Pele Negra: Dermatologista Katleen Conceição dá dicas de beleza
Daniela Alvarenga abre espaço em sua coluna para uma das grandes referências em pele negra do país
Depois de 100 anos, a Band-Aid, em apoio aos protestos antirrascistas nos Estados Unidos, anunciou esta semana que vai lançar uma gama de diferentes tons de pele negra para abraçar a diversidade na beleza. A marca demorou um século para perceber as múltiplas nuances da pele e desenvolver algo exclusivo, o que a dermatologista Katleen Conceição, membro da Skin of Color Society, já pratica há muito tempo aqui no Rio de Janeiro.
Conheci a médica quando eu era pós-graduanda no Instituto de Dermatologia da Santa Casa de Misericórdia e ela, estagiária. Gaúcha, filha de um dermatologista, ela se especializou em dermatologia, medicina estética e nos cuidados com a pele negra depois de um curso nos Estados Unidos. No início da carreira, quando era chefe do Ambulatório de Peeling da Medicina Estética SBME, ela começou a receber muitos pacientes negros encaminhados por outros médicos. “Eles diziam que eu deveria saber tratar a pele negra por eu ser negra. Foi quando a ficha caiu. Como é que eu não reparei que eu não estudava isso na universidade? Que eu não me via em livros de dermatologia, especialmente os brasileiros, que trazem em sua maioria exemplos de pessoas que são brancas? E como eu nunca questionei minha etnia nessas patologias?”, lembra.
Nesta época, Katleen buscou formação específica num Congresso Americano de Dermatologia. Quando todos os seus colegas foram estudar procedimentos estéticos como toxina botulínica e preenchimento, sempre em alta, a dermatologista procurou os muitos médicos negros americanos presentes e perguntou se eles faziam estudo em pele negra. Ela se surpreendeu quando eles lhe perguntaram se no Brasil não se estudava pele negra. Foi quando ela respondeu que nunca havia tido uma aula específica do tema no Brasil e se deu conta de que não existiam aqui médicos especializados como eles. “Eles me chamaram para assistir a uma aula de oito horas de estudos em pele negra para que eu começasse a estudar isso no Brasil”, conta. Isso foi há quase duas décadas.
Embora qualquer médico dermatologista esteja apto a cuidar de todos os tipos de pele, Katleen decidiu se especializar. De lá para cá, ela se tornou uma das maiores referências no assunto no país. . Hoje é chefe do Ambulatório de Dermatologia para Pele Negra do Instituto Prof. R.D. Azulay, da Santa Casa de Misericórdia, e chefe do Setor de Dermatologia para Pele Negra do Grupo Paula Bellotti. Entre seus pacientes, estão muitos artistas, como Taís Araújo, Hugo Gloss, Lázaro Ramos, Preta Gil, Izabel Filardes e Cris Vianna, entre tantos outros.
Estes pacientes trouxeram notoriedade para o seu trabalho, ela reconhece. Somado a isso, está sua capacidade de se comunicar nas redes sociais – o que lhe trouxe visibilidade e também críticas. No Instagram, Katleen tem mais de 200 mil seguidores. “Usei a rede social para mostrar quem eu sou. Gosto de levar a vida de forma leve. Mostrar a minha rotina. Eu fui muito criticada por outros colegas. Cheguei a deixar de dar aula nos congressos por um tempo porque me chamavam de dermato blogueira. Chegaram a me denunciar na época, e eu tive que me explicar, a minha visibilidade acaba incomodando as pessoas. Hoje esta visão das redes sociais mudou, e tem muitos médicos que fazem um perfil parecido com o que eu já faço há muito tempo”, conta.
Convidei a Katleen para falar de sua trajetória tão bacana e autêntica. Ceder espaço. Histórias de pessoas que fazem a diferença na vida de outras pessoas importam! A dermatologista lista aqui cinco dicas de cuidados para pele negra:
1. Filtro Solar – A pele negra tem uma grande quantidade de melanina. Seu fator de proteção natural é de 13.4, comparado a 3 da pele branca. Mesmo assim é muito importante o uso da proteção solar porque a pele negra mancha com facilidade exatamente pelo mesmo motivo: a quantidade maior de melanina. Mancha com facilidade com peeling, laser, limpeza de pele, picada de mosquito. Por isso precisa usar o filtro solar como prevenção das manchas, do envelhecimento e do câncer de pele. Dê preferencia ao filtro com cor para aumentar a proteção à luz visível, que causa hiperpigmentação principalmente na pele negra.
2. Laser só com dermatologista – A pele negra tem tendência a manchar, a ter cicatrizes hipertróficas, queloide e ter manchas brancas provocadas por erros técnicos. Por isso, é fundamental que o paciente faça laser sempre com um médico dermatologista.
3. Limpeza de Pele – Fazer limpeza de pele ao menos uma vez por mês para prevenção da evolução das espinhas. A pele negra é mais oleosa e propensa a ter mais cravos e espinhas. E na pele negra, a espinha normalmente não evolui para cicatriz, mas sim para hiperpigmentação.
4. Hidratação Corporal – A pele do corpo na pele negra é mais ressecada porque há uma perda de água transepidérmica maior do que na pele branca. O ideal é não tomar banho muito quente, utilizar sabonetes em forma de líquidos ou de óleos e usar hidratantes espessos à base de macadâmia e óleo de algodão para reter a água.
5. Cabelos – Hidratação capilar com óleo de coco uma vez na semana, porque os fios étnicos são mais frágeis por ter menos quantidade de água, menos fibra elástica, menos ceramidas e cutículas na fibra.