de comando, o bando liderado por Zinho, passou a tenta invadir a região. O início da guerra foi em outubro de 2020, quando um comboio com doze milicianos foi abordado por agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e da Polícia Civil na Rio-Santos, na altura de Itaguaí. Houve confronto e todos os bandidos, ligados ao miliciano Danilo Dias Lima, o Tandera. morreram. Na época, Tandera e Wellington da Silva Braga, o Ecko, comandavam os dois principais grupos paramilitares do Rio. Os dois agiam em parceria, mas, após o episódio, começaram a desconfiar um do outro e romperam a relação.
Oito meses depois, Ecko foi morto pela polícia e seu irmão, Luiz Antônio da Silva Braga, o Zinho, assumiu o comando do grupo. Foi quando os territórios na Zona Oeste e na Baixada passaram a ser disputados à bala, com uma sucessão de mortes e atentados. Mas Zinho, cujo bonde controla Itaguaí, se entregou à polícia em dezembro do ano passado, e seu sucessor imediato seria seu sobrinho, Mateus da Silva Resende, conhecido como Teteu ou Faustão. Só que ele foi morto durante uma operação da polícia, dois meses antes de o tio se entregar. A morte do miliciano provocou um dia de terror à Zona Oeste do Rio, quando 35 ônibus e um trem foram queimados como represália. As disputas por território continuaram, e outro possível chefe do grupo também foi morto. Antonio Carlos dos Santos Pinto, o Pit, foi morto depois de um confronto entre os próprios bandidos. Assim, o comando do grupo passou para Rui Paulo Gonçalves Estevão, o Pipito.
Já no chamado km 49, em Seropédica, há nove quilômetros de Itaguaí, outro grupo de paramilitares dá as cartas. E, com a morte de Tauã de Oliveira, conhecido como Tubarão, em fevereiro passado, a guerra se intensificou. Um de seus possíveis substitutos, Ricardo Coelho da Silva, conhecido como Cientista, também foi morto poucas semanas depois. É quando Juninho Varão assume o comando e expande seu território. Até que um antigo braço direito de Tubarão, deu um golpe: Jefferson Araújo dos Santos, conhecido como Chica, roubou fuzis e se aliou a facção de traficantes, TCP.
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O tiroteio que tirou a vida do estudante de Biologia da UFRRJ Bernardo Paraíso, além de ferir duas crianças e a mãe delas, na tarde de segunda (8), aconteceu na Avenida Ministro Fernando Costa. A ação teria sido uma emboscada para atacar milicianos rivais. Como eles não encontraram os adversários, decidiram sair. Contudo, no meio do caminho de volta, no Centro de Seropédica, encontraram o bonde de Chica. O tiroteio aconteceu à luz do dia, numa região movimentada e cheia de estabelecimentos comerciais. Milicianos vestidos como policiais, com balaclavas e coletes à prova de balas, corriam pelas ruas carregando fuzis em meio a carros e pedestres, que tentavam se proteger em desespero. Os carros parados em frente a um supermercado ficaram crivados de balas. Um deles tinha 16 marcas de tiros no vidro dianteiro. Um dos bandidos foi atingido no tórax e atendido no Hospital da Posse, em Nova Iguaçu. Com ele, foi apreendido um fuzil. Um segundo suspeito foi preso com uma pistola.
pistola.