Você é o que você come: exames de DNA podem ajudar a definir dietas
Testes genéticos revelam como os nutrientes interagem com o corpo, possibilitando ajustes na rotina alimentar e evitando doenças
A rotina de trabalho exaustiva aliada à tendência a ganhar peso e à preocupação com o histórico familiar de diabetes e doença de Alzheimer ligaram um alerta na mente da psicóloga Letícia Oliveira, de 35 anos. Ao pesquisar sobre os sintomas, decidiu investir num teste genético.
Os resultados foram esclarecedores: ela descobriu que metaboliza o café de forma lenta, o que lhe causa insônia e ansiedade, e tem dificuldade para digerir carboidratos. Além disso, o exame provou que as taxas de vitamina D e ômega-3 — fundamental para proteger o cérebro — estavam abaixo do recomendado.
“Eu não tinha o costume de comer peixe, e o teste me provou que a real prevenção estava justamente no meu prato de comida”, conta Letícia, que deixou de lado as dietas restritivas e adotou um planejamento alimentar preciso com a ajuda de uma nutricionista. “Ganhei um senso de controle sobre a minha saúde. Isso é impagável”, analisa.
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Ela afirma que, em seis meses, o cansaço e ansiedade sumiram, as noites de sono voltaram a ter qualidade e a manutenção do peso foi controlada, porque parou de consumir carboidrato à noite.
Saber como os nutrientes ingeridos interagem com o próprio DNA pode ser o primeiro passo para readequar a alimentação, mas a disciplina para segui-lo é essencial. É desse princípio que parte a nutrigenômica. “Olhar para a genética tira a nutrição do ‘achismo’, garantindo precisão. O conhecimento nos dá o poder de estimular o que temos de melhor e agir onde há vulnerabilidade”, avalia Ana Paula Petermann, nutricionista especializada em nutrigenômica.
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Ela explica que a psicóloga Letícia Oliveira tem uma variante específica no gene CYP1A2, indicando que a cafeína permanece muito tempo no organismo, podendo causar até mesmo um maior risco cardiovascular. “Conhecer essas particularidades permite que o consumo de determinada substância seja reajustado ou até mesmo suspenso em nome da saúde do paciente”, esclarece a especialista.
“Ao lermos o DNA, temos uma espécie de livro de receitas de cada uma das nossas proteínas. Ainda não entendemos todos os capítulos, mas as descobertas ajudam a revelar o funcionamento do corpo humano”, corrobora Gustavo Guida, geneticista dos laboratórios Sérgio Franco e Bronstein, da Dasa.
Esse tipo de exame ganhou fama ao revelar curiosidade sobre ancestralidade, mas evoluiu nas últimas duas décadas, passando de um papel predominantemente diagnóstico para oferecer ferramentas prognósticas e preventivas.
O teste custa em média 1 900 reais e não é coberto por planos de saúde, o que ainda dificulta o acesso de grande parte da população.
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Guida destaca que a genética foi revolucionária na investigação, ainda na infância, de epilepsias, distúrbios motores e atrasos de desenvolvimento.
Mulheres que tentam engravidar sem sucesso também são orientadas a recorrer ao exame, assim como pessoas diagnosticadas com câncer em idade precoce ou que tenham casos de repetição da doença na família.
Um episódio famoso é o da atriz americana Angelina Jolie, que removeu, em 2013, as duas glândulas mamárias ao descobrir que tinha 80% de chance de desenvolver câncer, a exemplo de sua mãe. Após o procedimento, o risco diminuiu para 5%.
Mapa na mão
A nutricionista Ana Paula Petermann esmiúça a trilha pós-exame
A análise das pequenas variações no DNA indica como o corpo lida, por exemplo, com a cafeína, gorduras, carboidratos e vitaminas.
A partir daí, vêm as recomendações. Se o paciente tem um metabolismo mais lento, o especialista vai definir o melhor momento para a ingestão de certas substâncias.
O cotidiano, preferências alimentares e avaliação clínica também são levadas em conta. O resultado é um plano que, além de cientificamente eficaz, deve ser sustentável e fácil de seguir.
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