O ponto final na vida de uma jovem ciclista em Botafogo

A tragédia se tornou ainda mais cruel com a reação burocrática de quem devia respostas à família e à população

Por Daniel Hessel Teich
Atualizado em 5 dez 2016, 10h59 - Publicado em 15 out 2016, 01h00
O local onde Julia foi atropelada depois de perder o equilíbrio ao passar pelo desnível no asfalto: descaso que levou à morte da jovem
O local onde Julia foi atropelada depois de perder o equilíbrio ao passar pelo desnível no asfalto: descaso que levou à morte da jovem (Marcio Alves/Ag. O Globo/)
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Como a maioria das jovens de sua idade, Julia Resende de Moura, 19 anos, não era econômica nos sonhos e planos para o futuro. Moradora do Morro Dona Marta, em Botafogo, havia estudado como bolsista no Colégio Santo Inácio e, em julho, foi aprovada com nota A na primeira fase do vestibular para medicina da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Filha de uma agente comunitária de saúde que trabalha na própria favela, ela planejava voar alto na carreira e atuar no grupo humanitário Médicos sem Fronteiras, na África. Recentemente, Julia havia exercitado a vocação para a filantropia ao participar de um programa de construção de casas em áreas pobres do Rio. Na tarde de terça-feira, 11, a história de Julia ganhou um abrupto ponto final a poucas quadras de sua casa, na Rua São Clemente. A jovem, que se deslocava em uma bicicleta laranja do projeto Bike Rio, corretamente, junto ao meio-fio direito da via, acabou se desequilibrando ao passar por um desnivelamento no asfalto. Ela caiu e foi atingida por um ônibus que vinha logo atrás, sem respeitar a distância mínima de 1,5 metro em relação a ciclistas prevista no código de trânsito. O motorista fugiu, e Julia morreu ali mesmo, junto à calçada. Até o início da tarde de quinta ele não havia sido identificado nem pela polícia nem pelo consórcio que o emprega, o Intersul.

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No feriado de 12 de outubro, o dia do enterro da jovem, uma manifestação com 300 pessoas fechou a via, um dos pontos nevrálgicos do bairro. Pintaram-se uma silhueta e palavras de ordem no asfalto, foram colocadas flores no local e amigos da vítima e cicloativistas externaram sua revolta. A prefeitura informou que mandaria uma equipe para vistoriar o asfalto. O Intersul lamentou a morte e declarou que ia colaborar para identificar o motorista. A polícia anunciou que checaria as câmeras de segurança da rua para investigar o que havia acontecido. Providências burocráticas e protocolares que soam displicentes e desumanas diante da perda da família e dos amigos de Julia.

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