Estudantes aprovados em universidades da França mobilizam políticos para conseguir o visto

Movimento Étudier Est Impérieux, criado por três cariocas, corre contra o tempo para que alunos sejam autorizados a embarcar antes do início ano letivo

Por Marcela Capobianco
Atualizado em 15 jul 2021, 17h00 - Publicado em 15 jul 2021, 13h40
Vista da Torre Eiffel em Paris com um grande sinal "bloqueado" na frente dela
Sem visto: grupo de estudantes em busca de autorização para entrar na França vira madrugadas mobilizando entidades e enviando mensagens a políticos (Jad Limcaco/Unsplash/Reprodução)
Continua após publicidade

Um sonho que, a cada dia que passa, ganha contornos de pesadelo. É assim que estudantes aprovados para estudar na França – alguns com bolsa de 100% – definem o périplo para serem aceitos no país europeu, fechado para brasileiros, salvo por “motivo imperioso”, há mais de um mês.

No dia 9 de junho, a França reabriu as fronteiras para alguns países e classificou o Brasil como “zona vermelha” no risco de contágio pelo novo coronavírus, impedindo a entrada de turistas e estudantes.

Neste momento, só podem entrar no país europeu cidadãos franceses, cônjuges e filhos; cidadãos da União Europeia que possuam residência na França, brasileiros com autorização de residência ou visto de longa duração no país e funcionários em missões diplomáticas.

+ Para receber VEJA Rio em casa, clique aqui

Desde o dia 12 de junho, um grupo de 955 estudantes brasileiros, 138 do Rio de Janeiro, aprovados para estudar na França, mas que não conseguem o visto de permanência, se uniram, pela internet, para chamar atenção para a causa, mobilizar entidades, políticos do Brasil e da França e conseguir, enfim, que o sonho vire a realidade.

No Instagram, o perfil @etudierestimperieux já tem quase 6 000 seguidores.

Continua após a publicidade

A luta também é contra o relógio, já que o ano letivo europeu começa em setembro. O carioca Luan Dias, de 26 anos, um dos líderes da mobilização, não dorme há um mês e define a angústia como uma montanha-russa de sensações. O trabalho do grupo é, basicamente, enviar cartas a parlamentares franceses e brasileiros e ao Itamaraty suplicando para que o estudo seja classificado como um “motivo imperioso” na França. Oito senadores e duas deputadas da França já apoiam a causa oficialmente.

Luan largou a faculdade de medicina, no Rio, para se dedicar ao cinema. Num processo de seleção que durou dois meses, ele foi aprovado na École Internationale de Création Audiovisuelle et de Réalisation, em Paris.

+ Porto Maravilha ganha painel de arte urbana que exalta lideranças negras

O início do curso, já adiado por causa da pandemia, está marcado para o dia 14 de outubro. Caso seja necessária uma quarentena de dez dias ao chegar à capital francesa, o jovem precisa embarcar, no máximo, no dia 3 de outubro. Mas, para isso, precisa do visto de estudante, que não está sendo emitido pela embaixada francesa no Brasil.

Continua após a publicidade

“Como não temos nenhum posicionamento do governo da França e a embaixada também não fala nada, estamos no escuro. Sabemos que os números da pandemia no Brasil não ajudam, mas há maneiras seguras de chegar à França. Podemos fazer testes, quarentena… A Inglaterra, por exemplo, obriga uma quarentena de dez dias em hotéis próximos ao aeroporto”, explica Luan, cuja família vai bancar a anuidade de 14,5 mil euros na faculdade de cinema, além dos custos de vida em Paris.

Jovem branco, de barba, olhando uma tela
Luan Dias: sonho de cursar uma das mais importantes faculdades de cinema do mundo está por um fio (./Arquivo pessoal)

Nesta quinta (15), o secretário de Estado de Turismo da França, Jean-Baptiste Lemoyene, informou, em uma entrevista a uma televisão local, que os motivos imperiosos serão suspensos para qualquer viajante vacinado, independentemente do país de origem. O imunizante, no entanto, precisa ser aceito no país. No Brasil, apenas as vacinas da Pfizer e Janssen estão nessa lista.

+ YouTuber carioca dá dicas de jogos de tabuleiro para reunir a família

Continua após a publicidade

A notícia é boa, mas não resolve o problema, já que os estudantes do grupo têm entre 20 e 30 anos e muitos deles ainda não receberam a vacina contra a Covid-19.

A advogada Flávia Barros, 25 anos, moradora de Niterói, ganhou bolsa de 100%, mais uma assistência para gastos, para cursar o mestrado em Direito Internacional e Europeu na Université Catholique de Lyon. Ela já tomou a primeira dose da vacina Astrazeneca/Covishield, que não é autorizada na França.

“É desesperador pensar que um projeto de vida ao qual me dedico há anos pode ir por água abaixo. Gostaria de poder me dedicar ao processo de mudança de país, que envolve muitos custos e preocupações, mas estou me dedicando diariamente às ações para tentarmos sensibilizar as autoridades francesas da importância do nosso visto”, conta a jovem.

+ Irreverentes, influenciadores de favelas entram na mira de grandes marcas

Continua após a publicidade
Advogada Flávia Barros de camisa social salmão e braços cruzados
Flávia Barros: advogada de 25 anos ganhou bolsa de 100% para fazer mestrado em Lyon, mas corre o risco de perder a vaga (./Arquivo pessoal)

“O grupo de WhatsApp do movimento tem servido como uma grande fonte de apoio, mas é muito ruim viver essa situação. Parece que os estudantes brasileiros foram esquecidos tanto pelas autoridades daqui, quanto pelas francesas”, desafa Flávia, que não tem esperanças de que a universidade “segure” a vaga para 2022.

Mesmo quem ganha bolsa precisa gastar entre R$ 2000,00 e R$ 10000,00 com traduções de documentos, testes de proficiência na língua, entre outras burocracias. “O que deveria ser uma celebração virou uma tortura. Tem gente que largou o emprego contando com a mudança de país, e tem grandes chances de ver o sonho jogado no lixo. Nossa luta é contra esse sentimento de frustração”, resume Luan Dias.

Continua após a publicidade

 

 

Publicidade

Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

Impressa + Digital no App
Impressa + Digital
Impressa + Digital no App

Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

Assinando Veja você recebe mensalmente Veja Rio* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
*Para assinantes da cidade de Rio de Janeiro

a partir de 39,96/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.