Monumentos da discórdia

Arquitetos elegem as construções mais feias do Rio. E as mais bonitas também

Por Daniela Pessoa
Atualizado em 5 dez 2016, 16h11 - Publicado em 28 jun 2011, 16h21

Candidata ao título de Patrimônio Mundial da Humanidade, o Rio de Janeiro foi abençoado no quesito beleza natural. No que diz respeito à arquitetura, a polêmica é grande. A questão desperta inclusive a atenção do poder público. Tanto que em abril deste ano, o prefeito Eduardo Paes baixou um decreto determinando que a Secretaria de Urbanismo estude o impacto de novos prédios públicos, viadutos, pontes, estações de trem e qualquer item do mobiliário urbano sobre a paisagem da cidade. VEJA RIO ouviu trinta especialistas da área para saber quais são as obras-primas da arquitetura carioca. E pediu também a opinião deles para eleger os mais feios, aqueles que poderiam sumir do mapa sem qualquer prejuízo ao mobiliário urbano. Os votos deveriam levar em consideração os aspectos arquitetônicos e urbanísticos da construção e sua adequação à época em que foram erguidos.

Os 10 mais feios

Shopping New York City Center, com sua réplica da Estátua da Liberdade (Barra da Tijuca). Integrado ao BarraShopping, este centro tem quarenta lojas e restaurantes, sendo mais conhecido por suas dezoito salas de cinema e a tal estátua símbolo da influência dos Estados Unidos no Brasil.

Catedral de São Sebastião do Rio de Janeiro (Catedral Metropolitana, Centro). Com área de 8000 metros quadrados, a igreja tem capacidade para abrigar 5000 pessoas sentadas e 20 000 em pé. Uma cruz grega de vastas proporções feita de material transparente dá vida à construção, inspirada na pirâmide que os Maias construíram na Península de Yucatan, no México. Uma espécie de nave espacial.

Centro Empresarial Mourisco (Botafogo). Encravado na Enseada de Botafogo entre o Pão de Açúcar e o Cristo Redentor em 1998, o objetivo do projeto arquitetônico era trazer modernidade e sofisticação à área com um prédio de linhas espaciais e vidros belgas espelhados. A bola dourada no topo arremata a paisagem.

Obelisco de Ipanema. Erguido no cruzamento da Rua Visconde de Pirajá com a Avenida Henrique Dumont, bem próximo ao Canal Jardim de Alah, o monumento foi alvo de reclamações desde a sua construção. À época, foi erguido também um pórtico para marcar a divisa entre Ipanema e Leblon, projeto do arquiteto Paulo Casé. Mas, segundo os moradores, aquela espécie de passarela ligava nada a lugar algum. O pórtico foi demolido no início do mandato do prefeito Eduardo Paes, mas o obelisco ficou.

Arcos da passarela do metrô na Cidade Nova. Construídos sobre a Avenida Presidente Vargas em 2010, os três pares de arcos formam uma passarela que dá acesso à estação. A obra fez parte de um pacote de 1,15 bilhão de reais assumido pela concessionária Metrô Rio, mas compromete a paisagem de um local histórico da cidade.

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Arco ferroviário do metrô sobre a Avenida Francisco Bicalho (Centro). Situada em ponto estratégico, a via serve como importante saída do Centro para vias expressas como a Linha Vermelha, a Avenida Brasil, o Elevado da Perimetral e a Ponte Rio-Niterói. A passarela para pedestres instalada sobre ela compromete a visão do Cristo Redentor. A iluminação ainda piora tudo.

Cidade da Música (Barra). Inaugurada pelo então prefeito César Maia, a obra custou quatro vezes mais do que outro grande projeto cultural do político: a Cidade do Samba, inaugurada em 2006 com custo, na época, de R$ 102 milhões. O projeto é de autoria do arquiteto francês Christian de Portzamparc. Um gigantesco volume de concreto aparente sem nenhum charme.

