As fãs ficam loucas

Desconhecido da maioria dos adultos, o grupo One Direction é adorado pelas adolescentes que lotarão seu show no Rio, no dia 8

Por Daniela Pessoa
Atualizado em 2 jun 2017, 13h08 - Publicado em 7 Maio 2014, 17h21
Christie Goodwin/divulgação
Christie Goodwin/divulgação (Redação Veja rio/)
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A estudante Stefania Amorim, de 14 anos, costuma dizer que sua vida mudou depois de um clique no YouTube há três anos. Ela navegava a esmo quando, por acaso, acessou um vídeo de uma banda formada por cinco rapazotes que, na época, tinham entre 16 e 18 anos. Bonitinhos, descolados, divertidos e donos de canções que grudam na cabeça, eles enfeitiçaram a jovem carioca. Não apenas ela. Hoje, o grupo One Direction é um dos maiores fenômenos da música pop, elogiado por veteranos como Chris Martin, vocalista da banda Coldplay, e eternizado em estátuas de cera no Museu Madame Tussauds. Stefania, por exemplo, não esconde sua adoração. Cobriu uma das paredes de seu quarto de pôsteres e fotos da banda e ali venera os cinco ídolos ? os ingleses Harry Styles, Zayn Malik, Liam Payne, Louis Tomlinson e o irlandês Niall Horan. Ela já assistiu a um concerto dos britânicos em 2013 em Las Vegas, na companhia das amigas Maria Eduarda Correa e Júlia Ribeiro, e, na última Páscoa, viajou até Londres para tirar fotografias em frente à casa de Styles. “Meu pai é inglês e descobriu onde ele mora. Amo esses meninos. Paixão não se explica, né?”, diz a adolescente. Na próxima quinta, dia 8, Stefania estará plantada no Parque dos Atletas para assistir à primeira apresentação da trupe no Rio, junto com outros 35?000 fãs em êxtase, que esgotaram todos os ingressos assim que eles foram postos à venda.

Dificilmente alguém com mais de 17 anos sabe dizer exatamente o que é o One Direction, ou 1D, como é chamado pelas fãs. No entanto, abaixo dessa faixa etária a banda é quase uma unanimidade. No ano passado, ela cravou a marca de 4 milhões de cópias do álbum Midnight Memories, o campeão mundial de vendas no planeta, à frente dos lançamentos de Eminem, Justin Timberlake, Lady Gaga e Beyoncé. A atual turnê, iniciada no último dia 25 na Colômbia, deve passar por vinte países e ser vista por cerca de 3,7 milhões de fãs. Nada mau para um grupo musical nascido há apenas quatro anos como resultado de um programa de revelação de talentos inglês, o The X Factor. Na ocasião, os cinco integrantes, que competiam isoladamente, não tiveram um desempenho muito expressivo, mas revelaram carisma suficiente para que o produtor Simon Cowell decidisse junt­á-los naquilo que os ingleses e americanos chamam de boyband. Ainda assim, o grupo acabou em terceiro lugar. Em uma aposta que se mostraria certeira, Cowell contratou a banda para sua gravadora, a Syco, um dos braços da Sony Music, com um repertório formado basicamente por músicas com letras alto-astral e ritmo que vai do pop rock ao eletrônico. O primeiro single da molecada, What Makes You Beautiful, de 2011, alcançou o topo das paradas inglesas com versos como “Você ilumina meu mundo como mais ninguém”.

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Bandas de jovens galãs não são novidade. Nos anos 1980 e 1990, tal fenômeno atingiu o auge com exemplares que iam do grupo porto-riquenho Menudo aos americanos New Kids on the Block, N?Sync e Backstreet Boys (veja o quadro nesta página). A grande diferença dos ingleses para seus antepassados está ligada fundamentalmente à internet. Por meio da rede mundial de computadores, deflagrou-se aquilo que os seguidores chamam de “One Direction Infection”, uma colossal máquina de divulgação ancorada nas redes sociais. Craques no uso do Facebook, Twitter e Instagram, os rapazes já eram conhecidos no mundo todo antes mesmo de saírem da Inglaterra. Em 2012, por exemplo, tornou-se campeão de viralização no YouTube do Brasil um vídeo produzido para o bar mitzvah de um adolescente paulistano cuja trilha era uma versão hilariante de What Makes You Beautiful. Em suas contas nas redes, os meninos do 1D mantêm relatos atualizados com fotos pessoais, recadinhos, divulgação das causas sociais apoiadas por eles e desafios propostos aos fãs ? ou directioners, como os admiradores costumam se referir a si mesmos. Frequentemente eles são convidados a opinar sobre quais cidades devem receber shows, inventar produtos para a banda e enviar vídeos que, se escolhidos, aparecerão nos telões nas apresentações. “Já participei de trinta promoções e paguei altos micos quando finalmente escolheram uma foto minha para estampar o Livro do Ano de 2013 da banda”, conta a carioca Bruna Venturotti, de 16 anos, moradora da Tijuca. Em novembro, os cantores foram considerados os mais influentes do Twitter no Reino Unido, à frente do primeiro-ministro britânico David Cameron, com mais de 18 milhões de seguidores.

