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Daniela Alvarenga

Por Daniela Alvarenga, médica, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Piebaldismo: os cabelos bicolores e super fashion da Cruella

Condição genética rara que provoca déficit de produção de melanina pode ser a causa de mechas brancas e manchas na pele

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Atualizado em 28 Maio 2021, 15h43 - Publicado em 28 Maio 2021, 15h03
Emma Stone com figurinho preto e branco da vilã Cruella
Muito cruel: Emma Stone interpreta a vilã em live-action da Disney (Laurie Sparham/Disney/Divulgação)
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Com os cabelos bicolores, Emma Stone está em todos os cinemas a partir de ontem com o aguardado filme “Cruella”. Criada nos anos 1950 pela escritora inglesa Dodie Smith, a designer de moda que rapta filhotes de dálmatas para fazer casacos de pele foi uma das primeiras personagens do audiovisual a associar cabelos brancos ao universo fashion – muito antes da editora Miranda Priestly se tornar ícone com “O Diabo veste Prada”. No cinema, a vilã mais elegante dos filmes infantis foi interpretada por Glenn Close nos anos 90 no auge da fama e agora, por Emma Stone, outra musa de Hollywood.

Os fios brancos da Cruella surgem agora em um contexto diferente. Hoje uma mulher jovem e adulta ter cabelos brancos já não é algo tão inusitado – que bom! Com a pandemia, cresceu muito o número de mulheres que experimentaram pela primeira vez se deixar ficar grisalhas, independentemente da idade. E ao se ver pela primeira vez com os fios brancos, muitas se aceitaram, se acharam lindas e se libertaram da agenda quinzenal de coloração. Acredito ser um caminho sem volta que permite à todas nós a liberdade de pintar, se quiser, e de ser grisalha, se assim preferir.

Mas no caso da Cruella, quem vê o visual peculiar da lendária personagem pode achar que é apenas estilo. A coloração preta e branca, uma das principais características físicas da vilã da Disney, não seria apenas uma referência aos dálmatas ou fruto ou fruto da imaginação de sua criadora, a inglesa Dodie Smith. Mechas largas brancas podem ser sintoma de uma condição genética chamada de piebaldismo, que pouca gente ouviu falar.

Este nome vem da união do nome de duas aves comuns na América do Norte que têm uma parte da pelagem branca, e outra preta. São as magpie (pegas) e as bald eagle (águias-de-cabeça-branca). Os portadores de piebaldismo têm, desde que nasceram, um número deficitário de melanócitos, que são as células que produzem melanina, responsável pela pigmentação. Esta característica pode propiciar tanto manchas brancas na pele como fios brancos nos cabelos, cílios ou sobrancelhas. Na maioria dos casos, os fios brancos aparecem na parte frontal da cabeça. O diagnóstico pode ser feito já bem cedo, na infância ou ainda bebê, por um dermatologista por ser uma condição genética que se apresenta já nos primeiros anos de vida.

Diferente do vitiligo, o piebaldismo está presente desde o nascimento e é estável ao longo dos anos. Há, inclusive, médicos que confundem as duas doenças porque as manchas na pele, quando ocorrem, são bem semelhantes. Um dos pontos importantes para diferenciá-las é quando as áreas sem pigmentação surgiram e se elas são estáveis ou não. O vitiligo não surge ao nascer, não tem uma causa única específica e costuma piorar com o tempo. Os tratamentos são diferentes e, portanto, o diagnóstico incorreto pode impactar muito na vida do paciente, especialmente na parte emocional, já que ocorre frustração com a falta de resultados.

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Estudos apontam que há 50% de chances de os filhos de pais com este distúrbio raro nascerem com a mesma condição genética. O tratamento nem sempre é satisfatório e o médico deve alinhar as expectativas do paciente. Porém, existem opções que podem, sim, dar resultado, e por isso, se o incômodo emocional e estético for significativo, deve-se tentar. Entre os recursos para tratar as manchas na pele estão a dermoabrasão de áreas de despigmentação seguida de aplicação de suspensões celulares enriquecidas de melanócitos, a terapia com luz ultravioleta e também o transplante de melanócitos.

Nos últimos anos portadores da síndrome têm feito campanhas nas redes sociais pela autoaceitação, postando fotos que valorizam seus cabelos bicolores. Perfis no Instagram como a da publicitária mineira Talyta Youssef, que tem 25 mil seguidores, e de sua filha Mayah (“que tem o nariz do papai e a mechinha da mamãe”), acabam tendo enorme impacto também no combate ao preconceito. Porque ser diferente também é lindo! 

 

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