Sambódromo (Centro). A Passarela Professor Darcy Ribeiro, de autoria do arquiteto Oscar Niemeyer, foi implantada durante o primeiro governo de Leonel Brizola (1983-1987). Inaugurada em 1984, o objetivo era dotar a cidade de um monumento urbano permanente para a exibição dos desfiles das escolas de samba. Com investimento de R$ 30 milhões, a ampliação do sambódromo custeada pela Ambev deve ficar pronta para o Carnaval de 2012. A obra, que envolve a construção de um novo camarote, resgata o projeto original de Oscar Niemeyer, que previa equilíbrio entre os dois lados da avenida.

Aeroporto Antônio Carlos Jobim (Aeroporto do Galeão, Ilha do Governador). A história do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro começa em 1924, com a instalação da escola de aviação. A partir de 1945, o Galeão passou a ser, oficialmente, Aeroporto Internacional, mas as instalações continuaram precárias até 1950. O antigo terminal passou por diversas ampliações ao longo dos anos, sendo substituído pelo atual Terminal Número 1 em janeiro de 1977. Na década de 90, obras de ampliação aumentaram sua capacidade para sete milhões de passageiros ao ano. Também foi dado início às obras do Terminal 2, inaugurado em julho de 1999 com capacidade de atender oito milhões de passageiros ao ano. Atualmente, o Galeão, como é mais conhecido, passa por reforma no Terminal 1 e conclusão do Terminal 2. Linhas e formas feias à parte, o aeroporto, com seus mais de 17 milhões de metros quadrados, terá capacidade para processar 26 milhões de passageiros por ano.

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Postos de salvamento e banheiros públicos na orla. Projetados pelo arquiteto Sérgio Bernardes e construídos no final da década de 70, os postos estão localizados no Leme, Copacabana, Ipanema, Leblon, Barra da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes. Ao todo, são 27 “trambolhos” que, mesmo tendo passado por reforma, conservam a arquitetura que polui a praia.

Os 10 mais bonitos

Hotel Copacabana Palace (Copacabana). Marco histórico do Rio, este é um dos hotéis mais importantes e bonitos da cidade, construído pelo empresário Octávio Guinle. As linhas clássicas em simetria e equilíbrio remetem a luxo e glamour, além de tornar o monumento singular e expressivo em meio ao conjunto linear de edificações residenciais na Avenida Atlântica. O projeto do hotel é de 1923, de autoria do arquiteto francês Joseph Gire. A inspiração veio de dois hotéis famosos na Riviera Francesa: o Negresco, em Nice, e o Carlton, em Cannes.

Museu de Arte Moderna (MAM, Flamengo). É a obra mais conhecida do arquiteto carioca Affonso Reidy, com jardins do paisagista Burle Marx. A construção segue a orientação da arquitetura racionalista, destacando-se pelas estruturas vazadas e pela integração com o entorno, em perfeita sintonia com a paisagem natural da Baía de Guanabara. O museu foi inaugurado em 1948, fruto do contexto cultural e econômico que o Brasil vivenciou no segundo pós-guerra, com a aquisição de um valioso patrimônio artístico e assimilação das correntes artísticas modernas.

Monumento aos Pracinhas (Aterro do Flamengo). O Monumento aos Mortos da Segunda Guerra Mundial (1952), popularmente conhecido como Monumento aos Pracinhas, no parque Eduardo Gomes, foi projetado pelos arquitetos Marcos Konder Netto e Hélio Ribas Marinho, vencedores de um concurso nacional. A construção abriga e homenageia os restos mortais dos militares brasileiros mortos na guerra. O conjunto é integrado por três obras: uma escultura em metal, de Júlio Catelli Filho, homenageando a Força Aérea Brasileira (FAB); uma escultura em granito, de Alfredo Ceschiatti, homenageando os pracinhas das três Armas, e um painel de azulejos, de Anísio Medeiros, homenageando os mortos (civis e militares) no mar.

