Oscar 2026: O Agente Secreto, com Wagner Moura, vai representar o Brasil
Após passagem por festivais mundias e vitórias em Cannes, longa de Kleber Mendonça Filho se consagra em meio a disputa com o filme Manas, de Marianna Brennand
 
							Após um fim de semana turbulênto nas redes sociais, a decisão da Academia Brasileira de Cinema finalmente foi divulgada e, como era esperado, O Agente Secreto se consacgrou como o representante brasileiro ao Oscar.
O longa de Kleber Mendonça Filho concorria com: Baby, de Marcelo Caetano; o carioca Kasa Branca, de Luciano Vidigal; Manas, de Marianna Brennand; O Último Azul, de Gabriel Mascaro; e Oeste Outra Vez, de Erico Rassi.
Estrelado por Wagner Moura, o filme se passa em 1977, durante a Ditadura Militar, e conta a história de um professor especializado em tecnologia que decide fugir do passado violento ao se mudar de São Paulo para Recife. Ele chega na capital pernambucana em plena semana de Carnaval e percebe que atraiu para si todo o caos do qual sempre quis fugir. O longa já tem a estreia carioca confirmada no Festival do Rio.
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A jornada de O Agente Secreto
Em maio, no Festival de Cannes, o filme estreou mundialmente com alarde. O júri da competição principal, liderado por Juliette Binoché, lhes concedeu um feito raríssimo: dois prêmios — melhor ator para Wagner Moura, inédito para o Brasil, e melhor diretor, conquistado somente por Glauber Rocha, em 1969, com O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro. Kleber Mendonça Filho venceu ainda duas honrarias indepentes extremamente cobiçadas, o FIPRESCI, da crítica internacional, e o Art et Essai, dos exibidores independentes da França.
Antes mesmo das vitórias, a repercussão positiva com o público e a crítica levaram a empresa americana Neon — responsável pela campanha de obras como Anora, Anatomia de uma Queda e Parasita — a anunciar a compra do filme para distribuição nos Estados Unidos e no Canadá. Ainda na França, a MUBI, por trás de A Substância, se tornou distribuidora do filme no Reino Unido, Índia e América do Sul, com exceção do Brasil, onde a função está sob o cuidado da Vitrine Filmes.
Desde então, O Agente Secreto despontou como o favorito dentre os brasileiros elegíveis. Posição que assegurou nos meses subsequentes com passagens em festivais que abrem a temporada de premiações americana, como Telluride, Toronto e a, já confirmada, exibição em Nova Iorque. No Museu da Academia (um dos cinemas mais importantes de Los Angeles, quando o assunto é campanha para o Oscar), o filme tem uma exibição confirmada com mediação do cineasta Walter Salles, ganhador de melhor filme estrangeiro no ano passado por Ainda Estou Aqui.
Recentemente, a revista estadunidense Variety incluiu o filme nas suas apostas de melhor filme, melhor roteiro original e melhor ator, além de colocá-lo como um dos principais candidatos a longa internacional.
Manas e a repercussão nas redes sociais
Em meio a tanto sucesso, o filme conquistou uma legião de fãs fervorosos nas redes sociais, antes de sequer assistirem à obra. Nos últimos dias antes da escolha da Academia Brasileira de Cinema, um clima de tensão começou a surgir quando, em uma carta aberta, mulheres em cargos de liderança em empresas como Vale, Magazine Luiza, LinkedIn e MRV se posicionaram a favor da seleção de Manas, de Marianna Brennand, no lugar de O Agente Secreto.
O argumento é de que a indicação do filme, um drama sensível que denuncia casos reais de exploração sexual nas comunidades ribeirinhas da Ilha do Marajó, acarretaria na concientização do tema. Um trecho afirma: “O filme lança luz sobre a urgência de enfrentar a violência contra mulheres e crianças, realidade dolorosa e ainda silenciada no Brasil e no mundo sem distinção de classe social ou fronteiras”.
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A campanha de última hora gerou controvérsia, especialmente entre aqueles que acreditavam que o filme com maiores chances de indicação deveria ser o escolhido. Críticos e influenciadores do nicho digital, como Waldemar Dalenogare, que faz cobertura da temporada de premiações, se pronunciaram. “O argumento de que O Agente Secreto já vai chegar no Oscar em outras categorias e de que o país deveria escolher outro filme para longa internacional é um dos mais absurdos que já ouvi”, compartilhou o crítico no X.
Ao mesmo tempo, o filme Manas chamava atenção nas redes sociais com o slogan “Manas apoiam manas” pelo apoio de figuras importantes de Hollywood, como o ator Sean Pean, que se tornou produtor do longa nos EUA e disputa por uma vaga de ator coadjuvante neste ano com o filme Uma Batalha Após a Outra.
Uma postagem de Fernanda Torres em celebração a distribuição internacional incitou ainda mais debates. Posteriormente, no entanto, a atriz fez posts para todos os selecionados e explicou que havia postado sem tomar em consideração o contexto, mas pessoalmente a artista disse acreditar que O Agente Secreto deveria ser o selecionado.
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Manas realizou ainda uma exibição em Los Angeles com participação da atriz Dira Paes e apresentação da estrela Julia Roberts na casa de Pean, com direito a matéria do Fantástico na cobertura do evento.
A falta de divulgação dos jurados da Academia Brasileira de Cinema, não ajudou a acalmar os ânimos. Uma nota de comemoração do Governo do Tocantins, porém, revelou que o ator e diretor Lázaro Ramos, a cineasta Eva Pereira, a produtora Sara Silveira e a jornalista Simone Zuccolotto estiveram entre os 15 votantes.
Em uma última reunião com os diretores dos seis filmes pré selecionados, na sexta (12), a última pergunta foi um pitching de três minutos do “porquê o seu filme deveria ser o escolhido para representar o Brasil”. Ao invés de defender O Último Azul, o diretor Gabriel Mascaro aproveitou a oportunidade para elogiar a trajetória de internacional de Ainda Estou Aqui e O Agente Secreto. “Não é sobre o melhor filme, cada um tem o seu gosto pessoal. É um voto para entender como o Brasil se posiciona enquanto indústria na cadeia produtiva americana”, refletiu o cineasta.
Independente da escolha, é inegável a grande safra de filmes nacionais destes últimos dois anos.
 
							 
							 
							 
							 
							 
							