Favela way of life

Aluguel barato e UPPs levam estudantes estrangeiros a se mudar para os morros

Por Carina Bacelar
Atualizado em 5 dez 2016, 15h23 - Publicado em 3 out 2012, 17h10
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intercambio-01.jpg (Redação Veja rio/)
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Com 20?000 alunos e localizada em um bairro nobre da cidade, a Pontifícia Universidade Católica (PUC), na Gávea, tem tradição de receber em suas salas de aula jovens estrangeiros. Entre as instituições cariocas de ensino superior, é a que tem o maior porcentual de intercambistas, com 6% do total de estudantes. Muitos deles são moças e rapazes de classe média alta em seu país, o que, nos últimos tempos, não os impediu de se instalar em barracos nos arredores do câmpus. O fenômeno guarda relação com dois fatores: a pacificação das favelas da região e a alta nos aluguéis da Zona Sul.

Livres de criminosos e com preços acessíveis para quem vive com pouco dinheiro, os enclaves nas encostas do Morro Dois Irmãos têm se transformado em pouso certo para quem busca experiências autênticas. O parisiense Davide Piassenli, 22 anos, cursa engenharia da computação e mora há dois meses no Vidigal com colegas alemães e mexicanos. No início, ele teve medo. “Podiam me confundir com os estudantes do filme Tropa de Elite, que subiam atrás de drogas”, conta. Passado o temor, Davide tornou-se habitué de festas e forrós locais. Também vinda da França, Bonnie Madier, 23, aluna de administração, instalou-se na Rocinha. Paga 500 reais pelo barraco dividido com o namorado, a quarta parte do que gastaria se morasse no Leblon ou em Ipanema. “Eu me sinto em uma cidade pequena”, diz a jovem de Lyon, que se delicia com os combinados de comida japonesa vendidos a 15 reais.

Por mais pitoresco que seja, viver em uma favela implica sacrifícios e exige considerável capacidade de adaptação. A peruana Angela Castro, 30 anos, aluna do mestrado de engenharia, afirma que leva “uma vida difícil”. Instalou-se na Vila Parque da Cidade (a doze minutos a pé da sala de aula) e, com 1?200 reais de bolsa, passa o mês contando os trocados. “Meus pais não sabem que moro aqui”, revela. Sua vizinha, a mexicana Nelly Martinez, 21, aluna de negócios internacionais, também esconde da família seu endereço. No país natal, tinha um carro e mordomias de filha de empresário. Na Vila Parque, instalou-se numa quitinete. “É um universo estranho, mas eu me sinto segura”, afirma. Bem-educados e ordeiros, os gringos são vistos com simpatia pelos habitantes dos morros. “Eles interagem bem com a vizinhança”, aponta Marcelo Silva, da Associação de Moradores do Vidigal. Em alguns casos, o afluxo de jovens é mais do que bem-visto. “A presença deles valoriza os imóveis”, diz Robert Martins, líder comunitário da Vila Parque. Em breve, o fenômeno pode gerar um efeito colateral indesejado para a moçada, fazendo o barato ficar caro.

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