U2 no Rio: show que é bom, nada

Por que o quarteto irlandês não se apresenta na capital fluminense

Por Redação VEJA RIO Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 25 out 2017, 15h31 - Publicado em 25 out 2017, 15h31
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Não é raro as pessoas desenvolverem uma relação ciclotímica com o Rio, em que alternam uma admiração efusiva pela beleza estonteante da cidade ao mesmo tempo que a rejeitam ferrenhamente por seus muitos e evidentes defeitos. Esse parece ser o caso dos membros da banda irlandesa U2 a se tomar como amostra sua recente passagem pelo país na turnê The Joshua Tree Tour. Com quatro shows marcados no Estádio do Morumbi, o último deles na noite desta quarta (25), a banda incluiu ainda uma parada em Bogotá, uma em Santiago e duas apresentações em Buenos Aires na ramificação latino-americana. Os cariocas, como já havia acontecido em 2oo6 e em 2011, ficaram a ver os jatos da turma passar. Aliás, a trupe até aterrissou por aqui, como mostram as fotos ao final desta página. Bono e companhia aproveitaram a folga em que não teriam nada para fazer na capital paulista para curtir o mormaço do dia nublado – de roupa e tudo – na piscina do Hotel Fasano, em Ipanema. Vieram para o casamento da modelo paranaense Michelle Alves com o americano Guy Oseary, empresário da banda (e de vários outros medalhões do show biz, como Madonna e Alicia Keys), aos pés do Cristo Redentor.

A pergunta que fica é: se houve disposição para passear pela cidade e até curtir a festa de casamento na mansão de Luciano Huck e Angélica, no Joá, por que não houve show para os fãs cariocas? Procurada, a organizadora da turnê, a Live Nation, não  se pronunciou a respeito até a publicação dessa matéria. Mas informações extra-oficiais dão conta de que a logística para se transportar os equipamentos mastodônticos entre duas cidades tão próximas não justificaria os gastos. Em 2011, a desculpa foi de que a turnê 360º, com seu palco circular, desenhado para um estádio de grande porte, não teria espaço na capital fluminense por conta das obras no Maracanã e no Engenhão para a Copa do Mundo e a Olimpíada. Em  2006, teriam sido os jogos de futebol do Campeonato Carioca os responsáveis por atrapalhar o esquema.

À parte as explicações estruturais, é fato que o Rio não traz boas lembranças a Bono e companhia. Um episódio iniciado em janeiro de 1998 rendeu quase duas décadas de dor de cabeça para o vocalista e o baterista Larry Mullen. Naquele ano, o grupo fez sua primeira viagem ao país com a apresentação da PopMart Tour. A ideia era tocar no Maracanã, mas o velho estádio pré-reforma não conseguia comportar nem mesmo os guindastes para a montagem do palco imenso. A solução foi levar o show para o Autódromo de Jacarepaguá, onde hoje está o Parque Olímpico. O resultado foi um dos maiores engarrafamentos da história do Rio, um espetáculo de desorganização da produção, da prefeitura e de todos os envolvidos. Em uma entrevista ao jornal O Globo, Bono e Mullen ainda disseram que o empresário brasileiro responsável pelo evento, Franco Bruni, havia dado um calote na banda e deixado de pagar metade do cachê de 8 milhões de dólares.

Bruni processou os dois irlandeses na justiça de Santa Catarina, estado onde vive. Em janeiro de 2011 ganhou em primeira instância o direito a uma indenização de 1 milhão de dólares, mas os advogados contratados pela banda no Brasil recorreram. Dois meses depois, quando o grupo chegou em São Paulo para o show da 360º Tour, tanto Bono quanto Mullen passaram pelo vexame de receber um oficial de justiça acompanhado de policiais federais, ainda dentro do avião da turnê, e tiveram de assinar a notificação judicial de condenação no processo. Ao contrário do vocalista, que firmou o nome de batismo Paul Hewson no documento, o baterista rabiscou palavras sem sentido.

Em dezembro de 2016, o processo foi finalmente julgado em segunda instância pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina, que confirmou a sentença favorável a Bruni e uma indenização de 6 milhões de reais. Cinco meses depois a briga chegou ao fim: os advogados dos irlandeses selaram um acordo com Bruni de valor não divulgado e encerram definitivamente a pendenga judicial. “Hoje meu cliente não quer mais falar nesse assunto, vinte anos de briga o fizeram sofrer demais”, diz o advogado Guilherme Luiz Raymundi. A questão agora é se os sorrisos do quarteto à beira da piscina do Fasano significam que as más lembranças de 1998 ficaram definitivamente no passado, assim como a birra com o Rio.

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Passeio no Rio, sim. Show, não

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