Maioridade aos 16 é racista, diz mãe de jovem acusado no caso da Lagoa

"Não somos lixo. Somos humanos", disse a catadora de latinhas

Por Agência Estado
Atualizado em 5 dez 2016, 12h05 - Publicado em 3 jul 2015, 14h20
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Screen Shot 2015-07-03 at 1 (Divulgação/)
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A mãe do adolescente de 16 anos que cumpre pena no Degase (Departamento Geral de Ações Socioeducativas) do Estado do Rio sob acusação de ter participado do assassinato do médico Jaime Gold, em maio, afirmou ontem que a proposta de redução da maioridade penal aprovada na Câmara dos Deputados é “racista”.

“Para mim, a redução da maioridade é racista. Não é só o preto que comete crime. Por que o branco não é punido, só o negro? Querem fazer um cativeiro, como no tempo em que os brancos batiam nos negros na senzala? Isso tem de acabar. Só vai acabar com uma revolta popular, porque as pessoas negras não vão aceitar levar chicotada de branco. Elas têm o direito de ter uma vida livre, como todo branco tem. Tem de acabar com esse racismo.”

Para ela, colocar jovens em uma prisão de adultos vai piorar a situação, resultando em mais violência. “Sabe por que eu não gostei (da aprovação da proposta, que tinha sido rejeitada na véspera)? Porque quando o negro sair dali (da prisão) não vai ter a porta aberta para o trabalho. Todos da sociedade olham para a nossa cara com olhar diferente. Tomara que não vingue a redução da maioridade. Não tem de misturar menor com maior. Nós temos de lutar para botar na Câmara uma pessoa da nossa cor. Se entrevistarem as pessoas negras na rua vão ter muitas respostas sobre a maioridade. Não somos lixo. Somos humanos”, disse.

Inocência

Acompanhada do advogado Djefferson Amadeus, a catadora de latas, moradora de Manguinhos, na zona norte, conversou com a reportagem no Campo de Santana, no centro. Ela afirmou que o filho é inocente.

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“Ele foi condenado por um crime bárbaro, mas não matou. Os outros dois garotos a gente nem conhece. Disseram que não foi ele. Agora um frentista fica com a palavra. Afirma que foi o meu filho, depois volta atrás. Não sei qual é a explicação. Acho que é preconceito. Jogaram isso nas costas dele. O negro sempre é discriminado. Quero que a Justiça seja feita. Não sei se essa juíza (que condenou o adolescente) consegue dormir. Ela não viu. E a única testemunha já mudou o depoimento. As facas que pegaram são minhas, de trabalho. Estamos há três anos montando uma cooperativa de catadores, que nunca sai”, contou.

Oportunidades

A mãe do adolescente criticou a falta de oportunidades para jovens de favelas. “Os políticos só querem ganhar eleição. Depois, a gente é esquecido de novo. Não dão oportunidades. É isso o que revolta o jovem. Ele vê tanto espaço no Complexo de Manguinhos, e nada é resolvido. Não tem uma atividade para o jovem se endireitar. O que passa na cabeça dele? É ir para a pista roubar”, disse.

“Não dão oportunidades e não acreditam que eles possam mudar. É isso o que acontece. As mães carentes estão querendo que os filhos mudem, trabalhem e estudem. Quero ver se vai ter alguma coisa boa para oferecer aqui fora, um emprego para o jovem mudar. O povo nem está mais querendo votar, porque é perda de tempo. Por que vou votar em um prefeito que tira o camelô, tira o pessoal da van, que é trabalhador?”, questionou a mãe.

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