A guerra dos pedalinhos

Em rota de colisão, concessionárias que exploram o serviço na Lagoa se envolvem numa troca de acusações e agressões que vira caso de polícia

Por Bruna Talarico
Atualizado em 5 jun 2017, 14h19 - Publicado em 31 out 2012, 17h27
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pedalinho-02.jpg (Redação Veja rio/)
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O plácido espelho-d?água da Lagoa Rodrigo de Freitas serve de cenário para uma ferrenha disputa fora da esfera esportiva das regatas. Pontua­da por trocas de acusações e agressões, uma verdadeira batalha naval é travada pelas duas empresas que exploram o serviço de pedalinhos do local, que, inclusive, já foram parar na delegacia. De um lado está a Pedalinhos Klein, dos irmãos Harri e Hugo Klein, que opera por lá desde 1960 e tem como marca as embarcações em formato de cisne. Sua oponente é a Little Boat, pertencente ao oficial reformado da Marinha Paulo Villas Boas, cuja flotilha é em grande parte formada por patos e Nemos. A conflagração se dá em torno do deque no Corte do Cantagalo, onde ambas funcionam. “Cansamos de passar por situações em que nosso cliente devolvia o pedalinho na parte deles, que se faziam de desentendidos, relocavam a embarcação e embolsavam o dinheiro”, queixa-se Hugo Klein. Villas Boas, por sua vez, acusa o concorrente de poluir a lagoa ao usar isopor na flutua­ção de uma plataforma de apoio.

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A contenda já resultou em três registros lavrados nas delegacias da Gávea e do Leblon, nos quais as duas partes se dizem vítimas de agressões verbais e até físicas. No atracadouro do Cantagalo, a falta de harmonia é visível e está na origem de toda a desordem que impera por ali. Não há placa para indicar o serviço das empresas, muito menos funcionários uniformizados, o que leva o cliente a ficar confuso na hora de contratar o passeio. Outro ponto negativo é o estado de conservação dos barquinhos: parte deles apresenta pedais enferrujados, além de rachaduras e lascas no casco, feito de fibra de vidro. O mesmo aspecto deteriorado se vê também em alguns coletes salva-vidas, um item obrigatório para os menores de 12 anos e que deve estar disponível para todos os demais tripulantes. A Capitania dos Portos estabelece ainda a presença de um guardião de piscina durante todo o horário de funcionamento, determinação às vezes negligenciada na lagoa carioca.

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Para operarem no local, os concessionários devem cumprir também uma série de cláusulas previstas no Código de Posturas Municipais, o que na prática nem sempre acontece. Um dos artigos relegados diz respeito à exigência de licitação. Os contratos de exploração do serviço são renovados todo ano, praticamente por inércia, mediante apenas uma vistoria a cargo do Corpo de Bombeiros, além do cumprimento das determinações da Capitania dos Portos. Como contrapartida, cada empresa paga à prefeitura uma taxa de 1?000 reais ? isso mesmo, menos de dois salários mínimos. Trata-se de um negócio altamente lucrativo, basta fazer as contas. Em um fim de semana de tempo bom, os concorrentes chegam a realizar quase 300 locações, ao preço de 20 reais por meia hora de passeio cada uma. Ou seja: eles recuperam o investimento anual da concessão em apenas um dia ensolarado. O Código de Posturas proíbe ainda que a manutenção dos veículos seja feita na água ou em sua margem, diretriz frequentemente desrespeitada, pois não raro os consertos são efetuados ali mesmo.

Com sua ciclovia, quadras esportivas, quiosques, clubes e água tranquila, que passa por um processo de despoluição, a Lagoa Rodrigo de Freitas é uma das áreas de lazer preferidas dos cariocas. À medida que o verão se aproxima, aumenta a fre­quên­cia de visitantes, cujo ápice se dá quando entra em cena a árvore de Natal, que virou atração turística de fim de ano. Portanto, é aconselhável que os órgãos competentes zelem pelo bom funcionamento desse cartão-postal e garantam o conforto e a segurança a quem quer singrar a lagoa a bordo de um pedalinho. Em dezembro do ano passado, um casal teve de ser resgatado após sua embarcação ir a pique. “Foi sabotagem”, atira a esmo Villas Boas, dono da empresa à qual pertencia o veículo acidentado. Cabe à prefeitura fiscalizar se as regras estão sendo cumpridas e pôr um ponto final nessa rivalidade predatória entre as concessionárias. Afinal, nada melhor que uma concorrência saudável para aprimorar a qualidade do serviço.

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