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Futsal feminino aposta na expansão da base para crescer

Aumento de visibilidade e combate a preconceitos também integram os desafios ao avanço da modalidade

Por Ana Cecília Gandra e Letycia Farias*
Atualizado em 21 dez 2021, 14h31 - Publicado em 21 dez 2021, 11h33
Foto mostra mulheres jogando futsal
Futsal feminino: demanda também mudanças culturais (Reprodução/Arquivo pessoal)
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O futsal feminino vive no Rio, e noutros cantos do país, a perspectiva de consumar um salto historicamente dificultado por preconceitos e carências de estrutura e visibilidade. A persistência de atletas e a quantidade crescente de praticantes somam-se a esforços administrativos e econômicos no conjunto de contribuições para a guinada da modalidade. O avanço passa, entre outros desafios, pela expansão e estruturação das categorias de base femininas. Assim apontam jogadoras, treinadoras, gestoras.

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A coordenadora de projetos da Confederação Brasileira de Futsal (CBFS), Naiara Gresta, reconhece a necessidade de ampliar a base, restrita a três categorias: Sub-15, Sub-17 e Sub-20. Naiara pondera, contudo, que o futsal feminino vem ampliando a exposição e o patrocínio com o lançamento de competições como o NFFB (Novo Futsal Feminino Brasil) e a Taça Brasil Adulta, cuja final foi transmitida na BandSports.

Apesar dos ganhos de visibilidade e profissionalismo, a modalidade esbarra ainda em dificuldades crônicas para recrutar, formar e qualificar talentos. Dificuldades enfrentadas já na largada, quando não raramente meninas iniciantes jogam com meninos, por falta de opção. Foi o caso da atleta profissional Neide Oliveira, de 31 anos. Embora jogasse desde criança, só aos 14 conseguiu entrar em um time feminino. 

Neide avalia que o futsal feminino “está em um ritmo crescente, mas ainda tem muito a se desenvolver”. Além do aprimoramento das categorias de base, ela considera a exposição midiática essencial para alavancar o esporte. Não só por atrair mais público e investimento, mas por servir como espelho às próximas gerações. A jogadora ressalta esse poder transformador: 

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“Não só o futsal, mas o esporte pode mudar a vida de qualquer pessoa. Para uma criança, é essencial começar com o esporte e a educação ao lado. O esporte mudou a minha vida. No começo, era só uma brincadeira, um hobby. Foi ficando tão sério, foi crescendo a paixão pela modalidade, e consegui, por meio do futsal, um bolsa de estudos fora do país”, conta Neide. 

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O futsal começa a embalar os sonhos da atleta mirim Juliana Lopes. Aos 10 anos, integra o time de futsal do Botafogo/Casa de Espanha masculino. Recentemente, entrou também para o time feminino. 

Foto mostra menina de 13 anos jogando futsal
Juliana Lopes: ganhou apoio da família desde o começo no esporte (Reprodução/Arquivo pessoal)
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No meio dos meninos, Juliana se destaca. Sua presença na equipe é hoje vista com naturalidade. Mas, no início, enfrentou preconceito, resistência, embora a maioria dos companheiros de time não se incomodasse com a diferença de gênero e a apoiasse. Apoio irrestrito ela recebeu da família, principalmente da mãe, Luciana, que sempre acompanha os treinos e jogos. 

A paixão e a perseverança se estendem a profissionais envolvidos tanto na formação técnica e tática quanto, sobretudo, no suporte à transformação da vida de muitas jogadoras. Um trabalho exercido com entusiasmo pela professora de Educação Física Ediane Pimenta, de 42 anos. Professora do instituto Sessub, ela ensina futsal na Vila Olímpica de Caju. Às estratégias de jogo, diz Ediane, devem se juntar ensinamentos que possam melhor a vida das crianças por meio da prática esportiva. 

Foto mostra treinadora de futsal explicando tática para aluna
Ediane Pimenta: treinando as jogadoras na Mangueira (Diego Amaral/Divulgação)

A professora reforça a importância do amadurecimento das categorias de base para alavancar o futsal feminino. Ela considera igualmente necessária a ampliação de treinamentos básicos e específicos indispensáveis à iniciação esportiva.

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“Não vemos, por exemplo, tantos trabalhos específicos de passe, de salto, de técnicas para cabecear a bola de olhos abertos. Se bobear, nem no masculino vemos um trabalho de base amadurecido”.

Para Raphael Carvalho, fundador do Futsal Connect, o esperado crescimento do esporte envolve também aperfeiçoamentos administrativos, logísticos e financeiros, que tornem o futsal feminino mais conhecido, praticado, valorizado e consumido. Apesar das dificuldades, ele enxerga “possibilidades gigantes” para a modalidade:

“Muitas atletas não conseguem ainda viver só do futsal. Além disso, obstáculos logísticos impedem a participação da maioria das equipes do Rio em disputas profissionais. Parece até que não há futsal feminino no Rio. Mas, sim, nós temos”

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O aumento de visibilidade é uma das condições para a ascensão do futsal feminino. Atleta amadora, a estudante de Engenharia Ambiental Clara Pinho, de 18 anos, considera o esporte desvalorizado em comparação a outras modalidades. Na avaliação da universitária, a baixa exposição dificulta a captação de investimento, o que, por sua vez, prejudica o crescimento da modalidade, gerando um “looping infinito”. Este círculo vicioso, argumenta Clara, atrasa melhora na infraestrutura:

“Se não houver mais visibilidade, como o futebol feminino vai crescer? A baixa visibilidade está associada a carências estruturais, que refletem a falta de investimento. Para obter investimento, é preciso visibilidade, é preciso transmissão [na TV, no streaming], o que depende do avanço de torneios e campeonatos bem organizados”, opina a jogadora.

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O NFFB representa um passo nesta direção. Segundo Naiara, a experiência assinala um “retorno enorme aos patrocinadores” e aponta a evolução da modalidade. A coordenadora de projetos da CBFS afirma que a Confederação busca aprimorar e expandir as competições femininas, assim como a captação de investidores. 

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O desafio implica não só progressos de gestão, estrutura, comunicação. Demanda também mudanças culturais. Considerada por Naiara o principal entrave ao crescimento do futsal feminino, a arrecadação de recursos é influenciada por preconceito de gênero e pelo domínio masculino na mídia e nos patrocínios:

“Dentro das quatro linhas, a modalidade já se tornou um produto forte. O público é fiel e os gestores dos clubes são apaixonados pelo esporte. Temos também ídolos prontos, como Amandinha, Vanessa e Lucileia. A parte difícil envolve captar recursos num universo em que o futebol masculino alcança espaços e cifras muito amplas. Ainda há muito preconceito com meninas jogando bola em nosso país”, enfatiza Naiara.

* Ana Cecília Gandra e Letycia Farias, estudantes de jornalismo da PUC-Rio, sob supervisão de professores da universidade e revisão final de Veja Rio. 

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