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Militantes LGBT fizeram história na Câmara dos Vereadores do Rio

Ofuscado pela crise política nacional, ato inédito na Casa, em defesa da parada gay, pode servir como exemplo do bom debate democrático

Por Pedro Tinoco Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 19 Maio 2017, 19h13 - Publicado em 19 Maio 2017, 19h08
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(Reprodução/Reprodução)

No ritmo “velozes e furiosos” em que se desenrolam as tramas políticas de hoje, passou um tanto despercebido, por incrível que pareça, o ato público realizado na Câmara dos Vereadores no último dia 16 de maio. Naquela terça-feira, véspera do Dia Internacional de Combate à Homofobia, o vereador David Miranda presidiu uma solenidade em defesa da realização da parada gay carioca, presente há 22 anos no calendário da cidade e ameaçada por falta de apoio da Prefeitura. Pela primeira vez na história deste país, atendendo à convocação de Miranda, pioneiro parlamentar defensor da causa LGBT, lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros se acotovelaram no plenário da Câmara. Por alguma razão que a razão desconhece, o policiamento em frente ao prédio histórico foi reforçado com a presença de cerca de dez viaturas. Não precisava. Bandeiras com as cores do arco-íris, símbolo da causa, enfeitaram o salão principal do palacete na Cinelândia.

Lá dentro, por mais de três horas, ouviram-se discursos, denúncias, desabafos e civilizadas discordâncias. Também houve muito show e cantoria, é claro. O ato, a certa altura, foi sacudido por um protesto de associações lésbicas cujas integrantes afirmaram não se sentir representadas pela parada. Tiveram acesso ao microfone, onde protestaram – “essa passeata não é nossa, é um oceano de homens, somos agredidas”, denunciou uma manifestante – e se retiraram do plenário, apesar do amistoso coro de “fica, fica”. O incidente, tenso, mas totalmente pacífico, serve como uma pequena lição de democracia: vozes dissonantes dividiram o mesmo espaço e deram seu recado sem sofrer retaliações.

FOTO 1
(Reprodução/Reprodução)
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A parada de Copacabana é considerada o terceiro maior evento da cidade, atrás do Réveillon e do Carnaval. Pelo público que mobiliza, rende divisas para o Rio, além representar um importante movimento de cidadania. Nas falas do ato do dia 16, muitos denunciaram que o prefeito Crivella, evangélico, poderia estar efetivamente boicotando o universo LGBT – e a alegada falta de dinheiro para apoiar a parada seria apenas uma parte do problema. Carlos Tufvesson, que comandou na gestão anterior a coordenadoria especial de assuntos da diversidade sexual, órgão ligado à Prefeitura, lembrou que, após uma parceria de 20 anos, a prefeitura não se posiciona claramente em relação à parada gay. “A parada é símbolo de uma situação mais grave, programas da Prefeitura também desapareceram”, informou Tufvesson. Na verdade, a parada vai acontecer, defendida por seus participantes. O apoio que o poder municipal reluta em oferecer, culpando a crise, é de cerca de 350 000 reais. Problema maior, na visão dos presentes, é a possibilidade de políticas públicas voltadas para a comunidade LGBT serem contaminadas por preconceito e intolerância, o que seria um retrocesso. Presente ao ato, como cidadã, Danielle, estudante de educação física, resumiu bem a questão: “na hora de pegaram nosso dinheiro rosa, ok, mas na hora de garantirem nossos direitos fica mais complicado”.

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