Rio é o principal polo de pesquisas ligadas ao envelhecimento no país
Na corrida contra o relógio, cidade conta com instituições públicas e privadas de ponta na saúde
Quando não tem compromissos pela manhã, Elinei Winston, morador da Barra da Tijuca, gosta de tocar piano e se exercitar. Aos 83 anos, o engenheiro industrial divide o seu tempo em viagens de ônibus para Cubatão, no interior paulista, onde realiza trabalhos como perito, e a escrita de seu terceiro livro. Todas essas habilidades físicas e mentais garantem uma carteirinha no seleto time dos chamados superidosos.
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“São pessoas acima dos 80 anos com memória, cognição e funcionalidades privilegiadas. Essa é a parcela da população que a gente gostaria de replicar”, explica a geriatra Patrícia Ferreira, à frente do programa Longevidade, da Rede D’Or, iniciativa que reúne uma equipe multidisciplinar para acompanhar e planejar os cuidados dos pacientes 60+.
“Nunca fui de fumar, beber e curtir a noite. Sempre nadei, hoje faço calistenia e tomo vitaminas”, conta Winston, dando pistas de como foi alçado à condição de superidoso.
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Além do acompanhamento de enfermidades, o projeto da Rede D’Or atua com prevenção de diversos problemas, das quedas em casa até o declínio cognitivo, que pode ter origens variadas. Uma delas é a doença de Alzheimer, o transtorno neurodegenerativo mais comum na terceira idade.
Um estudo do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor) em parceria com a UFRJ, a Neurolife e a Queen’s University, do Canadá, apresentou avanços na identificação de biomarcadores sanguíneos para aperfeiçoar o diagnóstico, permitindo um tratamento mais eficaz. “Detectar a doença precocemente é fundamental. Por isso, esse trabalho abre um caminho de oportunidades”, avalia a presidente do Idor, Fernanda Tovar-Moll, acrescentando que a iniciativa reforça a vocação do Rio de Janeiro, sede de universidades federais, da Uerj e da Fiocruz, nos estudos da neurociência, essencial quando se pensa em longevidade.
“Sempre tivemos protagonismo na investigação da plasticidade cerebral e somos bons na formação de parcerias. Nós, cariocas, somos muito colaborativos, conseguimos trabalhar em rede”, declara a presidente do Idor. Examinando os efeitos psicodélicos para retardar o envelhecimento, uma equipe do Idor descobriu que o LSD prolongou em 25% a vida de um tipo de verme.
“Se os resultados forem confirmados em humanos, o impacto pode ser transformador. Psicodélicos e seus derivados poderiam atuar como protetores celulares, ajudando a retardar processos de envelhecimento biológico”, aponta o cientista Stevens Rehen.
Na área da biologia molecular, os pesquisadores Thyago Calvo e Fernanda De Felice tentam reproduzir, nos laboratórios do Idor e do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ, os benefícios que os exercícios físicos causam ao cérebro. “Nosso objetivo é silenciar genes que possam agravar o envelhecimento e ativar aqueles que contribuam para mitigar a neurodegeneração, usando tanto os modelos animais quanto a cultura de células”, diz Fernanda.
Enquanto a ciência busca fórmulas para o elixir da juventude, a melhor alternativa ainda é prevenir. A medicina diagnóstica oferece exames para medir o “relógio biológico”, incluindo análises neuropsicológicas, testes genéticos e hemogramas detalhados. “Investir nessas avaliações é fundamental para identificar alterações antes que elas se traduzam em doenças clínicas”, orienta o patologista Hélio Magarinos Torres Filho, diretor-médico do laboratório Richet.
Outro passo importante é não demorar a pensar no amanhã. Moradora da Barra da Tijuca, a DJ Camilla Brunetta, 35 anos, conta que a profissão sem horários fixos aliada à preocupação em envelhecer com saúde fez com que ela aumentasse a prática de exercícios físicos nos últimos anos.
“Minha rotina é uma mistura de disciplina e improviso. Tenho treinos de corrida três vezes por semana e faço musculação. Por causa das madrugadas de trabalho, o grande desafio é manter a constância”, diz. “Identificar os interesses pessoais em meio às obrigações já é de grande valia. Cada um deve saber o que faz diferença na própria rotina”, orienta a geriatra Patrícia Ferreira. O importante é não ficar parado.