Prédio na Vieira Souto tem célebres moradores inadimplentes

Com apenas cinco andares, três apartamentos acumulam uma dívida de quase 900 000 reais em taxas do condomínio

Por Daniela Pessoa Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 13 Maio 2017, 12h31 - Publicado em 13 Maio 2017, 12h30
Em atraso: três dos cinco moradores estão devendo e foram acionados na Justiça (Felipe Fittipaldi/Veja Rio)
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No número 328 da Avenida Vieira Souto, em Ipanema, uma das vias mais tradicionais da cidade, espraia-se uma elegante construção em padrão modernista, datada de 1974, com fachada e hall social revestidos de granito. São apenas cinco apartamentos, janelões escancarados para o azul do oceano. Cada unidade do Edifício Seni, com aproximadamente 500 metros quadrados, é avaliada em cerca de 20 milhões de reais. No pequeno e bem cuidado jardim que enfeita a entrada do prédio, um cacto espinhento parece denunciar, ironicamente, a situação desconfortável pela qual a vizinhança passa. Três dos cinco moradores do prédio estão inadimplentes, e se tornaram réus de processos judiciais que correm em diferentes varas cíveis no Rio, a 15ª, a 31ª e a 35ª, desde janeiro do ano passado. Somadas, as dívidas dos moradores, só com taxas do condomínio, chegam a quase 900 000 reais.

Velho conhecido da sociedade carioca, Francisco Recarey, de 73 anos, dono da Pizzaria Guanabara e que foi proprietário de negócios glamourosos no passado, como a casa de shows Scala, no Leblon, responde sozinho por 300 000 reais do rombo. A Light até ameaçou cortar a luz do prédio, mas os dois moradores que estão com as contas em dia decidiram assumir as despesas dos demais. “Só o condomínio de cada imóvel custa mais de 5 000 reais mensais”, afirma Jorge Passarelli, advogado contratado pela administradora WR Imóveis. “E há ainda as cotas extras, porque foram feitas reformas estruturais nas áreas comuns. Os valores variam de 15 000 a 35 000 reais mensais”, completa.

A confusão respingou até no empresário Omar “Catito” Peres, 59 anos, dono do tradicional restaurante La Fiorentina e do Bar Lagoa. Ele não foi citado no processo, mas há sete anos é inquilino do apartamento 101, espólio do industrial pernambucano Geraldo Silveira Coutinho, morto em 2007, aos 72 anos. Coutinho foi administrador da Usina Paraíso, em Campos dos Goytacazes, no norte fluminense, por mais de quatro décadas antes de passar o bastão ao filho. Desde 2014, a companhia açucareira está em recuperação judicial. O imóvel da família no prédio de Ipanema detém o recorde de maior saldo devedor do condomínio: quase 400 000 reais.

Omar Peres
O empresário Catito Peres: ele alega que o dinheiro não está sendo repassado pelo locador (Ricardo Borges / Folhapress/Reprodução)

Procurado por VEJA RIO, o advogado do espólio, José Luiz Rezende de Almeida, não quis comentar o caso, e Peres, o locatário, garante que mantém as mensalidades em dia. “Pago tudo, mas o espólio não repassa o dinheiro ao prédio. Eu guardo todos os recibos. A dívida é deles, não minha. Não tenho nada a ver com isso.” O empresário contestou, no entanto, o pagamento das cotas extras. “Não pago mesmo, porque o imóvel não é meu”, argumenta. O terceiro e último devedor do prédio é o proprietário da cobertura. Pouco se sabe sobre ele, a não ser que é sócio de uma empresa chamada Gracon Empreendimentos e Participações Ltda., com sede em Brasília, e que visita o Rio esporadicamente.

A inadimplência nos condomínios residenciais cresceu 22% no Rio de Janeiro entre 2013 e 2015, segundo o Sindicato da Habitação do Rio (Secovi-Rio). De acordo com a Apsa, que administra mais de 2 700 edifícios, 5,5% dos moradores atrasaram o pagamento das taxas em 2016. “O crescente número de devedores reflete não apenas a crise do país, mas a falência do estado”, afirma Leonardo Schneider, vice­-presidente do Secovi-Rio. “Notamos que pessoas de menor poder aquisitivo tendem a manter as contas do imóvel em dia, porque muitas vezes é o único bem que possuem. Elas não podem se dar ao luxo de perdê-lo”, avalia. No caso do 301, o apartamento de Recarey que foi a leilão neste ano para o pagamento de quase 9 milhões de reais de encargos trabalhistas, este poderá ter as dívidas quitadas em breve. Apesar de o Tribunal Superior do Trabalho ter anulado a penhora do patrimônio em decisão divulgada recentemente, o leilão segue válido na área cível. Quem arrematou a unidade, por 10 milhões de reais, foi Flávia Faria Vasconcellos, filha do ex-banqueiro Aloysio Faria, fundador do Grupo Alfa e dono de uma das maiores fortunas do país. O prazo para Recarey desocupar o espaço termina na semana que vem, mas ainda há um recurso a ser julgado. Se os outros dois vizinhos não resolverem a situação financeira das respectivas unidades em tempo hábil, o caminho natural será eles irem a leilão. Talvez Recarey tenha companhia.

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