Geroarquitetura une funcionalidade, conforto e afeto
Pequenas adequações graduais já são capazes de manter a segurança e o bem-estar dos idosos em casas e apartamentos

Um degrau desalinhado, um tapete solto e uma lâmpada falhando são detalhes domésticos que podem passar despercebidos em muitas casas, mas se tornam verdadeiros obstáculos para os idosos. Além disso, algumas condições de saúde e a necessidade de equipamentos, como andadores, podem exigir mudanças nos imóveis.
O arquiteto Nilton Montarroyos se deparou com os desafios dessa transformação quando a sua sogra, após adoecer, passou a depender de cadeira de rodas. Ele pôs em prática, então, os conceitos da gerarquitetura, vertente dedicada ao planejamento de espaços para a longevidade.
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“As portas precisaram ser alargadas e a cozinha teve de ser adaptada para que ela pudesse continuar preparando comidas deliciosas. Pensamos em cada detalhe para manter a autonomia”, conta Montarroyos. A falta de estrutura no prédio, no entanto, obrigou a mudança para outro endereço, a poucas quadras de distância, no Leblon, Zona Sul da cidade — e assim foi esboçado um novo apartamento, também cuidadosamente reformulado.
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À medida que a população envelhece, cresce a demanda por espaços planejados especialmente para essa fase da vida. A gerarquitetura, portanto, traz soluções que vão além de rampas e barras de apoio, unindo estética, funcionalidade e um pouco da história dos moradores.
“Muitas vezes, só percebe-se a necessidade de reconfiguração quando as dificuldades de mobilidade já existem. O ideal é já pensar numa vida longeva ao conceber suas casas”, defende Flavia Ranieri, arquiteta especialista nesse tipo de solução. O desafio é maior em imóveis antigos, nos quais corredores estreitos, ambientes desnivelados e elevadores sem acessibilidade fazem parte da rotina. Por outro lado, existe uma resistência cultural.
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“Muita gente teme que as mudanças transformem seus lares em hospitais, mas pequenas adequações graduais já são capazes de manter a segurança e o bem-estar”, complementa Flavia. “O segredo é integrar os cômodos. E, no futuro, o cliente terá facilidade para instalar, por exemplo, uma barra de apoio na parede”, explica o arquiteto Maurício Nóbrega, que atualmente desenvolve um flat em Ipanema com esse foco.
Esse olhar atento também chegou aos Institutos de Longa Permanência para Idosos (ILPIs), onde conforto e proteção são prioridade. “Quando pensamos em uma estrutura assistencial, com várias pessoas 60+ no mesmo ambiente, precisamos garantir acessibilidade, amplas áreas de convivência, iluminação satisfatória, de preferência natural, além de pontos de apoio estratégicos”, explica Felipe Vecchi, geriatra e diretor-médico do Cora Residencial Sênior Premium.
Situada no Condomínio Península, na Barra da Tijuca, a unidade traduz essa visão em detalhes, dispondo de corredores largos para o giro das cadeiras de rodas, móveis organizados de forma intuitiva e objetos à altura dos moradores. “É fundamental que a rotina seja previsível”, reforça o engenheiro Nuno Terra, responsável pelo projeto. O envelhecimento não tem de significar perda da autonomia. Com planejamento e cuidado, é possível viver a maturidade com tranquilidade e liberdade — e isso independe do orçamento.

O segredo é adaptar
Dicas práticas para tornar um imóvel tão seguro quanto confortável
1) Corredores amplos e portas largas facilitam o uso de andadores e cadeiras de rodas.
2) Pisos antiderrapantes são ideais. Quando não for possível trocar o revestimento, opte por fitas ou resinas antiderrapantes.
3) Luzes de apoio noturno ajudam a impedir acidentes.
4) Móveis com quinas arredondadas e assentos ergonômicos trazem autonomia.
5) Espaços para descanso e convivência, estimulando a vida social dentro do lar, melhoram a rotina de um idoso.
6) Áreas de passagem, como corredores, e banheiros devem dispor de iluminação adequada.
7) Tapetes devem ficar presos a outros móveis, para evitar quedas.
8) Contrastes de cor entre piso e parede ajudam quem tem deficiências visuais.
9) Itens usados com frequência devem estar ao alcance das mãos. Dessa forma, não há necessidade de subir em bancos ou se abaixar demais.
10) Mudanças pequenas, como a reorganização dos móveis, já surtem efeito no dia a dia.