O jeito carioca de amar

Pesquisa exclusiva mostra como os moradores da cidade encaram o namoro virtual, a infidelidade, a duração efêmera dos relacionamentos e o romantismo

Por Caio Barretto Briso com reportagem de Carla Knoplech
Atualizado em 5 jun 2017, 14h30 - Publicado em 13 jun 2012, 16h51
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namorados-02.jpg (Redação Veja rio/Veja Rio)
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Às vésperas do Dia dos Namorados, uma excitação diferente toma conta da cidade. Nos shoppings, uma multidão ansiosa por demonstrar o tamanho de sua paixão perambula à procura do presente ideal. Nos restaurantes, é tempo de preparar menu e decoração especiais para receber a leva de casais que lotará suas mesas. Nesta época do ano, até quem é livre para se esbaldar entre flertes e relacionamentos casuais sente-se contagiado pelo clima de romance – e muitos abdicam ainda que temporariamente da solteirice para buscar, nos bares, festas e boates, companhia para a noite de 12 de junho. Nas últimas três semanas, VEJA RIO se dedicou a entender a maneira como os cariocas encaram os relacionamentos, sejam eles namoro, casamento, sejam aventura fugaz de uma noite. Para isso, ouviu 460 moradores da Zona Sul, Tijuca, Barra e Recreio, com idade entre 16 e 60 anos. Os entrevistados responderam a 56 perguntas, em um levantamento conduzido em parceria com o Instituto Brasileiro de Relacionamento com o Cliente (IBRC), especializado em pesquisas de opinião. Os temas abordados variaram do número de parceiros ao longo da vida à idade de iniciação sexual, passando pelo programa ideal para um primeiro encontro e pelo valor que a pessoa pretende desembolsar na próxima terça-feira com o agradinho para a alma gêmea (no caso, entre 51 e 100 reais, uma prova de que, mesmo no amor, o carioca prefere gastar pouco). Os resultados revelaram algumas surpresas. Quatro em cada dez participantes já usaram a internet para buscar um parceiro e um em cada cinco já usou sites especializados para marcar encontros. No quesito fidelidade, as mulheres se mostraram mais propensas a affairs que os homens (ou, no mínimo, a admitir as escapadelas com maior franqueza). Elas também são muito mais compreensivas, pois perdoam a traição mais facilmente. Eles, por sua vez, quebraram alguns tabus. Errou quem pensa que só querem saber de beleza e formas bem torneadas. A maioria procura, de fato, companheiras que sejam principalmente carinhosas e confiáveis. Nas próximas páginas, o leitor encontrará um retrato bastante completo sobre o jeito de amar e ser amado na metrópole que se tornou símbolo da sedução e da sensualidade em todo o planeta.

conheça o perfil dos entrevistados

COM A AJUDA DO COMPUTADOR

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Desde o início, ou seja, em meados dos anos 1990, a internet revolucionou a forma como as pessoas passaram a se comunicar. Os programas de troca de mensagens logo caíram nas graças dos internautas, possibilitando contatos mais frequentes com pessoas que moravam longe. Daí para as salas de bate-papo on-line, em que os frequentadores nem sequer se conheciam, foi um pulo. Hoje esse comportamento está absolutamente espraiado pela web, seja por sites especializados em marcar encontros, seja por redes sociais como o Facebook. Do total de participantes da pesquisa de VEJA RIO, 42% contam já ter flertado pelo computador. Um em cada cinco entrevistados saiu da azaração virtual e partiu para o encontro cara a cara. Uma parcela considerável deles, 26%, vingou e se transformou em relacionamento de verdade. O administrador Bernardo Frossard, de 27 anos, e a estudante de engenharia Bruna Fonseca, 25, se conheceram durante um bate-papo virtual, em 2003. “Ele me adicionou no ICQ e começamos a trocar mensagens. Aí passamos para o MSN e o Orkut e descobrimos nossas afinidades. Mas demorou para que a amizade virasse namoro”, conta Bruna. A paixão surgiu há dois anos e meio. “Ainda hoje nos falamos muito pelo computador. Eu me saio melhor escrevendo que falando”, diz Frossard.