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É natural que, beneficiada por essa notável plataforma digital, a equipe de marketing utilize a internet como uma poderosa ferramenta de vendas para uma farta linha de produtos. No site da patota, são comercializados bonecos, bijuterias, perfumes, roupas, canecas e outras quinquilharias. O mercado de produtos mais tradicionais também gera dividendos ? e muitos. Com apenas quatro anos de estrada, a trajetória dos rapazes já rendeu três livros oficiais e um filme-documentário em 3D, o This is Us, baseado na turnê do ano passado. Com a Where We Are Tour, estima-se que o faturamento do grupo bata em 335 milhões de dólares. Aos 15 anos de idade, Millena Abreu, moradora do Recreio, é uma compradora compulsiva de itens relativos à banda e não poupa esforços para ampliar sua coleção. Há três anos todos os seus presentes são ? a pedido dela ? ligados de alguma forma aos ingleses. “Na minha época, tinha o Menudo, mas foi uma coisa que passou rápido”, compara a mãe, Andreia Abreu. “Já tive de brigar com a Millena para ela deixar essa história de lado e estudar”, afirma.

George Pimentel/WireImage (One Direction), Hulton Archive/getty images (Beatles)
George Pimentel/WireImage (One Direction), Hulton Archive/getty images (Beatles) ()

Em comparação aos tempos em que todas as meninas cantavam e dançavam ao som de Não Se Reprima, a realidade de fato é outra. Ver a banda ao vivo no palco do Parque dos Atletas, por exemplo, é pouco para a estudante de publicidade Vanessa Lima, de 23 anos. No ano passado, a mocinha suou a camisa para bancar uma loucura que lhe custou 10?000 reais. Em 2013, pediu demissão do estágio para fazer uma viagem de quarenta dias a Los Angeles, onde assistiu a três shows do 1D e alugou um carro com mais duas amigas para perseguir os rapazes. Apesar das inúmeras tentativas, o trio sempre acabou comendo a poeira do veículo dos músicos. Um encontro inesperado, no entanto, fez a alegria da fã. “No último espetáculo, encontrei a mãe do Liam. Eu estava chorando e ela acariciou o meu rosto. Nem acreditei”, suspira Vanessa, que vai tanto ao concerto no Rio quanto aos dois em São Paulo, logo em seguida.

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As multidões de jovens histéricas, o assédio, os gritos e os desmaios que costumam cercar as viagens do One Direction são hoje uma imagem recorrente da música pop. Tal comportamento das fãs, entretanto, era novidade há cinquenta anos quando os Beatles fizeram sua primeira turnê promocional pelos Estados Unidos. Foi justamente em fevereiro de 1964, quando o quarteto britânico pôs os pés em Nova York, que se cunhou o termo beatlemania para definir o delírio e o êxtase que marcavam cada apresentação de Paul, John, George e Ringo. Com uma boa dose de exagero, a turminha de novatos chegou a ser comparada com os antecessores em termos de mobilização de fãs e no estrondoso sucesso americano, ao emplacar seu primeiro álbum, Up All Night, no topo das paradas de sucessos logo no lançamento. Espertos, eles não perdem a chance de surfar na comparação. Em entrevista à revista inglesa Top of the Pops no início do ano, o integrante mais sedutor do 1D, Harry Styles, falou sobre a comparação com os conterrâneos: “Para ser sincero, realmente parece com a gente. Descendo do avião, as garotas, a loucura”. E continuou: “Nossa fama é provavelmente maior, mas nenhum de nós acha que estamos no mesmo nível da música deles”. Ainda bem que o sucesso não acabou com todo o senso crítico do menino.

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