Fazenda do século XVIII será transformada em Parque Municipal
Projeto prevê centro cultural com biblioteca, atividades educativas e áreas de lazer abertas à população em Jacarepaguá
Vem aí o Bosque Fazenda da Baronesa, em Jacarepaguá. A prefeitura do Rio anunciou no sábado (16) que a histórica Fazenda da Taquara — um dos mais antigos engenhos da cidade, tombado desde 1938 — será desapropriada para se transformar em parque municipal. O projeto prevê a criação de um centro cultural, com biblioteca, atividades educativas e áreas de lazer abertas ao público.
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O prefeito Eduardo Paes visitou a construção do século XVIII, localizada na Estrada Rodrigues Caldas, acompanhado do secretário de Esportes, Guilherme Schleder, da presidente da Rio-Urbe, Maria Fernanda Cebrian, do deputado federal Pedro Paulo e do secretário de Conservação, Diego Vaz. Segundo ele, a ideia é seguir o modelo do Bosque da Freguesia, mas com o diferencial do valor histórico do imóvel. “Isso aqui tem que virar um centro cultural, uma biblioteca, uma Nave do Conhecimento, tem que ter uso. Um uso lúdico e cultural, que conte a história e, ao mesmo tempo, ofereça serviços públicos à população”, afirmou o prefeito.
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Parte de uma propriedade tombada e protegida ambientalmente, a fazenda foi residência do Barão da Taquara, figura influente do período imperial, e abriga ainda uma capela dedicada a Nossa Senhora dos Remédios e à Exaltação da Santa Cruz, erguida em 1738. O conjunto arquitetônico, que já serviu de cenário para a novela Renascer, preserva traços marcantes do período rural da Baía de Guanabara, como o avarandado com colunas toscanas e pisos originais.
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Até junho deste ano, grupos podiam visitar o espaço gratuitamente, mas as visitas foram suspensas por decisão dos herdeiros. Com a desapropriação, o acesso público deverá ser permanente. O projeto será desenvolvido por técnicos da Rio-Urbe em parceria com historiadores da região, que deverão conciliar a preservação do patrimônio arquitetônico com novos usos culturais e educativos.
História
Construída na segunda metade do século XVIII, a Fazenda da Taquara é um dos mais importantes marcos da história rural do Rio de Janeiro. O antigo engenho de cana-de-açúcar sobreviveu ao tempo e às transformações urbanas e, em 1938, foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
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Originalmente conhecida como Engenho da Taquara ou Engenho de Dentro, a propriedade estendia-se da atual avenida Edgard Werneck, no bairro do Tanque, até o Maciço da Pedra Branca. Ao longo dos séculos, passou por diferentes donos até chegar às mãos da família do barão da Taquara, Francisco Pinto da Fonseca Telles.
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Pouco depois do tombamento, a pedido dos netos do barão, foi criada uma Área de Proteção Ambiental (APA), com cerca de 100 000 metros quadrados de área verde preservada para garantir a proteção da casa-grande e seus anexos. Apesar dos sucessivos desmembramentos, a sede e a capela permaneciam sob responsabilidade dos descendentes do barão.
Arquitetura colonial
O casarão principal segue o modelo típico das casas-grandes coloniais. A construção, em sua maior parte térrea, tem um sobrado parcial na área central e uma varanda com colunas toscanas, acessada por três escadarias. O conjunto se organiza em torno de um pátio interno e mantém a cobertura de telhas de barro no estilo “capa e bica”.
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A fachada principal é marcada por cinco arcos plenos, janelas de peitoril e sacadas posteriores. Já as laterais exibem modificações feitas ao longo do tempo, como a ampliação do telhado e a incorporação de anexos. As portas e janelas de guilhotina ainda conservam folhas externas de proteção e grades de ferro, reforçando o caráter original do edifício.
Ao lado da sede, está a Igreja de Nossa Senhora dos Remédios da Exaltação da Santa Cruz. A capela, erguida junto à casa-grande, serviu como espaço de devoção para os moradores e trabalhadores da fazenda. Importante destacar que não deve ser confundida com outra igreja de mesmo nome, localizada na Colônia Juliano Moreira, outra propriedade ligada à família, também em Jacarepaguá.
Propriedade ao longo do tempo
Os registros da fazenda remontam ao século XVII. Em 1635, Salvador Correia de Sá e Benavides vendeu a propriedade a João Rodrigues Bravo. Pouco depois, em 1637, Bravo negociou parte do terreno com André Vila Lobos da Silveira. Os limites descritos à época correspondiam ao caminho que ligava o Engenho d’Água, de Salvador Correia, ao atual bairro de Jacarepaguá, chegando às encostas do Maciço da Pedra Branca, revelando a importância estratégica da região para o cultivo da cana e a produção de açúcar. Hoje, cercada por bairros urbanizados e ruas movimentadas, a Fazenda da Taquara segue como testemunho de mais de três séculos da história do Rio.