É proibido mergulhar

Com índices de sujeira acima do normal, as praias cariocas apresentam restrições ao banho de mar

Por Ernesto Neves
Atualizado em 5 jun 2017, 14h40 - Publicado em 27 jan 2012, 19h12
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cidade1.jpg (Redação Veja rio/)
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Parece piada, mas de tremendo mau gosto. Na estação em que as praias se tornam o programa número 1 dos cariocas, assim como de milhares de turistas em visita à cidade, somente dois pontos da orla estão liberados para o banho de mar: Recreio e Prainha. Todos os outros, incluídos Grumari, Barra, Joatinga, Leblon, Ipanema, Arpoador, Copacabana e Leme, apresentam restrições aos banhistas. Até mesmo a pequenina Praia do Diabo, cercada por costões de pedras que costumam garantir as boas condições de balneabilidade do local, foi condenada na última medição realizada pelo Instituto Estadual do Ambiente, órgão responsável por coletar e analisar o índice de coliformes fecais nas águas do nosso litoral. ?Há muitos anos não se via uma situação tão crítica no Rio como a que vivemos neste verão?, atesta o especialista David Zee, professor da Faculdade de Oceanografia da Uerj.

clique na imagem abaixo para verificar as condições da orla ao longo do ano passado e no primeiro mês de 2012

[—FI—]

Muita gente ignora o aviso, como se vê nas fotos que ilustram estas páginas, mas mergulhar numa praia em condições impróprias pode trazer danos graves à saúde. Ainda que pareça estar limpa, a água é considerada perigosa para banho quando uma amostra de 100 mililitros possui mais de 1?000 coliformes fecais. Nesse caso, fica comprovada a presença de resíduos que podem conter bactérias nocivas ao sistema gastrointestinal, provocando, por exemplo, surtos de diarreia. Esse não é o único risco. ?O vírus da hepatite A pode sobreviver por meses no mar?, alerta Edmilson Migowski, professor e infectologista da UFRJ. Em contato com a pele, não existe uma forma de ficar imune à contaminação. A ameaça é ainda maior para bebês e idosos, mais suscetíveis a desenvolver formas severas dessas doenças. Sem falar, evidentemente, nas inúmeras enfermidades dermatológicas desencadeadas pela combinação entre sujeira e sol.

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Recorrente nos últimos verões, o problema da imundície nas praias não chega a ser novidade. Mas a situação se agravou neste ano com a grande quantidade de chuva que caiu no início da estação. Sob influência do fenômeno climático conhecido como Zona de Convergência do Atlântico Sul, que traz para o Sudeste nuvens carregadas de umidade da Amazônia, foram registrados 378,9 milímetros de chuva em dezembro, mais que o dobro do volume esperado. Com o excedente de água, as unidades de tratamento não conseguiram dar vazão à quantidade recebida, liberando parte da sujeira diretamente no mar, sem nenhum tipo de intervenção. ?Quando se atinge um adensamento populacional como o da Zona Sul, é preciso construir novas estações ou reformar as que já existem, para dar conta dos aguaceiros?, avalia Júlio Cesar Wasserman, professor do Departamento de Análise Geoambiental da UFF. Outra medida necessária para conter o derrame de sujeira no litoral é extinguir as ligações clandestinas, que desembocam ilegalmente nas galerias de águas pluviais, construídas para escoar apenas a demanda das chuvas.

Com a inércia do poder público e a estagnação da rede coletora, a paisagem das praias recebeu um indesejado visitante. Além das belas cariocas que desfilam em vistosos biquínis, destacam-se valas de cor negra cortando as areias em direção ao mar. Elas costumam aparecer em trechos próximos às favelas. É o caso do Leme, em que se localiza o Morro da Babilônia, e do Posto 4 de Copacabana, próximo ao Pavão-Pavãozinho. Campeã em dias impróprios ao longo de 2011, ao lado de Ipanema – onde na semana passada um banhista irresponsável foi fotografado quando levava seu porquinho de estimação para tomar banho de mar – e Leblon, São Conrado é outro degradante exemplo, ao acumular o esgoto de toda a Rocinha e do Vidigal. ?Esses lugares reunidos abrigam cerca de 120?000 pessoas e nunca tiveram saneamento. O passivo para o meio ambiente é incalculável?, reconhece o secretário estadual de Ambiente, Carlos Minc.

Dos morros cariocas, apenas o Chapéu Mangueira, no Leme, tem algum tipo de programa para redirecionar os detritos, enviados para o emissário submarino da Zona Sul. O resto está em estado crítico. A situação mais grave é a do Canal da Joatinga, que desemboca no início da Barra. ?Praticamente 80% do esgoto produzido em Jacarepaguá é despejado ali sem nenhum tratamento?, diz Zee. A boa notícia, porém, é que o governo pretende investir 1,2 bilhão de reais para tentar limpar todas as praias até a Copa de 2014, revertendo assim um atraso de décadas. Além disso, o assunto está na pauta da Rio+20, conferência da Organização das Nações Unidas que acontecerá em junho. ?Se a despoluição não for feita a tempo dos Jogos de 2016, será um verdadeiro mico olímpico?, prevê Minc. Tem toda a razão, secretário.

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