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Instituto Moreira Salles (Gávea). A ex-residência do embaixador e banqueiro Walter Moreira Salles chama a atenção pela beleza da composição dos diferentes espaços e pela sua respeitosa inserção na paisagem local. O projeto com desenho apurado e criativo data de 1951 e é de autoria do arquiteto Olavo Redig de Campos. A casa também conta com painel e jardins de Burle Marx.

Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro (Glória). Inaugurada em 1739 e tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), a Igreja da Glória é considerada uma das joias da arquitetura colonial brasileira, um grande exemplo do barroco no Rio com suas proporções perfeitas e localização privilegiada. Na igreja foi batizada, em 1819, a primeira filha de D. Pedro I e D. Leopoldina, a princesa Maria da Glória, futura Rainha D. Maria II de Portugal. A partir de então, todos os membros da família imperial foram lá batizados, incluindo D. Pedro II e a Princesa Isabel.

Edifício Biarritz (Praia do Flamengo, 268). O prédio residencial dono de elegância atemporal é um belo exemplo do movimento Art Déco na cidade, marcado pela mistura de vários estilos e movimentos do início do século XX, incluindo Construtivismo, Cubismo, Modernismo, Bauhaus, Art Nouveau e Futurismo. O destaque da construção são os balcões abaulados com grades e frisos. Na obra, há também detalhes em mármore de Carrara e o portão de ferro é todo trabalhado. O projeto é de 1940, assinado por Henri Paul Pierre Sajous e Auguste Rendu.

Theatro Municipal (Centro). Joia da arquitetura e um dos teatros mais belos do mundo, ele apresenta vasta riqueza de detalhes tanto interna quanto externamente. Inaugurado em 1909 pelo presidente Nilo Peçanha, o Theatro Municipal do Rio de Janeiro foi fruto da mescla de dois projetos: o do engenheiro Francisco de Oliveira Passos, filho do ex-prefeito Pereira Passos, e o do arquiteto francês Albert Guilbert. Para decorar o edifício foram chamados os mais importantes pintores e escultores da época, como Eliseu Visconti, Rodolfo Amoedo e os irmãos Bernardelli. Também foram recrutados artesãos europeus para fazer os vitrais e mosaicos. Em 2008 começaram as obras de restauração e modernização do teatro, que celebrou seu centenário.

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Casa das Canoas (São Conrado). Projetada em 1951 e construída em 1953 por Oscar Niemeyer, a casa modernista foi a residência do arquiteto e sua família durante 12 anos. Situada na Rua Carvalho de Azevedo, na Estrada das Canoas, em São Conrado, ela foi tombada em 2007 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

Arcos da Lapa (Centro). O aqueduto é considerado a obra arquitetônica de maior porte empreendida no Brasil durante o período colonial. A estrutura em pedra argamassada foi inaugurada em 1750, quando as águas brotaram aos pés do Convento de Santo Antônio, em um chafariz de mármore com bicas de bronze. Mais tarde a água foi levada pela atual Rua Sete de Setembro até a Praça XV, onde os navios faziam abasteciam. A partir de 1896, o aqueduto passou a ser usado como viaduto para os bondes de ferro. Até hoje é meio de acesso do Centro a Santa Teresa.

Parque Eduardo Guinle (Laranjeiras). O espaço de quase 25 000 metros quadrados constituía os jardins do palacete de Eduardo Guinle (1846-1914), empresário patriarca da família Guinle, erguido na década de 1920. A área verde foi projetada pelo paisagista francês Gérard Cochet. Hoje, as dependências do parque comportam um dos mais significativos conjuntos de edifícios residenciais da arquitetura moderna carioca. O projeto (1948-1950) foi de Lúcio Costa e do escritório de arquitetura modernista MMM Roberto, com os jardins reformados por Burle Marx. Chama atenção a perfeita integração das edificações com o meio-ambiente. Atualmente, a mansão dos Guinle, conhecida como Palácio Laranjeiras, é a residência do Governador do Estado do Rio de Janeiro.

Que outros monumentos deveriam ser banidos da paisagem da cidade? E o que faltou na lista dos mais bonitos? Deixe sua opinião.

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