CENÁRIO IDEAL PARA UMA PAIXÃO

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O Rio faz parte de um seleto grupo de metrópoles que convida ao romance. Assim como Paris, Veneza e Roma, a cidade oferece não só paisagens de tirar o fôlego como também um estilo de vida que, de uma maneira toda peculiar, cultua a beleza e o hedonismo. É só dar uma volta pela orla para perceber a sensualidade à flor da pele. Não à toa, é nesse território demarcado pelos calçadões e pela faixa de areia que se encontram alguns dos lugares preferidos de quem procura um amor – e também dos que já encontraram. O trecho entre os postos 9 e 10, em Ipanema, especialmente os arredores do Coqueirão, foi apontado como o melhor pedaço da orla para a azaração. Moradora de Copacabana, a estudante de publicidade Pâmela Guizillini, de 24 anos, bate ponto ali com as amigas pelo menos uma vez por semana. “Nenhuma praia é igual à de Ipanema. É o melhor lugar para conhecer gente interessante”, diz ela, que (atenção, rapazes) está sem namorado há um ano. Os casais preferem um lugar ali pertinho, o romântico Arpoador, com seu pôr do sol cinematográfico. E até mesmo o motel avaliado como o melhor da cidade tem tudo a ver com a cultura praiana: das janelas do Vip?s, na encosta da Avenida Niemeyer, tem-se uma deslumbrante vista para o mar.

FIDELIDADE E TRAIÇÃO

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Homem é tudo igual, principalmente quando se trata de infidelidade conjugal. Pelo menos é isso que prega o senso comum, que atribui ao gênero masculino uma propensão maior à traição do que ao feminino. A pesquisa realizada por VEJA RIO revela uma surpresa nesse aspecto. Entre as pessoas que admitiram casos fora do relacionamento, 57% são mulheres. Quando se leva em conta a possibilidade de, no futuro, ter um affair, a resposta é de deixar a ala masculina preocupada: entre os que disseram sim, 68% são mulheres. “A pesquisa de maneira geral demonstrou que as cariocas estão mais ousadas em vários aspectos, como tomar a iniciativa na abordagem, buscar parceiros na internet e também em admitir a traição”, diz Alexandre Diogo, coordenador do levantamento e presidente do IBRC. Ao mesmo tempo, as moças se mostraram bastante compreensivas. Entre os que relevariam uma escapadela, elas são maioria absoluta – 70%, contra 30% dos homens. Ainda assim, o número aponta outra novidade. “Os homens, principalmente os mais jovens, estão mudando. Até recentemente nenhum deles admitiria a traição da mulher. Hoje até perdoam”, observa a psiquiatra Carmita Abdo, da Universidade de São Paulo.

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INFINITO ENQUANTO DURE

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Que não seja imortal, posto que é chama. Mas que seja infinito enquanto dure. Os dois últimos versos do Soneto de Fidelidade, de Vinicius de Moraes, são uma faceta curiosa da peculiar maneira carioca de amar. O próprio Vinicius viveu na pele o espírito de sua poesia. Certa vez, Tom Jobim lhe perguntou quantas vezes ele se casaria. “Quantas forem necessárias”, respondeu o poeta, que teve, oficialmente, nove esposas. O Rio retratado na pesquisa, que ouviu majoritariamente pessoas entre 21 e 40 anos, é uma cidade de muitos amores – e de relações fugazes. Apenas 5% dos relacionamentos ultrapassaram o quinto aniversário e 77% são de no máximo três anos. O administrador Diogo Canto, de 26 anos, se inclui nesse segundo grupo. O primeiro namoro durou um ano e o segundo, encerrado em 2010, três. Depois disso, ele resolveu fazer da ausência de compromisso uma profissão de fé. Tornou-se um frequentador assíduo de festas e boates e hoje evita maiores vínculos. “As pessoas gostam é de farra, por isso todo mundo acaba ficando com um pé atrás crônico nos relacionamentos”, acredita ele. A night, para quem busca emoções efêmeras, é uma espécie de território livre, onde 67% dos entrevistados conheceram algum de seus parceiros.

O AMOR NA INTIMIDADE

Incontáveis gerações de homens tiveram sua iniciação na idade adulta marcada pela passagem por um bordel. Atualmente, nada poderia ser mais anacrônico, conforme apontam os dados da pesquisa. Tanto os meninos como as meninas começam sua vida sexual com pouco mais de 16 anos (eles, na verdade, alguns meses depois delas). Tal fenômeno demonstra que as mulheres estão tendo sua primeira vez cada vez mais jovens e os homens, um pouco mais tarde. Por quê? “Os garotos agora estão perdendo a virgindade com a namorada. Ninguém mais paga pela iniciação”, afirma a antropóloga Mirian Goldenberg, especialista em sexualidade e autora do livro Tudo o que Você Não Queria Saber sobre Sexo, que será lançado na terça (12). Chama atenção o fato de os entrevistados, especialmente os do sexo feminino, avaliarem com imenso otimismo o próprio desempenho sexual (e também o do parceiro), atribuindo-se nota máxima na maioria dos casos. Elas também estão mais ousadas. Entre todas as mulheres ouvidas nas pesquisa, 74% já visitaram uma sex shop. “No Rio, sem dúvida existe uma mentalidade de transformação, que não tem tanto preconceito quanto em outras regiões do país. O sexo é uma forma de busca de autoafirmação”, comenta Carmita Abdo, coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) da Universidade de São Paulo.

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