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Tão perto, tão longe

Expedição descobre espécies raras de animais e plantas nas Ilhas Cagarras, um tesouro da natureza no mar de Ipanema

Por Carla Knoplech
Atualizado em 5 jun 2017, 14h33 - Publicado em 9 Maio 2012, 17h53
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cagarras-02.jpg (Redação Veja rio/)
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Muitos cariocas o conhecem de vista, mas poucos pessoalmente. Distante 5 quilômetros da praia de Ipanema, o Arquipélago das Cagarras emoldura a paisagem com suas rochas pontiagudas cortando o horizonte. Devido à variedade de fauna e flora presente em suas seis ilhas, o complexo ganhou o selo de monumento natural em decreto sancionado pelo governo federal há dois anos. É o único bioma marinho do país a merecê-lo, fato que jogou luz sobre a necessidade de preservar o conjunto. Movido por esse objetivo, um grupo de pesquisadores da ONG Mar Adentro se dedica a fazer um inventário de animais e plantas da região. Um ano após o início do estudo, eles conseguiram reunir farto material, que possibilitou descobertas surpreendentes. Catalogaram mais de 200 espécies botânicas e zoológicas, entre elas dois registros inéditos, de uma perereca e uma barata exótica, alaranjada e bem maior que o repulsivo inseto que todos conhecem. “Queremos esmiuçar toda a área para que ela possa ser usada de forma sustentável por cariocas e turistas”, afirma o coordenador da missão, Carlos Rangel.

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Para ali desembarcar, é necessário que o mar esteja em boas condições, pois não há atracadouro. Dado esse primeiro passo, vem a parte mais complicada do projeto, que é percorrer cada metro quadrado de uma área inóspita, coberta de plantas rasteiras e formações rochosas. Entre as façanhas levadas a cabo pelos exploradores se inclui uma inédita escalada ao cume da Ilha Redonda, a mais vistosa do conjunto, com 284 metros de altura. A arriscada expedição, que contou com a participação de alpinistas profissionais e foi devidamente documentada em vídeo, propiciou a descoberta de raridades. Cada vez que uma nova espécie é encontrada, os pesquisadores a coletam e entregam ao Museu Nacional, para que os especialistas possam estudá-la mais a fundo. Foi o que aconteceu com determinadas orquídeas e cactos recolhidos, além do batráquio e do inseto que eles acreditam se tratar de ocorrências inéditas. Antes desse trabalho, apenas algumas poucas espécies de peixes, golfinhos e esponjas-do-mar haviam sido listadas. Pontos geográficos isolados, como o arquipélago carioca, são verdadeiros tesouros para os biólogos. Em sua expedição mundial a bordo do navio Beagle, o naturalista inglês Charles Darwin (1809-1882) fez importantes pesquisas nas Ilhas Galápagos, a menos de 1?000 quilômetros da costa do Equador, que ajudaram a embasar a teoria da evolução das espécies.

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A beleza das Ilhas Cagarras, presumível de longe, e seu acesso fácil, embora perigoso – no último Carnaval, o folião de um bloco mergulhou no Leblon e foi parar lá, carregado pelas correntezas -, têm atraído muita gente àquele recanto natural. Em um domingo de sol, é possível flagrar mais de cinquenta embarcações de passeio ou pesca singrando a região ao mesmo tempo. A visita desordenada, como é de supor, traz consequências nefastas. No último mutirão de limpeza, foram retirados 80 quilos de lixo. Em meio a garrafas e sacos plásticos, chamou atenção uma rede de pesca recolhida de um coral. Apesar de proibidas num raio de até 10 metros no entorno das ilhas, a caça submarina e a pesca com rede ou anzol são de difícil controle. Faltam lanchas para exercer a fiscalização. Um dos propósitos da expedição é que o levantamento científico seja o ponto de partida para a elaboração de um plano de manejo, a fim de que aquela área possa ser preservada. “É preciso definir os zoneamentos e as normas de uso, já que a utilização desordenada tem causado danos”, alerta o biólogo e fotógrafo Fernando Moraes, integrante da expedição.

[—FI—]

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Citado por cartógrafos franceses no século XVIII como “Ilha Cagade”, o conjunto ganhou esse nome escatológico em razão da grande quantidade de excrementos de aves encontrada em seu costado, formando uma enorme mancha branca visível a distância. Seja por mau entendimento dos nativos ou, hipótese mais provável, para atenuar o termo chulo, o arquipélago acabou conhecido pela denominação atual. É essa pérola da biodiversidade que tanto fascina os pesquisadores e um grupo reduzido de cariocas que já tiveram o privilégio de navegar até o local. “O arquipélago ainda não faz parte da vida da cidade, mas em breve ele vai estar integrado”, prevê o secretário municipal de Meio Ambiente, Carlos Alberto Muniz. Que essa aproximação respeite os velhos habitantes do complexo marinho.

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