Rotina de violência no Rio acumula vítimas e episódios escabrosos

Face mais cruel da crise, os dias de fúria andam extenuante - e ainda não se enxerga uma solução para o problema

Por Pedro Tinoco
14 jul 2017, 19h42
O desespero da família: Guilherme Anselmo, 15 anos, recusou-se a entregar o celular e foi assassinado no ponto de ônibus, a caminho da escola (Fabio Rossi/Agência O Globo)
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Com os cidadãos sob o impacto de um recorde macabro — o da violência perpetrada contra crianças em gestação —, o Rio seguiu sem abalos sua toada sangrenta. A bala perdida que atingiu o bebê Arthur na barriga da mãe, no dia 30 de junho, e o atropelamento de Flavia Ahrends (grávida, ela perdeu a criança), na madrugada do dia 9, deveriam, no mínimo, funcionar como uma espécie de marco. No entanto, na tarde daquele mesmo domingo em que bandidos abalroaram Flavia em Higienópolis, para roubar sua bolsa e seu celular, Bryan Eduardo Mercês, 6 anos, morreu depois de ser baleado dentro do carro da família, em uma briga de trânsito no bairro de Campo Grande. O menino virou estatística. Segundo dados já consolidados do Instituto de Segurança Pública (ISP) do governo fluminense, o Estado do Rio registrou 2 329 homicídios dolosos de janeiro a maio de 2017, 230 a mais do que os 2 099 assassinatos anotados no mesmo período do ano passado. Ainda fora dessas contas, a quarta-feira (12) foi desastrosa. Começou com Guilherme Alves Anselmo, 15 anos, morador de Água Santa. A caminho da escola Visconde de Cairu, no vizinho Méier, ele esperava o ônibus, às 6h40, quando foi abordado por dois homens em uma moto. Como já havia feito uma semana antes, recusou-se a entregar o celular, mas desta vez foi morto com um tiro na cabeça. Mais ou menos na mesma hora, do mesmo dia, Sérgio Branco, 59 anos, dirigia pela Avenida Brasil, na altura de Campo Grande. Um carro emparelhou com o seu e uma arma foi apontada contra ele. Sérgio não parou e foi alvejado no braço. Salvou-se, ainda bem, assim como o médico Andre Schelemm Guedes, de 47 anos, atingido no peito, dentro do Túnel Rebouças, uma hora depois. Sim, no mesmo dia. A quarta-feira que começou com três baleados e um jovem morto manteve seu ritmo trágico. De acordo com os informes da página virtual Onde Tem Tiroteio-RJ (OTT-RJ), naquele meio de semana ainda se ouviram tiros no Jacarezinho (à 0h03 e às 7h48), na Cidade de Deus (à 0h42, às 7h39 e às 17h40), em Honório Gurgel (à 0h43), na Praça Seca (às 8h37), em Bangu (às 9h11), na Mangueira (às 10h29), em Areal, favela de Angra dos Reis (às 16h10), em Quintino Bocaiúva (às 16h35) e na favela da Grota, em Niterói (às 18h20). Desse jeito não dá mais para continuar.

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