A mensagem com a partida do nosso Pombo Correio chega depressa. Sua linguagem genuinamente brasileira bate direto no coração do Brasil, na expressão popular, das ruas, ladeiras e trios elétricos do país afora. Do interior da Bahia, de Ituaçu, onde nasceu, de Salvador, do Rio, de Olinda, do Nordeste, do Sudeste, de onde for. A poesia de seu cancioneiro é capaz de fazer passar um filme com alguns dos momentos mais emocionantes e fervorosos da nossa história. Se comunica causando uma euforia imediata, fazendo arrepiar.
Moraes e os “Novos Baianos” mostraram ao mundo como se faz arte – essencialmente. Não arte fabricada. Vivendo em uma comunidade hippie no Rio, primeiro em um apartamento na rua Conde de Irajá, em Botafogo, e depois em um sítio em Vargem Pequena. Ali, juntavam suas economias em um único saco de dinheiro que servia para a sobrevivência de todos. O que importava para aqueles jovens talentosos com anseio de criar era o que estavam vivendo e fazendo ali, livremente, naquele momento. Nada poderia ser maior do que aquilo. E não era mesmo! E assim fizeram “Acabou Chorare” (1972) obra prima da história da música (primeiro lugar na lista dos 100 maiores discos brasileiros da revista Rolling Stone em 2007). Tiraram leite de pedra e, quase meio século depois comemoraram se reencontrando com sua própria história nos palcos e teatros. Stones brasileiros, cada um ao seu modo, com sua construção particular e um universo em comum. Moraes, sorte, viu esse filme passar ao vivo e a cores.
Em um momento em que a arte é colocada de escanteio, num país completamente perdido e desgovernado nas mãos de um alucinado (pra dizer o mínimo deste impronunciável), Moraes morre dormindo, em uma segunda-feira já desesperançosa, em meio à pandemia. Tornando-a profundamente mais triste. Mas deixa uma mensagem ligeira. De acordar pra vida, pra arte , pra poesia, pra música, pra quem a gente preza e ama. E cuidar dos nossos artistas. Ouça Moraes e veja o que ele já fez com as nossas vidas. Onde nos levou a passear, a brincar, a pular. Numa luta constante e dura que é sobreviver de arte no Brasil. Uma corda bamba que requer uma disciplina inimaginável e coragem para se manter ali, forte e vibrante. Moraes conseguiu (gravou mais de 40 álbuns!): é um herói brasileiro. Invencível, inesquecível e grandioso. Só temos a agradecer, preservando sua memória, reverenciando seu legado, voando sempre com ele. O triunfo, e a glória, é ver nossos filhos, seus netos, cantando apaixonados as suas canções.