Protestos na Alerj adiam debates sobre cortes do governo
A massa de servidores estaduais protestava contra 22 projetos de lei submetidos à casa por Luiz Fernando Pezão
O painel que domina o plenário do Palácio Tiradentes, sede da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, foi pintado por Eliseu Visconti (1866-1944). Na obra, o renomado artista representou a cerimônia de assinatura da primeira Constituição republicana. A cena em que personalidades como Pinheiro Machado, Rodrigues Alves e Rui Barbosa referendam a Carta Magna, em 1891, no paço da Quinta da Boa Vista, foi escolhida para evocar, na nova casa de leis, fundada em 1926, o compromisso permanente de seus integrantes com as atribuições legislativas e a ordem pública. Na foto acima, o quadro imponente quase some: a imagem registra a invasão da Alerj, na terça (8), por uma multidão. A massa irada de servidores estaduais protestava contra 22 projetos de lei submetidos à casa por Luiz Fernando Pezão, em tentativa radical de reverter a situação de falência do poder público fluminense. Na lista de sugestões do governador, a proposta de aumentar a contribuição previdenciária causou comoção especial. Pode ter sido a gota d’água para que centenas de manifestantes, em sua maioria da área de segurança pública, decidissem entrar no palácio, tomar o plenário e, entre discursos e palavras de ordem, fazer um estrago. Houve danos a móveis e computadores, além do sumiço de quatro microfones. A depredação estendeu-se ao gabinete do deputado Wagner Montes (PRB), apresentador de TV famoso pelo bordão “escraaaaacha!”. Escracharam, de fato, com certo beneplácito dos colegas policiais em serviço. No dia seguinte, os protestos se repetiram, engrossados por outras categorias profissionais, mas a tentativa de adentrar a Alerj foi repelida com bombas de gás lacrimogêneo. Na mesma tarde de quarta, 9, a assembleia, depois de emitir nota condenando a violência dos atos, devolveu o projeto que determina o aumento do desconto previdenciário — e prevê, entre outras coisas, alíquota de 30% sobre a pensão de inativos que, hoje isentos, recebem menos de 5 189,82 reais, o teto do INSS. É só o começo.